terça-feira, 24 de janeiro de 2012

A Sagrada Família segundo os Evangelhos (12)

Marcos 6,1-6: Esse homem não é o carpinteiro, filho de Maria e irmão de Tiago?


O segundo texto de Marcos que se refere à família de Jesus se localiza, na perspectiva do conjunto literário, também no final da parte que explicita a "cegueira do mundo" (3,7-­6,7) e antes do início da "cegueira dos discípulos" (6,7-­8,26). Parece desempenhar a função de ponto de passagem e de articulação entre as duas seções.
Até esse momento Cafarnaum era o lugar privilegiado da ação messiânica de Jesus. É certo que ele havia percorrido a Galiléia ao menos três vezes e somente depois do episódio aqui narrado é que Jesus vai tomar distância da área de influência de Herodes Antipas. O evangelista registra que depois de uma missão do outro lado do mar "Jesus foi para Nazaré, sua terra, e seus discípulos o acompanharam" (v. 1). Parece que voltou para descansar e visitar seus familiares. No sábado foi à sinagoga e ensinava, e muitos ficavam admirados com sua sabedoria e com os milagres que realizava (v. 2).
A admiração foi progressivamente se transformando em escândalo, na medida em que as pessoas de Nazaré se davam conta da origem familiar e social de Jesus. "Esse não é o carpinteiro, filho de Maria e irmão de Tiago, de Joset, de Judas e de Simão? E suas irmãs não moram aqui conosco?" (v. 3) A pepuena população se escandaliza porque, dentro dos esquemas mentais introjetados pelos dominantes, não podem admitir que alguém como eles pudesse ter sabedoria superior à dass autoridades religiosas constituídas ou pudesse realizar ações que demonstravam a presença de Deus.
Isso pode indicar que os primeiros 30 anos que Jesus viveu em Nazaré foram bastante comuns e sem qualquer ação notável. Daí que sua repentina capacidade e força espiritual deixavam seus conhecidos confusos. O povo humilde do lugar achava impossível que sua cidade de nada fosse o lar do Messias. O povo conhecia bem o lugar, a família e o cotidiano de Jesus e, por medo de mudar as concepções, temia reconhecer nele o Messias. Sua cidade ficou meio admirada, meio ofendida, e essa irritação contra Jesus, que a desafiava a mudar de atitude, venceu a admiração, e o resultado foi o antagonismo a ele, e não a aceitação dele como Messias. O empecilho para a fé era a encarnação, um Deus feito homem e inserido no contexto social, econômico e cultural.
Para se defender e justificar Jesus recorreu a um provérbio popular que pode ser traduzido como ‘santo de casa não faz milagre’: “um profeta só não é estimado em sua própria pátria, entre seus parentes e em sua família” (v. 4). O que chama a atenção é que Jesus dá a entender que entre aqueles que se escandalizavam com ele estavam também seus parentes, sua família. Pode acontecer que, quando alguém julga conhecer fatos e aspectos relativos a pessoas que lhe são familiares, esse mesmo conhecimento venha a ser empecilho para conhecer realmente e com profundidade. A experiência cotidiana e não refletida pode sustentar preconceitos.
Para concluir, anotamos que, na perspectiva do texto em análise, por sua condição humilde e normal a família de Jesus lhe confere uma condição de desprezo ou pelo menos de menosprezo. Por outro lado, a própria família revela dificuldades de reconhecer na sua pessoa e ação a irrupção do Messias e dos tempos messiânicos.
Itacir Brassiani msf

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