segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Kalimantan: impressões, emoções e reflexões (17)


Monumental catedral de Jakarta

Arrumando a mala…
Como a tentativa de antecipar nosso retorno a Roma foi frustrado, tivemos dois dias para descansar e fazer algumas incursões na cidade de Jakarta. Jakarta é uma cidade com mais de 10.000.000 de habitantes, uma das grandes do mundo. Como as nossas metrópoles latinoamericanas, uma bela, rica, moderna e monumental área central afasta e esconde uma periferia empobrecida, explorada e atrasada. E, no caso de Jakarta, uma periferia incrivelmente deteriorada e poluída.

Catedral de Jakarta
 
Tive a oportunidade de visitar a catedral da cidade. É um belo templo em estilo neogótico, construído em 1901. A altura máxima, assim como o comprimento, chega a 60 metros. Esta relativa imponência, que faz com que seja visível a uma certa distância – apesar dos arranha-céus que se multiplicam ao redor – é grandemente reduzida pela enorme e monumental mesquita – a maior de Jakarta – que se ergue exatamente à frente da catedral.

Visitamos também o enorme e moderno parque construído na década de 60, em pleno centro da cidade (Parque MONAS). Ali está erguido um enorme obelisco que celebra a unidade da Indonésia, sob o qual está um interessante museu que conta a história do povo indonesiano, com destaque para o processo e as lutas pela independência. Ao redor deste parque se erguem inúmeros e imponentes edifícios, que abrigam organismos do governo e sedes de grandes empresas nacionais e multinacionais.

Mesquita central de Jakarta
Se o olhar e a imaginação não conseguem romper este muro de edifícios robustos e modernos, somos iludidos pela impressão de quem estamos num centro urbano rico e moderno do primeiro mundo. Ali não há nenhum sinal da pobreza, da feiúra e do sofrimento que se escondem um pouco além. Nisso Jakarta não é pior ou melhor que todas as outras cidades, de mundos que se dizem primeiros ou de mundos taxados de terceiros.

Mas esta realidade que os urbanistas e políticos gostam de disfarçar e esconder emergiu nos últimos dias e seus sinais eram ostensivamente visíveis no parque: ali ainda estavam reunidos dezenas de viaturas e centenas de soldados que, no dia anterior, fizeram a segurança da cidade “ameaçada” por uma intensa mobilização popular contra o aumento dos combustíveis, projetada e anunciada pelos órgãos governamentais. A implementação da medida foi adiada por alguns dias.

Arrumando as malas para a viagem de volta, pergunto-me o que estou deixando e o que estou levando da Indonésia. Será que deixei, como era meu desejo, sinais claros de estima dos coirmãos que se espalham pelos outros 22 países? Será que foi humanamente perceptível minha mensagem de confirmação e apoio na caminhada missionária? Será que consegui passar a imagem de um visitante que respeita a originalidade e valoriza a hospitalidade de quem o recebe? Será que deixo, com os retalhos de papel higiênico que carregava preventivamente e que sinalizam minha dificuldade de adaptação à cultura local, as reservas, resistências e preconceitos que trazia?

Monumento da unidade indonesiana
E o que estou levando na mala, além dos objetos que trouxe comigo e dos presentes que sacramentalizam a hospitalidade? A bela notícia da convivência respeitosa e dos vínculos históricos e de sangue entre cristãos e mussulmanos? Um admirável e discreto testemunho de simplicidade e dedicação missionárias? Uma fortalecida convicção sobre a urgência inadiável de colocar a criação (o meio-ambiente) no coração da missão? Um desejo mais vivo de criar pontes e laços de comunhão e solidariedade entre povos e Igrejas? Uma consciência mais aguda da orfiginalidade e da relatividade do meu mundo cultural e eclesial?

É evidente que carrego uma mala com muitas perguntas e poucas respostas. Seja esta a minha bagagem mais precisiosa – no sentido cultural e espiritual da expressão. E que estas perguntas despertem reflexões, orientem estudos, sustentem buscas, fecundem relações, fortaleçam vínculos e fundamentem orações. E mantenham vivo o desejo de encontros sempre mais profundos. Assim seja!
Itacir Brassiani msf

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