quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

A Sagrada Família de Nazaré segundo os Evangelhos (1)

Lucas 1,26-38: Uma virgem prometida em casamento...

Aproveitando o clima e o espírito natalinos, ofereço uma série de meditações sobre a Sagrada Família de Nazaré nos Evangelhos. Pois não é verdade que a Sagrada Família viveu de forma profunda e especial tudo o que o Natal de Jesus significa? Então, acompanhemos e meditemos serena e atentamente sobre cada um dos acontecimentos que rodearam este mistério. Os textos fazem parte do livro Um tesouro escondido: elementos para uma espiritualidade inspirada na Sagrada Família de Nazaré, preparado por mim e publicado pela Editora IFIBE (Passo Fundo, 2009).

O enquadramento maior deste texto é a apresentação da pessoa e da missão de Jesus (capítulos 1 a 4) , do seu nascimento e dos primeiros anos de vida (capítulos 1 e 2). Lucas informa algo sobre o lugar onde Maria vivia: Nazaré, na Galiléia. Sabemos que, para o Antigo Testamentpo, Nazaré não tinha nenhum significado. Para a Jerusalém do Novo Testamento, era um povoado desprezível. Os habitantes daquela região alimentavam uma espécie de desejo e busca de independência, o que provacava um tratamento zombeteiro por parte dos judeus estritos a Nazaré. Ali viveram Maria, Jesus e José, a família que assumiu o nome da cidade como seu sobre­nome.
Sobre as relações familiares, Lucas informa que Maria era "uma virgem prometida em casamento a um homem chamado José, que era descendente de Davi" (v. 27); que Maria seria mãe sem ter relação com homem algum (v. 34­35); que o filho ocuparia o trono de Davi e seria chamado Filho de Deus (v.32.35); e que Maria tinha uma irmã chamada pelo mesmo nome: a esposa de Cléofas (cf. Jo 19,25).
Lucas caracteriza Maria usando a expressão grega parthenos, que traduz a idéia de donzela ou virgem (v. 26). Inicialmente José não aparece em cena e o filho é apenas objeto de promessa. Num horizonte mais amplo, temos informações de que Maria era parente de Isabel (v. 36) e que José era da casa/família de Davi (v. 27). Pelas informações de que dispomos, parece que José não pertencia a um setor privilegiado, porquanto era trabalhador manual. Assim, a família de Nazaré que começa a aparecer em Lucas é uma família de aldeões, com poucos recursos econômicos.
Surpreendentemente, o anjo saúda Maria – uma jovem normal, como as outras – e conversa com ela, uma jovem desconhecida. Revelação de Deus a mulheres não é coisa muito comum no judaísmo! O mensageiro de Deus saúda Maria e declara que ela encontrou graça diante de Deus e que seria mãe. A primeira reação de Maria foi marcada pela perplexidade e pelo medo. Sua perplexidade se justifica pelo anúncio do nascimento de um filho antes de coabitar com José. O mensageiro disse que o Espírito Santo agiria sobre ela e que seu filho teria a força do Altíssimo e seria chamado Filho de Deus.
Não é pelo fato de seu nascimento ser extraordinário que Jesus seria Filho de Deus, mas é por ser Filho de Deus que seu nascimento deveria ser extraordinário. O nome do filho será Jesus (o Senhor é salvação), ou seja: ele realizará as esperanças messiânicas do povo de Israel. Ele será filho de Davi e Filho de Deus: realizará a esperança popular de um Messias davídico. Ele reinará sobre a "casa/família" de Jacó (v. 33).
Que características têm a Sagrada Família neste texto? Ela participa do anonimato e do menosprezo das famílias que vivem nos lugares mais remotos. Está ligada às esperanças messiânicas do povo. É cheia de graça e de encanto e agrada a Deus. Constitui-se a partir de um chamado e de uma missão recebidos de Deus. Está a serviço de Deus e da realização dos seus projetos. Como Jesus que, mais tarde, se revelará Messias-Servidor de Javé, Maria também é apresentada como Serva de Deus, inteiramente disponível para fazer sua vontade.

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