domingo, 2 de setembro de 2012

Semana da Pátria (2)


Estamos celebrando a Semana da Pátria. Como sempre, os riscos de um patroitismo ingênuo, seletivo xenófobo nos rondam. Não podemos esquecer que o brado retumbante do povo heróico não se resume ao discutível grito de Dom Pedro. Outros sonharam a liberdade, sofreram por este sonho, e prepararam a terra com as próprias mãos e o próprio sangue a fim de que ela germinasse. Os raios fúlgidos do sol da liberdade brilharam aqui e acolá, mas continuam ameaçados por temporais diversos. O penhor da igualdade sonhada continua sendo desafio. A pátria é amada e até idolatrada, mas o povo ainda é cdesprezado. O Brasil da igualdade, da justiça e da sustentabilidade é ainda, em grande parte, um sonho intenso. As poucas glórias do passado ainda esperam pela justiça presente e a paz futura. Ontem como hoje, muitos são os filhos e filhos desta mãe gentil que não fogem à luta. Entre tantos, vamos recordar alguns/mas.

Antônio Conselheiro

"É chegado o momento para me despedir de vós. Que pena, que sentimento tão vivo ocasiona esta despedida em minha alma... Adeus  povo,adeus aves, adeus árvores, adeus campo, aceitai a minha despedida, que bem demonstra as gratas recordações que levo de vós, que jamais se apagarão da lembrança deste peregrino...” (Despedida de Antônio Conselheiro)

No dia 13 de março de 1830, nasce, no sertão do Ceará, na Vila do Campo Maior, Antonio Vicente Mendes Maciel, filho do comerciante Vicente Mendes Maciel e de Maria Joaquina de Jesus. Mais tarde viria a ter o apelido de Antônio Conselheiro.

Desde sua juventude sentiu e percebeu as injustiças praticadas contra o povo pobre do sertão (composto por ex-escravos, indígenas mestiços) e cresceu nele o desejo de libertar este povo das péssimas condições em que viviam.
Tornou-se educador e missionário leigo e, durante suas pregações pelo sertão, durante mais de 20 anos, foi deixando por onde passava as marcas de sua fé e do seu compromisso social, construindo, mediante trabalho comunitário, pequenas represas, capelas, cemitérios, etc.

Conselheiro casou-se com Brasilina Laurentina de Lima, sua prima, aos 27 anos. Quatro anos depois, Conselheiro flagrou sua esposa traindo-o com um sargento em sua própria casa. Então, bandonou o lar e foi para o Cariri.

Depois de vinte anos de peregrinação pelo nordeste (ele perambulou pelo Ceará, Sergipe, Pernambuco e Bahia), amado pelo povo e visto como um messias ou um profeta por alguns, imcompreendido e perseguido pelas autoridades, Conselheiro observou de perto o atraso em que o povo se encontrava e o descontentamento que eles sentiam.

Assim, resolveu, na última década do século XIX, pôr em prática seu objetivo de formar uma comunidade igualitária: Belo Monte (Canudos, no interior da Bahia). Rapidamente, a comunidade cresceu e tornou-se uma das maiores cidades do nordeste, com 25.000 habitantes, bem organizada, religiosa, produtiva e comunitária.

A reação das pessoas de posses, dos políticos e de alguns setores da igreja, deflagrou Guerra dos Canudos, que teve seu início em 1896 e a maior guerra camponesa do século XIX. As três primeiras expedições militares foram derrotadas pelos sertanejos. A quarta expedição da polícia e do exército, formada por milhares de homens, potentes canhões e liderada por Artur Oscar, conseguiu, no dia 5 de outubro de 1897, tomar a cidade de Canudos.

Todos os habitantes foram mortos (nem as crianças foram poupadas). Canudos virou cinzas, mas também tornou-se, por seu sonho e resistência, símbolo de luta e esperança de um outro Brasil. Vítima de ferimentos causados pela explosão uma granada, Antonio Conselheiro morreu em 22 de setembro de 1897.

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