terça-feira, 6 de março de 2012

Em memória delas

Nestes dias em que temos a oportunidade e a obrigação de fazer memória do significado histórico, antropológico e social da mulher na sociedade e na Igreja, assim como da discriminação e da violência de que foram e continuam sendo vítimas, recolho e publico breves biografias de mulheres que, entre tantas outras igualmente anônimas, merecem ser lembradas. Todos estes recortes biográficos estão no livro Espelhos, de Eduardo Galeano (L&PM Editores, Porto Alegre, 2008), que recomendo vivamente, tanto pelo estilo como pelo conteúdo.

Matilde
Cárcere de Palma de Maiorca, outubro de 1942: a ovelha vermelha.
Está tudo pronto. Em formação militar, as presas aguardam. Chegam o bispo e o governador. Matilde Landa, comunista e chefe de comunistas, atéia convicta e confessa, será convertida à fé católica e receberá o santo sacramento do batismo. Arrependida, se incorporará ao rebanho do Senhor e Satanás perderá uma ovelha vermelha.
Se faz tarde. Matilde nã aparece. Está no telhado, ninguém a vê. Joga-se lá de cima. O corpo explode, como uma bomba, contra o pátio da prisão. Ninguém se move.
Cumpre-se a cerimônia prevista. O bispo faz o sinal da cruz, lê uma página dos evangelhos, exorta Matilde a renunciar ao mal, recita o Creio em Deus Pai e toca sua testa com água benta. (p. 274-275)

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