quarta-feira, 25 de abril de 2012

De volta ao Amazonas


A missão é uma só, mas tecida por muitas mãos, com diversas sensibilidades. Mas é sempre itinerante, de certa maneira, improvisada. É estrada aberta. É navegação permanente. É recomeçar sempre, do primeiro ou do último passo.
Partilho o relato de duas Irmãs da Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição (conhecidas como Irmãs Azuis), na qual descrevem os primeiros passos (ou dias) da nova missão na periferia de Manaus. A Ir. Joaninha já havia participado de uma comunidade intercongregacional em Novo Airão (AM) e, depois, em castelo de Sonhos (PA).
Porto fluvial de Manaus
Chegou o dia  a hora de pisar o solo  destinado à nossa  Província Maria Imaculada. Às onze horas da manhã chegamos a tão sonhada missão amazônica, conduzidas gentilmente pelo motorista das Irmãs Franciscanas de Maria Auxiliadora (Salesianas), senhor Frota (diácono permanente que presta este serviço de motorista às Salesianas). Fomos acompanhadas pela Ir. Rosangela que amigavelmente quis vir conosco para conhecer o local para depois poder visitarnos com sua Comunidade.
Em boa companhia, colocamos nossas coisas no carro e rumamos ao nosso destino. Uma  rotatória nos desviou do destino e assim pudemos já conhecer uma outra comunidade, Colônia do Aleixo, logo que nos demos conta do erro e acerto retomamos o caminho e logo  entramos no lugar destino: Puraquequara, que significa Morada do Poraquê.
Eis a explicação do nome: “Com o crescimento da comunidade, a atividade econômica principal passou a ser a produção de farinha de mandioca e carvão vegetal, além da pesca de subsistência. Os primeiros habitantes que chegaram ao local foram os das famílias Barroso e Matos. O nome Puraquequara vem de um peixe chamado poraquê, também chamado de enguia-de-água-doce. Para se alimentar, o peixe dá pequenos choques elétricos nas árvores, e come os frutos que caem delas. Literalmente, Puraquequara significa morada do Poraquê.”
Ao chegar encontramos a casa aberta e já desocupada à nossa espera. Deu tempo apenas para carregar nossas bagagens e liberamos nossos parceiros para o retorno a Manaus centro. Antes, ainda servimos um lanche que trazíamos conosco: bolacha e água que encontramos na geladeira. Rapidinho seu Miguel, esposo de dona Raimunda, secretária da paróquia, e  seu Frota apareceram com refrigerante, pão de queijo e pão.
Com as forças recuperadas  e uma rápida partilha com convites para retornar, nos despedimos. Como  as compras de colchão e guarda-roupas  feitos em Manaus  haviam chegado, faltava apenas montar os guarda-roupas. Arrumamos o que foi possível, improvisamos  o que pudemos. O calor era sufocante... Abre mala, tira coisa, deixa coisa...
A Ir. Joaninha deixara suas roupas de cama e banho fechadas na mala durante um ano inteiro. A umidade da região provocou mofo e ela se apurou em lavar os lençóis, aproveitando o sol abundante para secar e arrumar sua cama. Ir. Edith arrumava tudo o que podia, pois suas roupas estavam limpas secas, e  em condições de uso.
Fizemos uma pausa para almoçar, ou  melhor, para procurar o que e onde comer alguma coisa. Fechamos  tudo e saímos... Sorte  quea alguns metros da paróquia tem casas que fornecem refeições... Assim pudemos logo almoçar algo típico desta época: jaraqui frito na hora (Joaninha) e bife também passado na hora (Edith). Assim que almoçamos, já perguntamos  se há por aqui uma casa  pra alugar, e a dona do restaurante tem uma e nos mostrou. Gostamos, mas vamos procurar  em outro ambiente.
Um breve descanso e retornamos  por uma outra rua pois queríamos passar no mercado para ver algo que nos faltava. Passamos na beira, onde se vendem frutos e peixes. Compramos tucumã. Entramos numa  padaria para saber sobre pão integral. O moço que nos recebeu, logo nos contou que sua parente foi convidada para ser irmã mas não quis e atua na coordenação  de alguma pastoral na arquidiocese. Foi logo dando o telefone dela e pegando o nosso para nos colocar em contato. Aqui é assim: de uma informação se conta uma história se criam laços. O   povo é muito aberto e acolhedor.
Contentes retornamos à casa para seguir arrumando, lavando e pondo as roupas para ventilar, enquanto esperamos o guarda-roupas. À noite participamos da Via-sacra com a comunidade, um grupo pequeno, maioria juventude. Estão preparando a encenação da Paixão para Sexta-feira Santa. Conversamos com eles e assim fomos nos conhecendo.
Com as pernas moídas de subir, descer e arrumar, só queríamos cama. Conversamos um pouco e logo nos recolhemos. Sono que é bom, só pelas altas horas da noite. Eram tantas as emoções, as longas conversas na intimidade com Aquele que nos enviou, que  o sono parecia não vir. Ao nos encontrar para o café da manhã, o assunto era um só: dormi muito tarde... Coincidências de uma primeira noite com o show na vizinhança, que durou até à madrugada.
Na manhã de sábado, após o café e a oração, saímos para ver um mercadinho que fica próximo e providenciar algo para o almoço. É bem variado... Tem até tem cachorro que fica deitado no mesmo espaçoocupado pelos produtos. E tem caixa eletrônico, onde poderemos suprir nossos apuros.
De posse de verduras e carne, retornamos para casa. Joaninha seguiu lavando suas roupas, improvisando varais onde tem sol. Edith se encarregou do almoço. Um descanso rápido e as quinze horas participamos da primeira reunião com todas as pastorais da Paróquia. Assim tivemos uma visão das comunidades. Fomos muito bem acolhidas pelo povo e pelo Pe. Marquinhos. Após a reunião, participamos de uma confraternização preparada para nossa chegada, fruto da partilha de cada  comunidade.Um momento muito significativo para nós.
No domingo, dia 1° de abril e domingo de Ramos, participamos da celebração de Ramos, presidida pelo Diácono Cairo, que faz sua experiência aqui na nossa paróquia e na área Missionária da Cidade Nova, onde Pe. Marquinhos também atende. Houve procissão pelo quarteirão, e a capela ficou cheia. Fomos convidadas para ajudar na distribuiço da comunhão e, no final da celebração, fomos apresentadas para a Comunidade. Nos sentimos em casa e muito acolhidas pela Igreja de Puraquequara. Após a  celebração o diácono veio tomar café conosco e partilhamos um pouco da nossa vida. Ele compartilhou informações importantes. Assim vamos tomando pé da realidade.
Periferia de Manaus
Ao meio dia Pe. Marquinhos veio nos buscar para uma almoço comunitário, na fraternidade das Irmãs Catequistas Franciscanas, na Cidade Nova, do outra lada da cidade. Foi grande a alegria de encontrar nossas já conhecidas Irmãs e o Pe. Alcimar, coordenador arquidiocesano de pastoral. Foi um almoço muito enriquecido pela partilha e, ao mesmo tempo, nos colocando ao par da caminhada da Arquidiocese em relação à Catequese.
Aqui está implantada a catequese na metodologia da Iniciação cristã, e parece que nossa paróquia está adiantada neste processo. Na reunião de ontem o Pe. Marquinhos  nos falou que no ano de  2011 se parou a catequese e se trabalhou o ano todo com os catequistas dentro desta proposta. Este anos se retomou a catequese nesta metodologia. As Irmãs Catequistas Franciscanas que estão dando este suporte nesta região. Daí o interesse do Pe. Marquinhos em nos colocar em contato com elas. Assim vamos  criando a mesma linguagem. Precisaremos estudar e correr atrás do barco, que já está na frente na outra curva do rio.
Após um delicioso almoço em agradável companhia (saboreamos uma deliciosa matrinxã assada), Pe. Marquinhos deu uma volta conosco em toda Área São Lucas, onde ele atua. É imensa! A realidade da periferia de Manaus é algo  grandioso e desafiador. Dizíamos-lhe: “Nem que se fabricasse padres e irmãs não daria conta da demanda geográfica desta Manaus.” Foi um passeio de ordem eclesiogeográfica.
Chegamos em casa às quinze horas. Tiramos um rápido descanso e, como o guarda roupa fora montado ontem durante a reunião, aproveitamos a tarde para  continuar guardando as roupas. Por quanto tempo? Esperamos que logo encontremos uma casa para nos instalar definitivamente. Aproveitamos a tarde também para redigir os relatórios diários da casa, enquanto esperávamos mais uma celebração, à noite, para mais uma apresentação ao povo.
Estamos enviando em anexo mais informação sobre Puraquequara, espaço de nossa presença missionária. Achamos que poderia ser do interesse de todas saber mais sobre este chão missionário. Desejamos a todas e cada uma boa Semana-santa. Feliz e Santa Páscoa! Que a saúde se difunda sobre a terra e sobre nossa  Província.
Puraquequara, 01 de abril de 2012.
Ir. Edith e Ir. Joaninha 

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