sábado, 14 de janeiro de 2012

A Sagrada Família segundo os Evangelhos (10)

Lucas 4,14-30: “Este não é o filho de José?...”

Neste texto, Lucas apresenta o lançamento público da plataforma messiânica de Jesus. Isso aconteceu em Nazaré, "onde se havia criado" (v. 16). Ele já tinha feito alguma fama (v. 14) e foi à sinagoga, ao lugar da "família de fé", conforme era seu costume. A fama lhe facilitou o acesso à leitura, pois era costume convidar visitantes para recitar os textos sagrados (de pé) e para ensinar sobre eles (sentado).

Jesus recorreu a Isaías para explicitar sua missão: sob o impulso do Espírito de Javé, anunciar boas notícias aos pobres, proclamar a libertação aos presos, anunciar aos cegos a recuperação da vista, libertar os oprimidos e anunciar o ano da graça do Senhor. E disse que essa profecia não era para um tempo distante, mas estava se realizando em suas próprias ações.

A primeira reação foi de aprovação. Suas palavras pareciam cheias de encanto. Mas todos conheciam sua história e sabiam que ele era filho de José. Aos olhos de muitos, lá estava apenas o antigo carpinteiro da cidade, cujos familiares continuavam habitando em Nazaré. Era apenas um deles; vivera ali, crescera ali, e nada tinha de especial. Jesus havia deixado a cidade como carpinteiro e voltava como Messias! A perplexidade era amarga e hostil. Os que o conheciam não conseguiam compreender e justificar sua sabedoria.

Os conterrâneos pediram sinais de sua messianidade, mas Jesus apontou para uma missão universal, sem fronteiras. "Cura­te a ti mesmo" é um desafio tanto à comprovação de sua identidade messiânica como uma interpelação a fazer algo em benefício dos parentes. Parece que sua própria família, assim como os conterrâneos, perceberam que também poderiam se tornar famosos. Todos esperavam algum benefício com o sucesso do jovem pregador.

Então Jesus recorre a dois outros profetas (Elias e Eliseu) para argumentar que o verdadeiro profetismo não conhece fronteiras de sangue e de nacionalidade, age prioritariamente em favor dos excluídos e não dos familiares e compatriotas. As ações messiânicas são atos de compaixão, e não exibições ou promoção de privilégios. A reação da população foi uma tentativa de linchamento.

Neste texto, percebemos que a família dá a Jesus uma dimensão de normalidade, de pequenez, de rebaixamento. Ele é filho de José, e isso não parece digno aos seus compatriotas. A família de Nazaré é marcada pela condição dos desprezados, mas também pelos interesses mesquinhos e pelas contradições. Em Jesus, é marcada também pela abertura ilimitada às exigências do reino.

 Pe. Itacir Brassiani msf

Nenhum comentário: