domingo, 26 de fevereiro de 2012

A Sagrada Família segundo os Evangelhos (14)

A Sagrada Família no Evangelho segundo João

O Evangelho segundo João é uma espécie de meditação que procura desenvolver alguns aspectos catequéticos da fé da comunidade, em Jesus Cristo. A narração quer ajudar a alimentar a fé em Jesus Cristo, a fim de que as pessoas tenham vida em abundância. Segundo João, Jesus revela o amor de Deus pelo mundo e realiza a vontade do Pai doando a vida por aqueles que ama. E isso se mostra especialmente através dos sete sinais que visam despertar a fé, a adesão ao caminho de Jesus Cristo. E a meta do caminho é o amadurecimento no amor.
O quarto evangelho insiste que a revelação de Deus em Jesus traz ao mundo um julgamento. Diante de sua luz, a vida das pessoas se esclarece: as que vivem de acordo com sua vontade se aproximam; as que não a vivem se afastam e rejeitam Jesus Cristo. Ao amor manifestado pelo Pai em Jesus Cristo, que amou a humanidade até o fim, quem crê deve responder com o amor fraterno.
Do ponto de vista da estrutura literária, o Evangelho segundo João pode ser dividido em duas partes básicas: o sexto dia, ou a obra do Messias (que vai de 2,1 a 19,42); o primeiro dia da nova criação (20,1­31). Porém, podemos identificar unidades menores: prólogo, ou desígnio do criador (1,1­18); introdução, ou trajetória de João Batista a Jesus (1,19­-51); o Dia do Messias (2,1­-11,54); a nova comunidade humana (13,1-­17,26); a entrega, morte e sepultamento de Jesus (18,1­-19,42); a missão da comunidade de Jesus (21,1-­25).
Levando em consideração este esboço do projeto e da intenção teológica de São João, refletiremos brevemente sobre alguns pequenos textos de João onde há alguma referência à família de Nazaré. Além de alguns versículos mais isolados, deter­me­hei nas perícopes das bodas de Caná (Jo 2,1-­12), das tensões com a família (Jo 7,1­-13) e da crucifixão (Jo 19,25­-27).
Assim, antes de entrarmos propriamente na análise da narrativa, penso que é importante tecer algumas considerações sobre a identificação de Jesus apresentada pelo discípulo Filipe em Jo 1,45: "Encontramos aquele de quem Moisés escreveu na Lei e também os profetas: É Jesus de Nazaré, o filho de José." Filipe identifica e apresenta Jesus basicamente pela relação familiar e pelo lugar de origem. Mas dizendo filho ‘de’ José Filipe parece se referir à tribo, no contexto de Ez 37,15­28: o futuro rei, identificado com Davi, será o único libertador e pastor de todas as tribos.
Além disso, Jesus é apresentado como aquele que é descrito pelos profetas, e sua referência a Nazaré é especial e diz bem mais que sua origem geográfica (cf. Jo 18,5.7; 19,19). A identificação ‘o Nazareno’ resumirá mais tarde suas pretensões messiânicas e, por isso, as razões da prisão. Como já vimos antes, a palavra Nazaré carrega em si o sentido de rebento ou broto de Davi. Porém, a conexão entre Messias e Nazaré parece completamente inaceitável para os contemporâneos de Jesus. Não se poderia esperar um Messias procedente da Galiléia, a região periférica, a população mestiça.
Pe. Itacir Brassiani msf

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