sábado, 25 de agosto de 2012

Uma destruição massiva: a geopolítica da fome (1)


O Papa João Paulo II ensina que a promoção dos Direitos Humanos é um dos novos âmbitos da missio ad gentes (cf. Redemptoris Missio, 37). A ONU incluiu o direito à alimentação entre os Direitos Humanos (cf. artigo 25). É nessa perspectiva que publico aqui uma série de breves textos sobre o escândalo da fome e o direito humano à alimentação. São informações e reflexões que simplesmente traduzo e resumo do recente livro Destruction massive. Géopolitique de la faim, de Jean Ziegler, relator especial da ONU para o direito à alimentação, de 2000 a 2008. O livro foi publicado em outubro de 2011, pela editora Seuil (Paris).


Nigéria: a fome ‘fabricada’

A Nigéria é o segundo país mais pobre do planeta, e suas terras suão ricas em minérios. Possui a segunda maior reserva de urânio do mundo, mas essa riqueza é explorada pela multinacional francesa Aveva, que paga taxas irrisórias.

Em 2007 o novo presidente nigeriano Mamadou Tanja assinou um acordo permitindo a uma empresa chinesa participar da exploração das jazidas de urânio. Em janeiro de 2010 o presidente recebeu a delegação chinesa e, no dia 18 de fevereiro, sofreu um golpe de Estado e o obscuro coronel Salou Djibo assumiu seu posto. As negociações com a China foram encerradas e a Nigéria declarou gratidão e lealdade à Aveva.

A Nigéria possui um rebanho de 20 milhões de animais (camelos brancos, bois, cabras, ovelhas). As terras centrais do país são ricas em sais minerais, o que dá um sabor especial à carne dos animais que se alimentam dos pastos dessa região. Mas o país é esmagado pelo peso da dívida externa. Sob as leis implacáveis do FMI, a Nigéria foi rapinada por sucessivos programas de ajustamento estrutural.

Secas recorrentes condenam a população humana e animal da Nigéria à subalimentação e à subnutrição. Mesmo assim, o Fundo Monetário Internacional impôs o fim dos estoques de alimentos (milho, trigo, cevada) controlados estrategicamente pelo Estado para enfrentar as emergências.

“Em Washington, a direção do FMI para a Africa, afirma que estes estoques de alimentos pervertem o livre funcionamento do mercado. Noutras palavras: que o comércio de cereais não é uma tarefa do Estado, porque violaria o sacrossanto dogma do livre comércio.” (p. 58) E a fome vem golpeando os nigerianos a cada dois anos...

O Banco Mundial realizou, há cinco anos, um estudo para implantar um ssistema de irrigação na Nigéria. A conclusão é que com um sistema de bombeamento das águas subterrâneas e de canalização capilar de rios permanentes, seria possível irrigar facilmente 440.000 hectares. Com isso o país seria autosuficiente em termos de produção alimentar e salvaria 10 milhões de nigerianos da tirania da fome. Mas o segundo produtor mundial de urânio não teve condições de financiar este projeto... (p. 56-62).

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