segunda-feira, 21 de maio de 2012

Kalimantan:impressões, emoções e reflexões (3)


Beco Musafir

Começamos a descoberta de Kalimantan e do trabalho dos Missionários da Sagrada Família nesta região da Indonésia pela cidade de Banjarbaru. Foi nesta zona da Indonésia que, em 1926, chegaram os primeiros MSF, e esta foi propriamente nossa primeira missão entre não-cristãos da Congregação. Banjarbaru é uma cidade com 200.000 habitantes, situada nas proximidades  de Banjarmasin, capital da província. Em Banjarbaru está a sede da Província Kalimantan da Congregação.
Casa Provincial dos MSF, em Banjarbaru
Num mesmo amplo terreno se elevam várias edificações ligadas à nossa presença na região: a sede provincial; o seminário do postulantado; a casa dos idosos; a casa paroquial; a igreja paroquial; uma casa de retiros; uma casa de formação das Irmãs de São José de Chartres. O complexo faz juz ao nome da travessa que dá acesso: Gg. (beco) Musafir, conceito árabe equivalente à expressão latina missionário. Tudo está localizado discretamente longe da rua, no interior do terreno. É uma medida que dá proteção contra eventuais atos extremistas contra os cristãos. Do outro lado da rua, que é também uma importante estrada regional, está uma grande universidade estatal.
Na Paróquia Mãe Maria (Bunda Maria, na língua indonesiana) trabalham dois coirmãos. A paróquia tem mais ou menos 1.700 fiéis, é apreciada pelo bispo local, e desenvolve seu trabalho sob constante pressão de alguns grupos mussulmanos radicais, o que limita muito as iniciativas. Mas mais de 90% dos católicos frequenta a missa domincal!
Igreja matriz S. José, em Banjarbaru
A paróquia faz parte da diocese de Banjarmasin, cidade-pólo da região, situada há 37 quilômetros de Banjarbaru. Apesar da considerável população do local, a diocese de Banjarmasin conta com um reduzidíssimo número de membros: são apenas 16.000 os cristãos católicos (para uma população de mais de 3 milhões de habitantes!), distribuídos em 8 paróquias. Isso significa pouco mais de 0,05% da população (ou cinco a cada 10.000!). O número não avança senão muito lentamente, e unicamente devido aos migrantes católicos que chegam a esta região. A pressão social é muito grande, e aqui um mussulmano que prese a própria vida não ousa aderir à Igreja católica.
Interior da catedral de Banjarmasin
O pároco é o Pe. Franciscus Sumantoro Pranjono, natural da ilha da Java, que no passado migrou para Kalimantan, região de Sampit, para trabalhar como professor . Tem 61 anos e descobriu a vocação em contato com o Pe. Willibaldo Pfeuffer, MSF alemão que atuava nas proximidades. O vigário é o Pe. Augustinus Gunawan, um jovem ordenado a menos de um ano, também natural de Java. Na infância, migrou para a região com a família e formou-se em economia. Sua família era a única família católica da cidade, e sua vocação nasceu do encontro com um missionário italiano OMI.
Postulantado Johaninum, Banjarbaru
Na mesma área geográfica onde está a igreja paroquial encontra-se uma ampla casa de formação, destinada ao postulantado (que aqui se faz depois da escola média). Atualmente são sete postulantes, cinco dos quais são provenientes da Ilha de Flores, majoritariamente católica e rica de vocações, mas onde os Missionários da Sagrada Família não têm presença física. O grupo está sob a direção do Pe. Agustinus Doni Tupen.
Tivemos um breve e interessante diálogo com os postulantes. Uma das perguntas do grupo foi por que os membros da Congregação não usam um hábito religioso. Cada vez mais as novas gerações colocam esta pergunta aos filhos do Concílio, e isso faz pensar. O encontro terminou com uma confraternização e uma versão indonesiana do nosso hino “27 de setembro” (com direito à interpretação em português, na voz dos indonesianos, da primeira estrofe da canção.
Pe. Agustinus, além da formação filosófica e teológica de base, tem especialização em comunicação social (em Jogyakarta) e em formação (nas Filipinas), o que é de grande utilidade para o cumprimento das múltiplas responsabilidades que desenvolve: formador (ministério que cumpre há 12 anos), responsável pela animação vocacional da Província, membro do conselho de redação da revista diocesana, editor da revista da Província (MuSaFir) e assistente no governo provincial.
Nos últimos dois anos, Pe. Agustinus conta com a companhia fraterna do Ir. Bonifatius Probo Sunardja. Este Irmão religioso pertencia a uma congregação de Irmãos nascida na Indonésia e já extinta. Depois de cumprir várias funções no interior da Província e na pastoral (como professor de ensino religioso e dirigente de coro), hoje se dedica aos trabalhos de jardinagem no complexo Musafir. Um detalhe: uma das habilidades gostosas deste irmão é tocar sanfona. Executa graça tanto músicas religiosas como canções folclóricas.
Dom Demarteau (com P. Maharsono e P. Santiago)
Como disse, fomos hospedados na casa dos idosos, significativamente batizada de Casa Simeão. Como o nome do patrono sugere, é uma casa que acolhe os missionários idosos e doentes. Hoje a casa é ocupada por apenas um mas venerável coirmão: Dom Wilhelm Demarteuau msf, missionário holandês nascido aos 24 de janeiro de 1917 e bispo emérito de Banjarmasin. Mesmo que ainda goze de impressionante lucidez e boa saúde física, não escuta absolutamente nada. Mas sua simplicidade e resignação são marcantes, assim como a dedicação com que se engajou no pastoreio nos anos passados. Quase que diariamente cristãos vêm à casa simplesmente para ver o bom velhinho e receber a bêão que ele jamais cansa de invocar.
Não visitamos o provincialado senão muito brevemente e para acessar a internet. Como já havíamos conversadop amplamente com o superior provincial, o Pe. Stanislaus Kotska Maharsono em Roma, em janeiro passado, e levando em conta a escassez do tempo, não tivemos um encontro específico com ele. Na tarde do dia 4 de março, domingo, partimos para a região da diocese de Palangkaraia, onde vivem e trabalham alguns coirmãos, inclusive Pe. Timóteo I Ketut Adi Hardana, originário da ilha de Bali, que faria as vezes de tradutor e motorista. 

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