sábado, 13 de outubro de 2012

Uma destruição massiva: a geopolítica da fome (8)


O Papa João Paulo II ensina que a promoção dos Direitos Humanos é um dos novos âmbitos da missio ad gentes (cf. Redemptoris Missio, 37). A ONU incluiu o direito à alimentação entre os Direitos Humanos (cf. artigo 25). É nessa perspectiva que publico aqui uma série de breves textos sobre o escândalo da fome e o direito humano à alimentação. São informações e reflexões que simplesmente traduzo e resumo do recente livro Destruction massive. Géopolitique de la faim, de Jean Ziegler, relator especial da ONU para o direito à alimentação, de 2000 a 2008. O livro foi publicado em outubro de 2011, pela editora Seuil (Paris).

Os vários rostos de um mesmo crime.

O artigo 25 da Declaração Universal dos Direitos Humanos define o direito humano à alimentação. Mas, “entre todos os direitos humanos, o direito à alimentação é certamente o mais constantemente e mais massivamente violado no nosso planeta” (p. 23): um em cada sete seres humanos sofre a fome. Nos países do Sul, 500.000 mães morrem todos os anos, a maior parte por falta prolongada de alimentação durante a gestação. A fome é a principal causa de morte no nosso planeta.

A Organização Mundial da Saúde  fixa em 2.200 as calorias mínimas que uma pessoa adulta deve consumir para viver. Abaixo dessa linha, um adulto não consegue reproduzir de forma satisfatória suas forças vitais. A subalimentação grave e crônica provoca sofrimento corporal agudo e insuportável, e enfraquece gradualmente as capacidades mentais e motrizes. Ela significa marginalização social, perda de autonomia econômica e, por isso, desemprego permanente por causa da incapacidade de exercer um trabalho regular. A subalimentação conduz irrediavelmente à morte.

Em 2011 a FAO informou que, segundo as últimas estatísticas disponíveis, se verificaram alguns progressos na realização um dos Objetivos do Milênio (redzuir à metade, até 2015, o número de pessoas que sofrem fome). As pessoas subalimentadas passaram de 20%, em 1992, para 16%, em 2010. Entretanto, por causa do crescimento demográfico, a diminuição da percentagem oculta o aumento do número absoluto de pessoas golpeadas pela fome. Com efeito, nos países em desenvlvimento, o que se vê é um aumento do número das vítimas da fome: de 827 milhões, em 1992, para 906 milhões, em 2010.

Em cifras absolutas, a região com mais pessoas que padecem fome é a Asia e o Pacífico (mas com uma redução de 658 milhões em 2009 para 578 milhões em 2010). A Africa subsahariana tem a maior percentagem de pessoas subalimentadas: 30% (uma a cada três pessoas). Jean Ziegler afirma sem rodeios: “A fome no mundo representa um massacre massivo dos pobres” (p. 48).

Existe a fome estrutural e a fome conjuntural. “A fome estrutural é produzida pelas estruturas de produção insuficientemente desenvolvidas dos países do Sul. Ela é permanente, pouco espetacular e se reproduz biologicamente: a cada ano, milhões de mães subalimentadas colocam no mundo mulhões de crianças que já nascem deficientes. A fome estrutural significa destruição física e psíquica, aniquilação da dignidade, sofrimento sem fim” (p. 30).

“A fome conjuntural é altamente visível. Ela irrompe periódicamente nas telas das redes de televisão. Esta fome se reproduz quando bruscamente uma catástrofe natural (gafanhotos, estiagens, inundações, etc.) devastam uma região; ou quando uma guerra rompe o tecido social, arruína a economia, empurra milhões de seres humanos aos campos de refugiados no interior do próprio país ou além-fronteiras” (p. 31).

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