sábado, 15 de setembro de 2012

Uma destruição massiva: a geopolítica da fome (4)


O Papa João Paulo II ensina que a promoção dos Direitos Humanos é um dos novos âmbitos da missio ad gentes (cf. Redemptoris Missio, 37). A ONU incluiu o direito à alimentação entre os Direitos Humanos (cf. artigo 25). É nessa perspectiva que publico aqui uma série de breves textos sobre o escândalo da fome e o direito humano à alimentação. São informações e reflexões que simplesmente traduzo e resumo do recente livro Destruction massive. Géopolitique de la faim, de Jean Ziegler, relator especial da ONU para o direito à alimentação, de 2000 a 2008. O livro foi publicado em outubro de 2011, pela editora Seuil (Paris).

Premiação dos banqueiros delinquentes.

A situação da economia mundial condiciona a luta contra a fome. Em 2009 o Banco Mundial anunciava que, na esteira da crise financeira, o número de pessoas na faixa da pobreza extrema (que devem viver com menos de 1,25 dólar por dia) cresceria em 89 milhões, e o número de pessoas pobres (que vivem com mais de 1,25 e menos de 2,00 dólares por dia) cresceria em 120 milhões.

Infelizmente, as previsões se confirmaram, e estes mais de 200 milhões de famintos vieram se juntar às vítimas da fome estrutural ordinária. Esta fome estrutural não tem nada de natural, nem de incontrolável. Em parte, é propriamente produzida pelas estruturas econômicas mundias. “O poder planetário das sociedades transcontinentais de agro-indústria e de Hedge Funds (Fundos que especulam sobre o preço dos alimentos) é superior ao poder dos Estados nacionais e de todas as organizações multilaterais. Seus dirigentes decidem sobre a vida e a morte dos habitantes do planeta” (p. 16).

Mas, com a crise de 2009, a questão da fome estrutural se agravou, pois os países do Sul que haviam se inserido mais profundamente no mercado mundial foram os que sofreram mais, especialmente por causa da retração em 82% do fluxo de capitais do Norte em direção ao Sul. Em 2009, os países pobres perderam em torno de 700 bilhões de dólares em investimentos! Para agravar mais a situação, caiu também a remessa de dinheiro ao país de origem por parte dos trabalhadores que migraram para o Norte rico.

“A irresponsabilidade especulativa dos predadores do capital financeiro globalizado custou, em 2008-2009, em torno de 8.9 trilhões de dólares aos Estados industriais ocidentais. Os Estados ocidentais gastaram bilhões e bilhões de dólares para socorrer seus banqueiros delinquentes” (p. 78). Este montante equivale a 75 anos de ajuda pública ao desenvolvimento dos países pobres! E bastariam 44 bilhões de dólares por ano (200 vezes menos!), durante cinco anos, para acabar com a fome no mundo! (p. 77-83)

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