quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

A Sagrada Família de Nazaré segundo os Evangelhos (6)

Lucas 2,21-24: Deram­lhe o nome de Jesus...

O nascimento de Jesus aconteceu no anonimato, talvez no abandono e na marginalidade. Só os pastores testemunharam a manjedoura e as faixas. No mesmo ambiente privado e discreto Jesus foi circuncidado, uma vez que não é provável que José e Maria tenham voltado a Nazaré (mais ou menos 120 km) para retornar a Jerusalém uma semana depois a fim de apresentar o filho no templo, apesar de que, ao que parece, nenhuma lei do AT e nenhum costume rabínico prescreviam a apresentação do primogênito no templo. Ele recebeu o nome de Jesus, confirmando sua missão de mostrar que Deus Salva o povo dos seus pecados, conforme fora anunciado pelo anjo.
A narração se desenvolve mantendo oculto o sujeito das ações: deram­lhe o nome; levaram o menino. Podemos reter com segurança que o pronome ‘eles’ está aplicado a Maria e José. Segundo Lucas, Jesus é um filho normal de uma família judaica normal; nele Deus se fez um homem como qualquer outro; é templo (‘santo’), sacerdote e vítima oferecida a Deus por Maria e José. Parece que Jesus, sendo da tribo levita por parte de Maria, não devia ser resgatado mas oferecido ao serviço de Deus, como Samuel. Os primogênitos de cada família eram legalmente obrigados a uma certa consagração a Deus, como memória da salvação dos primogênitos hebreus no Egito e, por isso, precisavam ser resgatados mediante uma oferta pré­estabelecida. De fato, Lucas não menciona nenhum resgate e fala somente do sacrifício de purificação oferecido por um casal pobre, de acordo com as prescrições do Levítico.
A oferta apresentada por José e Maria é a que vem prescrita para a purificação de uma mãe pobre, o que conota o precário estado econômico. Ao determinar a oferta de purificação da mulher após o parto, o livro do Levítico assenta: "Se ela (a mãe) não tem meios para comprar um cordeiro, pegue duas rolas ou dois pombinhos: um para o holocausto e outro para o sacrifício pelo pecado" (12,8). Como sabemos que a Lei não exigia que o recém­nascido fosse apresentado no templo de Jerusalém, parece que Lucas, que confere uma centralidade muito significativa a Jerusalém, quer enfatizar que Jesus é Messias e Salvador de todos os povos.
Aqui temos uma família que reconhece e acolhe a vontade de Deus para seus membros, dando ao filho um nome que expressa sua missão. Uma família pobre e piedosa, que assume com serenidade os ritos que expressam sua fé. Uma família que contribui para que o Salvador seja apresentado a todos os povos. Uma família que sustenta sua condição e identidade na relação de pertença com a grande família do povo de Deus.

Nenhum comentário: