domingo, 20 de novembro de 2011

EM MEMÓRIA DE ZUMBI E DOS QUILOMBOS


No dia 20 de novembro de 1695 foi assassinado Zumbi, herói da resistência negra e último líder do Quilombo dos Palmares. As violentas e sucessivas ações do império português para eliminar as comunidades autônomas negros/as que fugiam da praga da escravidão se estenderam por mais de 60 anos, tal a força da resistência do povo negro.
A sede de liberdade e dignidade é o segredo que explica tão vigorosa e prolongada resistência. À frente deste teimosa luta pela autonomia e pela liberdade esteve o negro Zumbi, líder e rei, cuja relevância pode ser comparada à de Spartacus, também ele líder de escravos nos tempos do império romano.
Neste dia de memória reverente da figura deste patriarca brasileiro, dia também dedicado ao resgate da consciência negra, partilho um belo texto do grande Eduardo Galeano, no qual faz reverente memória da resistência dos negros na América Latina.
Acontece no começo do século XVI. Alguns dias depois do Natal, os escravos negros se rebelam num moinho de açúcar de São Domingos, que é propriedade do filho de Cristôvão Colombo.
Depois da vitória da ‘divina providncia’ e do apóstolo São Tiago, os camihos se povoam de negros enforcados.
Os escravos que fracassaram na primeira tentativa de fuga sofrem castigo de mutilação: corte de uma orelha, ou do tendão, ou de um pé, ou da mão. Em vão o rei da Espanha proíbe cortar ‘as partes que não podem ser mencionadas’.
Nos reincidentes cortam o que lhes sobra, e eles acabam na forca, no fogo ou no machado Suas cabeças são exibidas, cravadas em estacas, nas praças e povoados.
Mas em toda a América se multiplicam os baluartes dos livres, metidos no fundo da selva ou nos desfiladeiros das montanhas, rodeados de areias movediças que simulam ser terreno firme e de falsos caminhos semeados de estacas de ponta.
Até ali chegam os vindos das muitas pátrias da Africa, que se fizeram compatriotas de tanto partilhar humilhações.
Acontece no século XVII.  Feito cogumelos brotam os refúgios dos escravos fugidos. No Brasil são chamados de Quilombos. É uma palavra africana que significa ‘comunidade’, embora o racismo a traduza como esbórnia, briga ou casa de putas.
No Quilombo de Palmares, os que haviam sido escravos vivem livres de seus amos e também livres da tirania do açúcar, que não deixa nada crescer. Eles cultivam de tudo, e comem de tudo. O cardápio dos seus amos vem dos barcos. O deles vem da terra. Suas forjas, feitas no estilo africano, lhes dão enxadas, picaretas e pás para trabalhar a terra, e facas, machados e lanças para defendê-la.
(Eduardo Galeano, Espelhos, uma história quase universal.
 L&PM Editores, Porto Alegre, 2008, p. 151-152).

Nenhum comentário: