segunda-feira, 7 de maio de 2012

Kalimantan: impressões, emoções e reflexões (1)


Uma palavra inicial
Apesar da indisposição com a qual aceitei a proposta, vivi como um tempo de graça os 30 dias de visita aos coirmãos da Província de Kalimantan. Ainda durante as viagens, tive a possibilidade de partilhar com coirmãos e amigos/as as impressões, emoções e reflexões que esta imersão provocava.
Concluído o percurso, mas ainda sob o calor – que em se tratando de Indonésia é bem mais que uma metáfora – das experiências, aproveitei os dois dias de permanência em Jakarta para rever, corrigir, unificar e ilustrar as crônicas desta aventura fraterna e missionária.
Antes de entregar (de novo) estas anotações e imagens aos olhares e mentes sedentos de beleza e de solidariedade – agora, em episódios semanais neste blog – gostaria de deixar bem claro que estas páginas não contém uma descrição objetiva e completa da vida e da missão dos meus coirmãos. Este é um objetivo que não me propus e, ademais, creio ser uma tarefa impossível.

Vemos as coisas sempre a partir das proprias janelas...

Uma visita, ainda mais quando se trata de um país e uma cultura tão distintos como é este caso, é uma caminhada na ponta dos pés num terreno que não nos pertence, que nos é desconhecido e que devemos ter o cuidado de não des-encantar. Nosso olhar deve permanecer sempre casto, evitando des-cobrir e invadir um mundo que permanece sempre original e incomparável. A própria originalidade do idioma é um convite a tomar consciência da necessidade deste respeito.
Em muitos momentos, lembrei-me da experiência de Moisés, no monte Horeb (cf. Ex 3,1-7). Precisamos acordar da nossa imersão do mundo das coisas conhecidas e catalogadas, perceber as novidades falantes e transcendentes que se escondem em coisas simples (como a sarça que queima sem parar) e tirar as sandálias dos nossos préconceitos e interesses. Estes podem macular e destruir a originalidade das pessoas e coisas que vemos e encontramos.
Entrar na realidade despojado – com os pés descalços, como faz o povo daqui – é uma condição para deixar o mundo diferente entrar em nós, para a aproximação afetiva que poderá sustentar uma possível e respeitosa distância crítica. É preciso evitar um mal dito distanciamento crítico que, prescindindo de laços unitivos, analisa, fragmenta, corta e manipula a realidade, fazendo-a entrar no estreito leimite dos recipientes mentais, marcados por mundos e interesses tão frios quanto prepotentes.
A própria necessidade da mediação de um tradutor para entender ao menos a superfície ou a periferia das palavras, conceitos e e experiências dos coirmãos já deveria ser uma advertência suficiente para não se apressar nas conclusões. Na verdade, a tradução possibilita o mínimo entendimento, mas esconde muitíssimo, desvela algumas coisas mas mantém no mistério muito mais.
Tenho consciência de que uma espécie de concupiscência mental não me permitiu a presença e o olhar despojados e acolhedores a que me referi acima. As recorrentes comparações e as observações curiosas denunciam essa dificuldade de manter uma relação aberta, dialógica e receptiva. Mas espero que a leitura que você faz possa superar estes limites e constuir uma imagem mais aberta e verdadeira de Kalimantan.
Finalmente, quero dizer que esta partilha tem uma intenção claramente missionária: em primeiro lugar, fazer uma homenagem agradecida e reverente aos missionários que atuaram e atuam nessa região; em segundo lugar, despertar e avivar a paixão missionária que dorme no peito de cada coirmão e amigo/a e que floresce e frutifica em muitos momentos e de muitas formas concretas.

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