terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Ação de graças pelos 200 anos de independência da América Latina

A fila para ingressar na Basilica (90 minutos antes da missa)

Participei ontem à tarde (12.12.2011) da celebração comemorativa do dia Nossa Senhora de Guadalupe, em ação de graças pelos 200 anos do ciclo de independências dos países da América Latina. A missa foi celebrada na Basílica São Pedro e presidida por Bento XVI.
Inicialmente a celebração era prevista para a Capela Sistina, mas a procura foi tanta que Comissão para a América Latina (CAL), promotora do evento, teve que mudar para a Basílica. Apesar de ser segunda-feira, dia de trabalho, a Basílica estava cheia. Além de uma multidão de imigrantes e de religiosas/os latino-americanos, estavam presentes vários bispos e cardeais da América Latina e muita gente das embaixadas.
Entrada do Papa Bento XVI na Basilica S. Pedro
Não obstante um certo paradoxo, achei a celebração interessante. Pareceu-me paradoxal por dois motivos: primeiro porque, 200 anos atrás, a posição da Santa Sé em relação às independências das então colônias portuguesa e espanholas não foi das melhores; segundo, porque, apesar de 90% da assembléia litúrgica de ontem falar espanhol e português, as partes fixas da missa foram rezadas em latim. Bento XVI até que se superou, aceitando as orações e várias canções em espanhol e fazendo a homilia toda em espanhol (com um parágrafo em português). Mas não há como não sentir um certo desconforto.
Um espetáculo digno de nota – tanto do ponto de vista artístico como cultural – foram várias canções da “missa criolla” (do compositor argentino Ariel Ramírez, gravada em 1964), acompanhado pelo som de tambores e charangos, reboando basílica a fora e contracenando com o clássico gregoriano do coral oficial da Basílica. É significativo que os ritmos e melodias crioulas tenham ao menos uma hora de cidadania na sede de uma Igreja que se apresenta como católica (universal).
Antes da celebração – coisa extraordinária em Roma! – foram acolhidas as bandeiras de todos os países da América Latina, portadas em processão. E foi feita uma breve memória do significado de Nossa Senhora de Guadalupe e da relevância da Igreja católica para o continente, através da leitura de alguns textos do episcopado latino-americano e pontifício.
Preparando-nos para a celebração rezamos também uma bela oração a Nossa Senhora de Guadalupe. Nela recordávamos suas palavras ao desprezado e apavorado índio Juan Diego: “Não estou eu aqui e não sou tua mãe? Não estás sob a sombra do meu manto? Não estás por ventura no meu colo?” E colocávamos nas mãos da Virgem Morena a história dos nossos povos: “A ti, missionária celeste do novo mundo, expressão do rosto mestiço da América Latina e da sua luminosa identidade, unidade e originalidade, confiamos o destino dos nossos povos.”
Vista parcial da assembléia no fim da missa
Não posso deixar de destacar também a teologia subjacente à oração dos fiéis. A invocação se dirigia ao “Deus da história”, ao “Deus dos simples e humildes” e ao “Deus de comunhão”, lembrando que ele escolheu um índio desprezado e explorado para recordar ao novo mundo a presença de Maria. Nas orações pedimos que esse Deus livre nossos povos de todo tipo de “opressão e escravidão”, pedimos pelos/as jovens, pelos/as que sofrem e por aqueles/as que se dedicam à evangelização. Isso não é pouco num ambiente marcado pela abstração e pela vontade de poder.
A celebração foi concluída com uma bela canção à Virgem de Guadalupe, na qual se diz que Maria tem “olhos negros e pele morena”, é “protetora dos pobres” e “crisol de todas as raças”, e que “está chorando o índio, a roseira floresceu; Deus lhe deu uma Mãe que traz na pele a mesma cor...”
Itacir msf

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