quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

João da Cruz, poeta e místico

Hoje fazemos memória de João da Cruz. João nasceu em 1542, em Fontiveros, Espanha. Seu pai pertencia a uma família economicamente bem situada da cidade de Toledo e, por ter se casado com uma jovem de classe “inferior”, foi deserdado por seus pais e teve que trabalhar como tecelão.
Entre 1559 a 1563 João estudou Humanidades com os Jesuítas. Em 1563 ngressou na Ordem do Carmo, recebendo o nome de Frei João de São Matias. Tendo concluído seus estudos teológicos, foi ordenado sacerdote e celebrou sua Primeira Missa em 1567.
Decepcionado com o relaxamento da vida carmelitana, Frei João tentou passar para a Ordem dos Cartuxos mas, em Setembro de 1567, encontrou-se com Santa Teresa de Ávila. Ela lhe falou sobre o projeto de estender a Reforma da Ordem Carmelita também ao ramo masculino. Frei João aceitou o desafio e mudou o nome para João da Cruz. O projeto de voltar à mística religiosidade do deserto custou ao jovem Frei maus tratos físicos e difamações. Por causa disso, em 1577, esteve preso por oito meses, no cárcere de Toledo.
Depois de um itinirário de vida marcado pela pobreza e pela humilhação, durante o qual reconhece ter-se sentido abandonado por Deus mas também experimentado a chama viva de um amor sedutor e regenerador, morreu na noite de 13 para 14 de dezembro de 1591. Abaixo seguem três poemas que podem servir de aperitivo para saborear sua imensa e profunda obra mistica e poética.

A encarnação
Já que o tempo era chegado em que fazer-se devia
o resgate da esposa que em duro jugo servia, (...)
Nos amores perfeitos esta lei se requeria,
que se torne semelhante o amante a quem queria,
porque a maior semelhança mais deleite caberia;
o qual, por certo, em tua esposa grandemente cresceria
se te visse semelhante na carne que possuia.
Irei buscar minha esposa e sobre mim tomaria
suas fadigas e dores em que tanto padecia;
e para que tenha vida, eu por ela morreria,
e tirando-a das profundas, a ti a devolveria.

Cantico espiritual
Quando tu me fitavas, Teus olhos sua graça me infundiam;
E assim me sobreamavas e nisso mereciam
Meus olhos adorar o que em ti viam.
Não queiras desprezar-me, porque,
se cor trigueira em mim achaste,
já podes ver-me agora, pois, desde que me olhaste,
a graça e a formosura em mim deixaste.


Chama viva de amor
Oh, chama viva de amor  que ternamente feres
de minha alma no mais profundo centro!
Pois nao és mais esquiva,  acaba já, se queres.
Ah, rompe a tela deste doce encontro! (...)
Oh, quão manso e amoroso,  despertas em meu seio,
onde tu só secretamente moras:
nesse aspirar gostoso, de bens e glória cheio,
quão delicadamente me enamoras!





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