domingo, 26 de fevereiro de 2012

A Sagrada Família segundo os Evangelhos (15)

João 2,1-12: Jesus desceu com sua Mãe, seus irmãos e seus discípulos...


Comecemos situando o relato no contexto literário. Trata­-se do episódio que abre a grande seção que explicita o caráter da obra do Messias, o grande sexto dia da criação. Em relação ao contexto mais imediato, está situado no desenvolvimento do tema do ‘dia’ do Messias e no ciclo das instituições. É o primeiro ‘sinal’ que Jesus realiza, e o autor quer mostrar que Jesus substitui e supera a antiga Aliança.  Logicamente, este sinal está a serviço da revelação da obra messiânica e nesta perspectiva deve ser entendida. Ù
Voltemos nossa atenção ao relato conhecido como casamento em Caná. Comecemos sublinhando um detalhe: a ‘mãe de Jesus’ (v. 1) não tem nome próprio. Além disso, ela não chama Jesus de ‘filho’ e Jesus não a chama de ‘mãe’. Tudo indica que neste episódio, como em todo o evangelho de João, a mãe de Jesus representa o que há de melhor no povo antiga aliança. A relação de Jesus com ela parece ser de origem, mas não de dependência ou de intimidade. Como figura feminina, a mãe aponta para a origem do Messias, o rebento que nasce do verdadeiro Israel e em quem se cumprirão as promessas.
Para se referir à mãe, Jesus usa um apelativo surpreendente: mulher. ‘Mulher’ é uma expressão que se aplica à esposa ou a uma senhora casada, mas nunca à própria mãe, mas Jesus recorre a esta expressãp com frequência e em situações diversas (cf. Jo 4,21; 19,26; 20,15). Ele está frente a um grupo de discípulos e pertence à Nova Aliança, enquanto sua mãe e sua família pertencem à Antiga Aliança.
A narração quer passar a ideia de que a mãe percebe o esgotamento da Antiga Aliança (falta vinho na hora mais importante) e reconhece em Jesus o Messias, e isso reacende a esperança. Ela não conhece os planos de Jesus, mas afitma que é preciso aceitar o seu programa sem condições e seguir suas indicações. A obra do Messias não se baseia nas antigas instituições, mas num caminho totalmente novo e inédito, e é esse novo caminho que proporciona vida abundante e alegria sem fim.
João termina o relato observando que este foi o "começo dos sinais" e que "seus discípulos creram nele" (v. 11). E registra, como arremate: "Depois disso, Jesus desceu para Cafarnaum com sua mãe, seus irmãos e seus discípulos" (v. 12). É o único episódio em que a mãe, os parentes e os discípulos de Jesus aparecem juntos.
Representando o Israel aberto e fiel, origem de Jesus, a mãe se mostra aberta à sua mensagem e finalmente é incorporada ao povo messiânico. Sua família (seus irmãos), entretanto, não apreciam sua ação e lhe é hostil, pois está apegada ao sistema e a ele acomodada. Por sua vez, os discípulos aderem a Jesus e se mostram dispostos a segui-­lo. Somente eles acompanham Jesus no seu caminho. A mãe e os irmãos parecem pertencer a um passado que, diante da pessoa de Jesus, tomará atitudes contrárias; enquanto que os discípulos, pertencem ao futuro.
Como breve conclusão, podemos dizer que encontramos aqui uma família ligada ao judaísmo e com dificuldades de entender a novidade messiânica de Jesus. Maria (e talvez José) se abre progressivamente ao mistério do reino. A nova família se mostra na comunidade dos discípulos que são convidados com Jesus para as bodas e doravante o acompanham.
Pe. Itacir Brassiani msf

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