domingo, 29 de janeiro de 2012

A questão dos evangelhos da infância de Jesus

Embora tenhamos algumas referências à família de Jesus, dispersas em várias partes dos evangelhos, como todos sabem, as principais informações se encontram no início dos evangelhos de Mateus e Lucas, nos capítulos que se convencionou denominar ‘evangelhos da infância’ (Mt 1­-2; Lc 1­-2).
As primeiras comunidades cristãs estavam fascinadas pela realidade da vida, morte e ressurreição de Jesus, pelo novo modo de viver inaugurado por ele, e pelo desejo de compreendê­los mais e melhor. É desse fascínio pelo mistério da pessoa de Jesus Cristo que nascem as perguntas pela sua origem. Tais perguntas não são resultados de uma mera inquietação intelectual e supõem a meditação conscienciosa sobre o mistério da nova criação, inaugurada em Jesus Cristo. As narrações sobre a infância de Jesus respondem a esse desejo de um conhecimento mais íntimo e profundo de Jesus Cristo e à necessidade de proclamar a Boa Notícia.
A encarnação e a páscoa de Jesus Cristo são as chaves indispensáveis para compreender a família de Nazaré como manifestação da salvação operada por Deus, como expressão da auto­comunicação de Deus à humanidade e como resposta dos homens ao dom de Deus. Nesse sentido, os evangelhos da infância são uma releitura do único acontecimento salvífico que é Cristo na época em que viviam a segunda e a terceira geração de cristãos, quando estavam desaparecendo as testemunhas diretas. Daí a importância de cada gesto, símbolo e palavra.
Nos textos da infância de Jesus transparece uma situação concreta da Igreja: uma Igreja alegre e humilde que se expande no interior do helenismo (Lucas) e uma Igreja perseguida e angustiada em Israel (Mateus). Depois de terem optado por Jesus Cristo e considerando que o adulto sempre está em forma de embrião na criança, essas novas gerações de cristãos buscaram entre os familiares e conterrâneos algum aspecto que preconizasse já na infância sua sua personalidade posterior.
Os evangelhos da infância são escritos mais ou menos nos anos 70 dC, mas podem ter já existido antes no seio das comunidades cristãs de origem judaica. Nessa época, os elementos essenciais da vida de Jesus Cristo já estavam claros e assimilados pelas comunidades. Daí que os textos a que estamos nos referindo oferecem algumas pistas teológicas para descobrir o plano de Deus em realização na história, de um modo escondido e humilde.
Para Mateus, em Jesus Cristo, toda a história do povo de Deus adquire luz, sentido e realização; seu nascimento repercute entre os chefes políticos e religiosos da nação; Nazaré situa concretamente Jesus no marco geográfico e histórico de Israel e é o lugar da família, pedra de escândalo e de reconstrução.
Lucas tem uma sensibilidade aberta e missionária e, à luz de uma fé madura, mostra como o reino de Deus não fica preso nos limites familiares, regionais ou nacionais; destaca a repercussão da encarnação entre os pobres e israelitas piedosos.
Mateus e Lucas concordam em alguns pontos importantes: a pertença de Jesus à linhagem de Davi; que Jesus nasceu de uma virgem chamada Maria; que Maria estava noiva de José; que Maria se achou grávida antes do casamento; que Jesus foi concebido pela ação do Espírito Santo; que o nome de Jesus fora fixado antes do seu nascimento; que Jesus nasceu em Belém; que viveu com seus pais em Nazaré. Além disso, os quatro evangelistas concordam que o testemunho de João Batista e o encontro de Jesus com ele constituem o ponto de partida de sua ação pública.
Itacir Brassiani msf

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