segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Por uma evangelização nova (8)


Como propor a fé como algo relevante e atrativo?

O objetivo do próximo Sínodo dos Bispos é avaliar o caminho feito pela Nova Evangelização e traçar linhas orientadoras e comuns para as Igrejas locais. O Instrumentum Laboris, resultado da contribuição enviada por Dioceses, Conferências de Bispos e de Religiosos e por outros organismos eclesiais, recomenda várias questões à reflexão da assembléia sinodal. O Sínodo é, por definição, dis Bispos. Mas creio que não é proibido que leigos/as, religiosos/as e padres, teólogos/as ou não, participemos dessa reflexão. Somos parte viva da Igreja, povo de Deus, e a evangelização é missão que também nos toca.

Uma das questões encomendadas à reflexão dos bispos sinodais é formulada do seguinte modo: “se interrogar para descobrir as razões profundas dos limites de diversas instituições eclesiais em mostrar a credibilidade das próprias ações e do próprio testemunho, em tomar a palavra e fazer-se escutar enquanto portadores do Evangelho de Deus” (IL, § 32). Em outras palavras, trata-se da da dificuldade de fazer com que a experiência de fé (cristã) seja vista como significativa, seja transmitida frutuosamente pelos cristãos e seja acolhida pelos homens e mulheres de hoje.

O próprio Documento oferece algumas pistas. Penso que o ponto de partida é compreender e viver o Evangelho de Jesus Cristo como algo que ilumina, transfigura, liberta e potencializa integralmente o ser humano, o mundo e a história (cf. IL, § 31). Mas isso pressupõe várias coisas, e a primeira é que a fé e a adesão ao Evangelho faz de nós pessoas renovadas à imagem de Jesus Cristo: pessoas autenticamente humanas, dispostas a colaborar na realização das utopias autenticamente humanas, prontas a participar da aventura da busca do sentido da vida. O núcleo da revelação em Jesus Cristo é que Deus se faz companheiro e avalista das mais profundas buscas humanas, e isso define nosso modo de evangelizar: fazer-se companheiros/as das pessoas e dos povos na busca do sentido e da verdade.

Como cristãos, cremos que o Espírito de Deus está ativo no coração dos homens e mulheres e na raiz dos movimentos de libertação, sejam de explícita inspiração cristãs ou não. Por isso, nossa primeira ação não é anunciar a pessoa de Jesus Cristo mas, como ele, tentar identificar no coração dos desejos e movimentos de emancipação a presença germinal do Reino de Deus e engajar-se neles. É no interior desse engajamento grauito e fraterno que descobrimos novas expressões e novas possibilidades da presença viva de Jesus Cristo e podemos pronunciar uma palavra que mereça crédito.

Ora, essa via dificilmente passa por uma palavra hegemônica e indiscutível, ensinada como única verdade e imposta como lei. O caminho para uma evangelização autêntica e um testemunho digno de fé passa pelo diálogo assumido como mística, como método e como meta. Um diálogo de experiências  de fé feitas no interior de diferentes culturas e expressas em horizontes e linguagens diversas. Neste sentido, “tomar a palavra”, significa dizer uma palavra, propor um sentido, partilhar uma experiência de fé considerada importante. Não é realista, nem mesmo cristão, um projeto que queira restaurar o catolicismo como a palavra verdadeira, o sentido único, a experiência de Deus. Para que sejamos ouvidos e respeitados, os cristãos precisamos abandonar ‘aquela velha opinião formada sobre tudo’ e descer à arena na qual se debatem e se aventuram os buscadores de Deus.

Um segundo pressuposto fundamental é que o Evangelho de Jesus Cristo é um bem para a humanidade, mas sem passar apressadamente desta convicção de fé ao discutível projeto de ‘converter’ o maior número possível de homens e mulheres ao catolicismo. O Evangelho é bom para o ser humano porque afirma que todas as pessoas, independemente de pertença religiosa ou política, do grau de estudo e da cultura, de idade ou de ideologia política, podem alcançar a salvação. A dura experiência de errar o alvo almejado ou de ficar aquém da meta estabelecida, deficiência que a teologia chama de pecado, é perdoada e curada por Deus que vem gratuitamente ao nosso encontro na nossa carne vulnerável. Deus nos salva porque diz que essa carência, que às vezes se mostra como vazio doloroso, não precisa ser preenchida, pois é bela e boa, nossa mais autêntica humanidade. Eis a boa nova que partilhamos.

Itacir Brassiani msf

Nenhum comentário: