segunda-feira, 14 de maio de 2012

Kalimantan: impressões, emoções e reflexões (2)


Meca sempre como referência

Kalimantan era até agora a única Província da Congregação que eu jamais havia visitado. Tinha vontade de conhecê-la, mas não estava muito disposto a fazê-lo em forma de visita canônica. Desejava, neste ano, ficar mais em Roma e dedicar-me a trabalhos internos, pois sinto que no ano passado viajei demais. Uma visita de 30 dias, numa região de clima quente e úmido, com desconhecimento absoluto da língua é o que eu menos desejava. Mas nem sempre a gente consegue seguir as próprias preferências, e a responsabilidade assumida comunitariamente levou-me a aceitar essa aventura.
A viagem começou em Roma, no aeroporto Fiumicino. Partimos eu e Santiago no dia 29 de fevereiro, às 22:20 a bordo de um avião da Qatar Airwais, com escala em Doha, Qatar. Chegamos em Doha – uma cidade explêndida e ostensivamente rica em meio a um deserto aparentemente inabitável – às 5:20 do dia 1° de abril. Este país, situado no Oriente Médio, em pleno Golfo Pérsico, por onde passa mais da metade do petróleo consumido no mundo, não está assim tão longe de Roma. São apenas 4 hopras de viagem, mais duas de fuso horário.
Aeroporto de Doha, Qatar
Em Doha esperamos até 8:50, quando partiu nosso vôo para Jakarta, Indonésia. Senti-me um pouco estranho naquelas horas de espera. De repente me dei conta que estava num aeroporto muito luxuoso e em meio a um povo que a gente não tem o hábito de encontrar, quero dizer, um povo árabe, cuja maioria absoluta é mussulmana. Não estamos habituados e ver mulheres coberta da cabeça aos pés (por sinal, vestidos em geral muito bonitos!) nem homens portando uma espécie de túnica ou bata branca. Estávamos no coração da uma região predominantemente mussulmana.
Partimos de Doha na hora prevista, pela mesma companhia Qatar Airwais (uma escolha guiada pelos baixos preços da empresa: em torno de 600 euros, de Roma a Jakarta, ida e volta!). Tendo já passado uma noite em viagem (além do fato de apenas estar me adaptando ao fuso horário depois do retorno do Brasil), este novo trecho foi especialmente cansativo.
Dois detalhes, aparentemente triviais, podem dar uma idéia do que significa entrar num outro mundo cultural. O primeiro: todas as orientações da viagem (tanto no aeroporto como no avião) eram dadas em inglês e árabe. Uma coisa é tentar ler as indicações em inglês e numa outra língua qualquer, outra é notar que a escrita é em caráteres árabes, que nada têm a ver com o nosso alfabeto. O segundo: todos as rotas que fiz até hoje apresentavam indicações da posição do avião seguindo a bússola ocidental, ou seja: tendo como referência o pólo norte; mas esta linha apresentava constantemente a posição e a distância da aeronave em relação a Meca, a cidade sagrada dos mussulmanos. (Se isso nos incomoda, imagina o que significa para um mussulmano a contagem dos anos assumida universalmente, e que tem Jesus Cristo como referência absoluta...)
Chegamos em Jakarta às 22:30, ou seja: depois de uma viagem de aproximadamente 9 horas (mais o fuso de 5 horas). Alguma demora para os trâmites imigratórios e o controle de bagagem, e o calor acachapante foi amenizado pelo encontro com dois coirmãos da Província de Java que nos esperavam ansiosa e fraternalmente. Em pouco mais de meia hora estávamos na casa que a Província javanesa mantém em Jakarta e, depois de um gostoso mamão e outras frutas locais, joguei meu corpo exausto na cama, que me pareceu extremamente confortável.
Vista da entrada da casa MSF em Jakarta
Eu guardava péssimas lembranças de uma passagem nesta casa, em 2003: um calor horrível, um enxame de mosquitos, as cornetas das mesquitas acordando todo mundo às 4:30 da manhã... Desta vez nada disso existia! Na verdade, não encontrei os mosquitos e o quarto tinha ar condicionado. D resto, o  sono acumulado fez com que sequer escutasse a voz dos irmãos mussulmanos chamando-nos a proclamar que Deus é grande... Dormi tranquilamente até òs 6:30 de manhã.
Casa dos MSF de Java em Jakarta
Depois do café da manhã – aliás, do chá da manhã! – partimos de novo para o aeroposto (desta vez com um tráfego mais intenso). Tínhamos bilhete para viajar a Banjarmasin, ilha de Kalimantan (antiga ilha de Bornéo, que hoje a Indonésia divide com a Malásia) às 10:00, mas acabamos saindo somente às 11:20. Vocês podem imaginar o que significa ficar esperando mais de uma hora, sem entender as informações que vez por outra eram divulgadas no sistema de som. Acabamos chegando em Banjarmasin às 13:30 (incluída uma hora de fuso). Lá nos esperava o Pe. Garinsingan, pequeno coirmão dayak da Província de Kalimantan, nosso conhecido do último capítulo geral e tradutor nas próximas semanas.
Depois de um rápido almoço, um momento de descanso, com o cuidado de não dormir muito, para não atrapalhar a noite (já que estamos com 10 horas de diferença, à frente, em relação ao Brasil, e 7 em relação à Itália). Em 2003, nos primeiros dias de estadia na Indonésia,eu  trocava a noite pelo dia: dormia longamente depois do almoço e me acordava e levantava em torno das três horas da manhã. A experiência ensina a tomar cuidado. Fomos hospedados na casa dos idosos da Província, situada nas proximidades do Provincialado, de uma igreja Paroquial e do Postulantado.  Começamos oficialmente a visita no dia seguinte.

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