segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Por uma evangelização nova (1)


Um Conselho Pontifício para promover a ‘nova evangelização’.

No dia 21 de Setembro de 2010, Festa de São Mateus, Apóstolo e Evangelista, o Papa Bento XVI instituiu, com o motu proprio Ubicunque et Semper, o Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização. Este novo Conselho Pontifício tem o objetivo  estimular a reflexão sobre os temas da nova evangelização e identificar e promover as formas e os instrumentos aptos para realizá-la (cf. Art. 1). No Artigo 2 diz-se que este Conselho “está ao serviço das Igrejas particulares, especialmente nos territórios de tradição cristã, onde o fenómeno da secularização se manifesta com mais evidência” e buscará seus objetivos “em colaboração com os demais Dicastérios e Organismos da Cúria Romana, no respeito pelas respectivas competências”.
O Artigo 3 do referido motu proprio apresenta suas tarefas específicas: a) aprofundar o significado teológico e pastoral da nova evangelização; b) promover e favorecer o estudo, a difusão e a aplicação do Magistério pontifício relativo às temáticas vinculadas à nova evangelização; c) dar a conhecer e incentivar iniciativas ligadas à nova evangelização já em curso nas várias Igrejas particulares e promover a realização de outras novas; d) estudar e favorecer a utilização das formas de comunicação modernas, como instrumentos para a nova evangelização; e) promover o uso do Catecismo da Igreja Católica, considerado a formulação essencial e completa do conteúdo da fé para os homens do nosso tempo.
Bento XVI se refere explicitamente às motivações contextuais que o levaram a tomar esta iniciativa: a) o processo de afastamento da fé em curso nas sociedades e culturas antes impregnadas pelo Evangelho; b) a preocupante perda do sentido do sagrado, conjugada com o questionamento de alguns dos seus fundamentos indiscutíveis (como a fé num Deus criador e em Jesus como único salvador, compreensão do sentido da vida, lei natural); c) a progressiva difusão do indiferentismo, do secularismo e do ateísmo nos países ricos, aliada à secularização e a difusão das seitas nos países pobres.

O Papa está preocupado fundamentalmente com os países ricos e tecnologicamente desenvolvidos do Ocidente, onde vê “regiões que parecem quase completamente descristianizadas”, e  com as “Igrejas de antiga fundação”.  Bento XVI busca em Paulo VI a idéia de que a Igreja é, por origem e natureza, voltada à evangelização, mas reduz seu foco à apresentação da revelação de Deus em Jesus Cristo. Ele não está interessado no violento e nem sempre lento genocídio ao qual são submetidos os povos e nações pobres e pressupõe que todos saibam e estejam de acordo sobre o que seja a ‘nova evangelização’.
Pretendendo assumir a preocupação dos seus Predecessores, Bento XVI diz que considera oportuno “oferecer respostas adequadas a fim de que a Igreja inteira, deixando-se regenerar pela força do Espírito Santo, se apresente ao mundo contemporâneo com um impulso missionário capaz de promover uma nova evangelização”. Está convicto de que todas as Igrejas que vivem nos “territórios tradicionalmente cristãos” necessitam mesmo substancialmente de um “renovado impulso missionário”, de uma “profunda experiência de Deus”. O Papa está preocupado com o renovamento interno da Igreja, com sua limpeza e purificação, mas não com reformas estruturais. E sonha com a restauração da influência do cristianismo católico – da instituição eclesiástica! – no mundo ocidental. Para isso, dispõe do Catecismo, “formulação essencial e completa do conteúdo da fé”.
Com esta visão e este intuito, Bento XVI criou um novo Conselho Pontifício. O mundo norte-atlântico ocupa o centro das suas atenções. A idéia de uma (artigo indefinido) nova evangelização vem formulada como a (artigo definido) nova evangelização. É dado à luz um novo Conselho Pontifício sem que sejam estabelcidas claramente suas relações com outros Conselhos já existentes que se ocupam da mesma questão (Pontifício Conselho para a Cultura, Pontifício Conselho para a Comunicação Social, Congregação para a Evangelização dos Povos). Uma visão mais global do mundo e da Igreja, uma definição mais cuidadosa do objeto que dá nome ao novo instituto, às suas relações com os demais e com as Igrejas particulares não podem ser considerados elementos secundários.
Itacir Brassiani msf

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