sexta-feira, 17 de agosto de 2012

A missão nas fronteiras


Experiências de missão no Amazonas

“Tudo isso indica que vamos rumo a um novo estilo de vocação religiosa, mais reduzida e minoritária, mais mística e profética, mais pobre, com uma maior relação com os leigos e com outras congregações, com vocações mais maduras e adultas e não tão jovens, abrindo-se a novas formas de comunidade e de compromissos, com mais fermento do que cimento, e de forma mais significativa, mais carismática e livre, que repense seus trabalhos e ministérios (por exemplo, revisar a paroquialização da vocação religiosa masculina clerical!), mais semelhante às suas origens, que vivam uma aventura evangélica e uma insegurança de nômades, sempre abertos ao sopro do Espírito” (Victor Codina sj).

Irmãs e Irmãos! Desculpem o caráter pessoal deste relatório, mas foi a experiência vivida por Ir. Joaninha nestes últimos e longos dias, após a doença de Edith. Neste mês vocacional chegamos mais uma vez dando notícias de nossa missão que, como todo caminho e processo, passa por momentos delicados, de escuta e reflexão. Quando se está geograficamente longe do grupo, a sintonia se faz mais necessária. Joaninha narra sua experiência rica desses dias em que passou sem a companheira de missão e, ao mesmo tempo sente-se, acompanhada e povoada de presenças invisíveis e palpáveis.

Como VRC somos muito comunitárias. Entendo que passando por esses momentos de solidão e de espera a pessoa sente-se sensível, mais atenta aos sinais de Deus e da vida. Diz ela: “Não desejo a ninguém ficar só em uma missão distante como nesta de fronteira, mas se um dia isso acontecer viva-o com muita intensidade e sentirá como Deus realmente se revela um Deus esposo que se manifesta de muitas maneiras para dizer, ‘não tenhas medo estou contigo’. Tem seu lado positivo também, se cria um ritmo próprio. Por exemplo: aproveitei para comer e fazer o que mais gosto, uma vez que no comunitário muitas vezes se sacrifica até aquilo que mais amamos em vista do comum e da outra... Mas a fronteira tem dessas coisas: há momento que por circunstancias precisamos assumir na coragem os desafios que se nos apresentam, ficar sozinha pode ser um deles entre outros. Sou grata à Província pela confiança em mim depositada. Sei que muitas estiveram comigo e nestas horas a pertença e sentido de corpo falam muito alto. Não me arrependo de nada, e não tive medo de nada, a não ser da violência que ronda nossa Manaus como em todas as capitais. Mas Deus cuida de nós.”

Dia 31 julho participei da Missa em honra de Santo Inácio, na Cúria dos Jesuítas de Manaus. Na Igreja de Nossa Senhora de Perpétuo Socorro. Um ambiente familiar, simples, próprio da família Inaciana. Momento profundo de se colocar nas mãos de Deus pela oração de Santo Inácio, conhecida por  muitos/ as: “Tomai Senhor...” Após a missa todos fomos convidados/as para compartilhar de um delicioso bolo.

Nossa Missão no Amazonas passa por este momento de espera, por aquelas que viriam e não puderam vir, tomaram outros caminhos, adoeceram no percurso, ficaram doentes in loco. Mas ao retornar, no dia 22 de julho, após um mês fora, o Povo estava sedento de notícias. Na celebração, o Pe. Marquinho pediu-me que dissesse uma palavra à comunidade, que desse notícias de Edith.  É impressionante como as pessoas têm um grande carinho para conosco.  Emocionei-me ao dar-lhes retorno da caminhada feita e da gratidão que sentimos por toda oração feita nas intenções de Edith. Um ‘muito obrigada!’ foi pouco por tanta fraternidade. O  povo realmente se torna nossa família na missão.

Mas, como a vida é dinâmica, e a missão também, entramos no mês Agosto muito motivados/as. Nossa festa da padroeira bate às portas. Nossa Senhora Mãe dos Pobres, cuja festa celebramos  neste mês de agosto, mais precisamente  no dia 12 de agosto, foi muito festejada. O novenário foi um momento de muita espiritualidade ligada à vida cotidiana sociopolítica de nossa gente, com fatos da vida que traziam à tona o dia a dia. O momento de ofertar as flores, como sempre, carregado de aplausos à mãe querida.

A data litúrgica desta festa parece ser em janeiro, mas como competiria com São Sebastião, um santo muito  honrado  aqui  e cuja  linda devoção foi trazida pela Irmã Gabriele,  foi colocada pela paróquia nesta data. Estamos pesquisando por que ela é padroeira de nossos  arraiais típicos desta região  com comidas gostosas, danças longas, assim como  músicas características que repetem os refrões ritmados. Bingos e jogos fizeram a animação das quatro noites de arraiais. Havia muita gente. Assim todas as noites tinha  pessoas por perto, uma vez que a casa onde  estamos  fica atrás da Igreja paroquial. Vários dias do novenário foram coordenados por nós, e um pelo Diácono que ajudou o Pe. Marquinhos cuja agenda estava superlotada. Assim pudemos também, do nosso jeito, demonstrar nossa gratidão criativa à Mãe dos Pobres, nossa mãe e padroeira. Muitas pessoas acompanharam todas as nove  noites.

Dia 5 de agosto participamos da celebração de Ordenação presbiteral do Pe. Cairo, o diácono que fez seu estágio em nossa paróquia. Dom Luiz, como sempre, orienta seu rebanho. Disse ao neo sacerdote: “Seja apaixonado por Deus, e pelo seu Reino. Ame muito a Igreja , sirva  bem o povo de Deus e não perca o rosto  Regional.” (Cairo é filho da Amazônia). Foram momentos de muita emoção. Entre choros e cantos, o Espírito ungiu mais um  presbítero para ser sinal  e servo nestas  grandes margens de missão.

A celebração de encerramento da novena foi com procissão e contou com a presença amiga e simpática de nosso Bispo Auxiliar Dom Mário Antônio, que sempre chega com muito entusiasmo às comunidades mais longínquas (é o bispo do interior). Como foi Dom Sebastião, em sua homilia inspirada no peixe puraquê: “Quando sente fome dá descargas elétricas na árvore frutífera e esta deixa cair os frutos, assim  nós,  devotos de Maria, devemos ir a ela, árvore  frutífera, e receber os frutos abundantes que ela  produz". Também fez memória da presença de Edith pedindo pela sua saúde.

Com Dom Mário, vieram duas Irmãs filhas da caridade, conhecer e celebrar conosco. Após a celebração tivemos um momento de partilha e comensalidade na companhia de Pe. Cairo e Dom Mário.

Aguardam com carinho a chegada de Rosângela, que foi adiada por questões diversas, e agora é anunciada para dia 14 próximo. Na expectativa desta chegada  tão esperada deixo a cada uma um abraço e muita comunhão neste Mês vocacional por excelência e nesta missão que  une a todas. Na fronteira do construir novas pontes.

Comunidade Maria Mãe dos Pobres (Manaus).
(Irmãs da Imaculada Conceição de Castres)

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