O que significa o seu nome?
Tanjung Selor é uma diocese criada há apenas 10 anos, desmembrada da arquidiocese de Samarinda. Sua área compreende uma população de 900.000 habitantes, dos quais
apenas 44.000 são católicos (ou seja,
5%) e, um número levemente superior,
evangélicos. O bispo Dom Justinus Harjosusanto, ordenado em 2002 e responsável pelos primeiros passos organizativos da diocese, conta hoje com 28
padres, entre religiosos e diocesanos, distribuídos em 15 paróquias. Parte destas paróquias só são acessíveis por meio de barco ou de avião.
Residencia episcopal e Centro Diocesano de Formação. |
Como o tempo da nossa permanência
foi muito curto, para visitar os coirmãos nos seus locais de trabalho tivemos
que nos dividir em dois grupos: eu, acompanhado e ajudado pelo Pe. Vicentius,
visitei a paróquia São Pedro, em Mara I; o Pe. Santiago, acompanhado pelo Pe.
Hartono, visitou a paróquia N. S. de Fátima, de Sekatak . Mara I é um
pequeno povoado ribeirinho de mais ou menos 500 habitantes, distante de Janjung
Selor uns 90 minutos de lancha, rio acima. Ali está localizada a sede de uma
paróquia que conta com 12 comunidades e um total de 2.400 fiéis,
aproximadamente 90% da população. As comunidades mais distantes exigem até 5
horas de viagem de lancha!
Para chegar à comunidade, nossos
coirmãos fretaram uma lancha. Nela fomos eu, Pe. Vicentius (tradutor), Pe.
Leonardus Murialdo, Pe. Ignatius e Pe. Albertus (estes dois últimos aproveitaram a oportunidade para conhecer a localidade). A região é relativamente montanhosa e
bastante habitada, especialmente nas margens do rio. O que dói é ver que por
aqui a devastação prossegue, como sempre, em nome do progresso. Enormes balsas
com guindastes sobem o rio e descem carregadas de madeira, extraída de terras
destinadas à plantação de babaçu. Disseram-me que os proprietários originais,
sem noção do valor comercial , são enganados e acabam vendendo as terras pelo
equivalente a R$ 150,00 por hectare.
Antiga igreja-matriz de Mara I |
Pe. Leonardus Murialdo Tina Kesuma
tem 46 anos de idade e trabalha na região há 7 anos. Ele é o terceiro de quatro
irmãos, filho de um casal budista e vem de Java. Por influência de sua irmã
mais velha, aos 14 anos tornou-se cristão e recebeu o batismo. Mais tarde
também seus pais se tornaram cristãos, mas não entenderam quando ele decidiu
pela vida religiosa. Atualmente, além de ser o responsável pastoral pela
paróquia São Pedro, é ecônomo diocesano. Por isso, todas as segundas-feiras vai
a Tanjung Selor e volta somente na sexta-feira. Neste período, o Fr. Antonius
Sigit Pribadi, estudante de teologia que faz estágio pastoral, fica sozinho e
toma conta dos trabalhos.
Em Tanjung Selor trabalha também o
coirmão Pe. Ignatius Andita Tryanianto, 41 anos, originário de Java central.
Depois de alguns anos de trabalho em diversas paráquias, hoje é pároco da
catedral e divide esta responsabilidade com um padre e um estudante de teologia
diocesanos. Aliás, aqui na Indonésia é uma espécie de hábito dos bispos colocar
numa mesma paróquia padres religiosos e diocesanos. Não consegui entender de
onde vem esta hábito e quais são suas justificativas. É claro que uma
comunidade intercongregacional pode ser uma riqueza, desde que seja um projeto
cuidadosamente desenhado, com objetivos e práticas bem definidas. Caso
contrário, pode se tornar um caso de desencontro marcado.
Peço licença para fazer um
parênteses e dar lugar a uma curiosidade a respeito dos nomes dos indonesianos.
Vocês devem ter percebido que fiz questão de transcrever inteiramente o nome
dos coirmãos. Fiz isso por dois motivos: para memorizá-los e para evidenciar
como são diferentes. Chamam-me a atenção dois aspectos: o primeiro, é que a
quase totalidade dos nomes dos membros de famílias de tradição católica são
nomes de santos; o segundo, é que o sobrenome não identifica a linha familiar,
seja paterna ou materna. Aqui os sobrenomes são escolhidos (pelos pais ou pelos
próprios sujeitos) por causa do significado que têm, pois querem dizer algo
sobre o que se deseja que as pessoas sejam. Isso parece estranho, mas não
podemos esquecer que entre nós os sobrenomes serviram inicialmente para
evidenciar a origem nobre e para garantir o acesso à herança paterna. Não lhes
parece que é um sentido muito menos nobre que aquele que o povo indonesiano
lhes confere?
Porto fluvial de Tanjung Selor |
No mesmo dia 23, Pe. Santiago
visitou os coirmãos que vivem e trabalham em Sekatak. A paróquia Santa Maria de
Fátima, sediada nesta pequena cidade, tem 7 comunidades e 3.500 católicos. Como
sempre, as distâncias a serem percorridas para chegar às comunidades são
grandes. Algumas são acessíveis pelo rio, outras por péssimas estradas. De
Tanjung Selor a Sekatak são três horas de viasgem por uma estrada na qual
existem buracos que esperam vaga nos barrancos... Lá trabalham os coirmãos Pe.
Mateus Sumarno, o Pe. Marselinus Moi e o Fr. Yohanes Erick Djundjugan Gulton.
No dia 24, sexta-feira, memória do
martírio de Dom Oscar Romero, voltamos de speed
boat a Tarankan. Nesta ilha, que foi nosso porto de entrada e de saída nesta região, vivem e trabalham dois coirmãos: Pe. Vicentius e Pe. Feri.
O primeiro, cujo nome completo é Vicentius Wahyu Haryanto, tem 51 anos e também
vem de Java. Eu o conheci em Roma no ano 2000, quando da defesa de sua tese
doutoral (sobre o sentido dos votos na cultura javanesa). Voltando à Indonésia,
durante 6 anos foi o superior do Escolasticado que as duas províncias
indonesianas mantém em Jogyakarta (Java). Depois disso, durante 3 anos foi o
responsável pela Comunidade Internacional em Manila, Filipinas. Há poucos meses
veio para esta diocese, e atua como pároco e como professor no seminário
diocesano. Uma curiosidade: Pe. Vicentius é de família pentecostal
fundamentalista, seu pai era pastor, e ele mesmo foi batizado com 16 anos de
idade.
Pe. Vicentius é auxiliado pelo jovem
Pe. Albertus Feri Asmarajati, 29 anos, outro coirmão provindo de Java. Seus
avós eram mussulmanos, mas seus pais são católicos (o pai é marceneiro e a mãe
é professora). O que encanta no Pe. Feri é sua simplicidade e sua
disponibilidade. Sempre sonhou com as missões, desejava ir ao Chile mas não foi
o escolhido. Falou-me que está muito satisfeito com a missão em Kalimantan,
inclusive com as aulas que dá no seminário diocesano, mas continua desejando
ser missionário fora da Indonésia. Ficou interessando em Moçambique e na
possibilidade (em estudo) de uma missão em Benin. Para ele, mesmo o Brasil não
seria uma possibilidade impensável. E eu acho que seria um fator de
enriquecimento tanto para ele como para nós. Mas como custa reencontrar o
perdido dinamismo de uma congregação missionária internacional...
Jardim interno da casa MSF em Tarakan |
Estes dois coirmãos são responsáveis
pela Paróquia São José Operário, situada na zona suburbana da ilha. É uma das
duas paróquias da cidade que conta com aproximadamente 2.000 membros. Além da
igreja matriz, tem duas comunidades, uma delas em uma ilhota mais ou menos
próxima. A residência foi construída há pouco tempo, numa parceria entre a
Província de Java e a diocese de Tanjung Selor. É simples e ampla, com espaço
para hospedar topdos os coirmãos MSF da comunidade. É também uma casa de
passagem para aqueles que chegam e partem pelo porto ou pelo aeroporto.
Nesta casa
dos coirmãos, tive dois prazeres que posso confessar tranquilamente: o primeiro
foi tomar banho de chuveiro, o terceiro em 24 dias de Indonésia; o segundo foi
tomar uma cerveja gelada, também a terceira neste período. E uma alegria à parte:
poder acessar a internet para saber e enviar notícias. Domingo cedinho
deveríamos partir para Malang, via Surabaya, mais ao sul. Lá a visita seria de
apenas um dia. Segunda-feira deveríamos viajar a Jakarta para, na quarta-feira,
iniciar a última etapa desta já longa visita: Manila, capital das Filipinas.
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