sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

DOM ANSELMO MÜLLER MSF: MEMÓRIA DOS SEUS DIFÍCEIS ÚLTIMOS DIAS (1)

Dom Anselmo Muller msf

Estamos celebrando o centenário do primeiro trabalho missionário da Congregação e, consequentemente, da chegada dos MSF ao Brasil. É neste horizonte que proponho uma breve memória sobre os últimos dias de vida do nosso coirmão Dom Anselmo Müller. Sem querer transformá-lo em vítima ou herói, penso que aquilo que lhe aconteceu no final da vida pode nos levar a refletir sobre nossos vínculos congregacionais e sobre as mazelas que às vezes marcam a vida eclesiástica. O Pe. Matias, seu grande companheiro e amigo, assim como o Pe. Arnaldo Sulzbach, o Pe. Julio César e os coirmãos do Lar de Nazaré, têm muito mais impressões e informações do que disponho. Oxalá possam enriquecer e corrigir o pouco que partilho nestas linhas.
A difícil transição
Dom Anselmo foi ordenado ao episcopado aos 24 de junho de 1984, com 52 anos de idade. Assumiu oficialmente a diocese de Januária em julho do mesmo ano. Até a aceitação da sua renúncia e a nomeação do substituto Dom José Moreira, em novembro de 2008, foram 25 anos de incontestável dedicação, com seu jeito próprio, sua generosidade e seus limites.
Infelizmente, criou-se um doloroso distanciamento entre ele e o novo bispo, com incompreensões, tensões e acusações recíprocas. Pouco tempo depois de ter passado a animação da Diocese ao novo Bispo, no mês de julho de 2009, Dom Anselmo manifestava entre lágrimas a percepção de que a Congregação havia sido injustiçada. Ao mesmo tempo, assinalava a indiferença com que o novo bispo o tratava.
Dom José Moreira
O Governo Geral agiu com o intuito de garantir, junto ao novo bispo, o respeito à Província do Brasil Oriental e aos coirmãos, inclusive a Dom Anselmo. Depois de um encontro com Dom José Moreira e de ter seus pedidos desconsiderados, o Governo Geral manifestou por escrito seu desapontamento ao próprio Dom José, assim como ao Núncio Apostólico no Brasil, à Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e à Congregação para os Bispos. Mas, até a data de hoje, não recebemos nenhuma resposta!
A volta ao Sul
Foi neste contexto que, como sabemos, Dom Anselmo deicidiu deixar, não sem pesar, a paróquia de Chapada Gaúcha, que escolhera como residência depois de renunciar à animação da Diocese. A partir de então, dispensando a oferta de residir no Lar de Nazaré ou na Paróquia de São Carlos, optou por residir na casa da sua irmã, em Santa Cruz do Sul.
Poucas semanas depois desta mudança (no dia 22 de janeiro de 2010), Dom Anselmo escrevia: “Estou aos poucos me acostumando com a nova vida e fazendo uma reforma na saúde, começando pela boca, pois meus dentes estão estragados. Farei implantes. Já fiz os exames de sangue e do coração, e está tudo ok.  Vão ser 14 dentes implantados, o que custará o equivalente a um fusca novo...” E suas parcas reservas financeiras começavam a se evaporar...
Alguns meses depois (no dia 10 de junho), o coirmão se mostrava bem à vontade e feliz por fazer aquela que seria a última viagem à Alemanha. “Acabei de ler o sermão para o domingo, pois no próximo domingo viajo para a Alemanha. Ficarei por lá até o dia 14 de julho. Ficarei em Betzdorf, mas no dia 15 a 20 esterei em Altenhunden, com os padres e no colégio. Eles já fizeram uma grande programação, pois são 25 anos da fundação do projeto SERVIR... Também irei a Biesdorf visitar o Pe. Pedro Maurer e a comunidade, assim como as irmãs do falecido Pe. Geraldo (Nalbach), nossas grandes benfeitoras.”
Januaria, às margens do Rio S. Francisco
Naquela oportunidade, Dom Anselmo registrava também sua satisfação com o trabalho que ainda podia desenvolver e com a nomeação do novo bispo de Santa Cruz do Sul: “No sábado (antes de viajar) ainda tenho duas crismas, em Nova Bréscia, pois Dom Sinésio está em uma reunião do Regional (da CNBB) e me pediu esta ajuda. Dia 18 de julho será a posse do novo Bispo, Dom Canísio Klaus, grande amigo, natural de Arroio do Meio. Ele trabalhou aqui em Santa Cruz, e atualmente é bispo de Diamantino (MT).”
Na mesma correspondência, lançando mão de uma fina ironia, Dom Anselmo deixava transparecer seu ressentimento (que expressara com profunda dor noutras oportunidades) com o tratamento dispensado por seu sucessor: “Os bispos do (regional) Leste II (da CNBB) estão em visita ad limina. Deixe o o Coliseu fechado!”

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