sábado, 1 de setembro de 2012

Uma destruição massiva: a geopolítica da fome (2)


O Papa João Paulo II ensina que a promoção dos Direitos Humanos é um dos novos âmbitos da missio ad gentes (cf. Redemptoris Missio, 37). A ONU incluiu o direito à alimentação entre os Direitos Humanos (cf. artigo 25). É nessa perspectiva que publico aqui uma série de breves textos sobre o escândalo da fome e o direito humano à alimentação. São informações e reflexões que simplesmente traduzo e resumo do recente livro Destruction massive. Géopolitique de la faim, de Jean Ziegler, relator especial da ONU para o direito à alimentação, de 2000 a 2008. O livro foi publicado em outubro de 2011, pela editora Seuil (Paris).



Faixa de Gaza: uma prisão a céu aberto

Uma das crises alimentares atuais e prolongadas mais dolorosas é a que se abate sobre a população da Faixa de Gaza, consequência direta do bloqueio econômico imposto por Isarel e Egito (com a cumplicidade das potências ocidentais) aos palestinos.

O território de Gaza é uma faixa de terra de 41 km x 12 km, situada na costa oriental do mar Mediterrâneo, próxima à fronteira com o Egito. Mais de 1,5 milhão de pessoas se amontoam nesta área de 365 km2! A maioria é composta de refugiados ou descendentes de refugiados, consequência das guerras entre israelitas e árabes de 1947, 1967 e 1973.

Embora Gaza esteja administrativamente sob a Autoridade Palestina, a partir de 2005 o espaço aéreo, as águas e as fromteiras terrestres são controladas por Israel. Este construiu cercas elétricas reforçadas por minas terrestres, de modo que Gaza se tornou “a maior prisão a céu aberto do planeta” (p. 65).

Com o bloqueio imposto por Israel e Egito a partir de 2006, a situação alimentar se deteriorou ainda mais. Em 2010 o desemprego golpeava 81% da população economicamente ativa. As receitas por habitante caíram à metade e, em 2010, 8 em cada 10 pessoas recebiam menos de 1,25 dólares por dia. Resultado: 34% dos habitantes de Gaza estavam gravemente subalimentados. Em 2010, de cada 5 famílias, 4 só faziam uma refeição por dia. 80% da população dependia da ajuda internacional para sobreviver.

Este povo é punido por ações sobre as quais não tem nenhuma responsabilidade. O bombardeamento aéreo perpretado por Israel em 27 de dezembro de 2008 matou 1.444 palestinos. Mais de 6.000 homens, mulheres e crianças acabaram feridos, amputados, queimados e mutilados. Os israelitas destróem sistematicamente a infraestrutura civil, como aconteceu o único moinho de trigo de Gaza, assim como com a usina de purificação da água, em 2009. Este povo ficou sem pão e sem água.

Em 2011, para evitar uma fome generalizada e e muito visível, Tal-Aviv permitiu a entrada de algum alimento. Israel organiza e administra estrategicamente a subalimentação e a subnutrição. A finalidade é fazer o povo de Gaza sofrer, a fim de que se revoltem contra o poder do Hamas. “A este fim político, o governo de Tel-Aviv utiliza a arma da fome.” (p. 64-68)

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