sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Fatos & Personagens: Etty Hillesum


Etty Hillesum

No dia 30 de novembro de 1943 morreu, em Auschwitz, para onde fora levada há pouco mais de três meses, Etty Hillesum, jovem hebréia holandesa de origem russa.

Esther (Etty) nasceu em 1914 em Middelburg, Holanda, filha de um professor secundário e de uma mulher que há pouco havia fugido dos conflitos na Rússia. Jovem de um temperamento agradável e dotada de brilhante inteligência, Etty foi sobretudo uma pessoa de uma profunda vida interior, o que lhe permitiu dar um sentido aos eventos trágicos da sua própria caminhada. Foi capaz de manter um maduro diálogo com Deus mesmo no abismo do desespero e da falta de sentido que foi o holocausto.

Depois e concluir os estudos de Psicologia e de Direito em Amsterdam, quando as tropas nazistas ocuparam o país em 1940, Etty viu definido o destino de toda a comunidade ebraica na Holanda. Acompanhada pela amizade e sob orientação do psicanalista alemão Julius Spier, aos 8 de março de 1941 Etty começou a escrever um diário no qual registraria o próprio itinerário espiritual até a chegada da morte, no campo de concentração.


Todos conhecemos – mesmo que hoje alguns queiram cinicamente apagar esta memória – o número de hebreus mortos na Shoah (holocausto): 6 milhões. Os escritos desta jovem hebréia holandesa, publicados postumamente, podem ser de grande ajuda para recordar, através de uma testemunha ocular, a desesperada busca de sentido no interior de acontecimentos cuja grandeza pede, da parte de quem não participou deles, unicamente uma memória atenta e silenciosa. Eis um trecho do diário de Etty Hillesum.

Não tenho grandes ilusões sobre como vão as coisas e renuncio inclusive à pretensão de ajudar os outros. Partirei sempre do princípio de ‘ajudar Deus’ o mais que posso, e se for capaz disso, isso significa que poderei também fazer algo pelos outros.

Sim, meu Deus, parece que tu não podes fazer muito para mudar as circunstâncias atuais, mas também isso faz parte da nossa vida. Eu não quero te responsabilizar pelo que está acontecendo. Mais tarde tu mesmo dirás que os responsáveis fomos nós. Cresce em mim, no ritmo das batidas do meu coração, uma certeza: tu não podes nos ajudar, mas somos nós que devemos te ajudar, defender até o fim a tua casa em nós.

Meu Deus, procurarei te ajudar a fim de que tu não sejas destruído dentro de mim, mas não posso te prometer nada antecipadamente. Mas uma coisa se torna cada vez mais evidente para mim: tu não podes nos ajudar, mas somos nós que devemos te ajudar e, assim, ajudar a nós mesmos. A única coisa que podemos salvar nestes tempos, que é também a única coisa que conta verdadeiramente, é um pequeno pedaço de ti em nós mesmos, meu Deus. E talvez possamos também ajudar a te desenterrar dos corações devastados dos outros.

(Comunità de Bose, Il libro dei testimoni, San Paolo, Milano, 2002, p. 556)

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Pacto das Catacumbas


Pacto das Catacumbas da Igreja serva e pobre

No dia 16 de novembro de 1965, há 47 anos, poucos dias antes do encerramento do Vaticano II, cerca de 40 padres conciliares celebraram uma Eucaristia nas Catacumbas de Domitila, em Roma, pedindo fidelidade ao Espírito de Jesus. Depois dessa celebração, assinaram o "Pacto das Catacumbas". O documento é um desafio aos "irmãos no Episcopado" a levar adiante uma "vida de pobreza", uma Igreja "serva e pobre", como sugerira o Papa João XXIII. Os signatários – entre eles muitos brasileiros e latino-americanos, embora muitos outros aderiram ao pacto mais tarde – se comprometiam a viver em pobreza, a renunciar a todos os símbolos ou privilégios do poder e a pôr os pobres no centro do seu ministério pastoral. O texto teve uma forte influência sobre a Teologia da Libertação, que surgiria nos anos seguintes. Vale a pena ler e meditar sempre de novo.

Nós, Bispos, reunidos no Concílio Vaticano II, esclarecidos sobre as deficiências de nossa vida de pobreza segundo o Evangelho; incentivados uns pelos outros, numa iniciativa em que cada um de nós quereria evitar a singularidade e a presunção; unidos a todos os nossos Irmãos no Episcopado; contando sobretudo com a graça e a força de Nosso Senhor Jesus Cristo, com a oração dos fiéis e dos sacerdotes de nossas respectivas dioceses; colocando-nos, pelo pensamento e pela oração, diante da Trindade, diante da Igreja de Cristo e diante dos sacerdotes e dos fiéis de nossas dioceses, na humildade e na consciência de nossa fraqueza, mas também com toda a determinação e toda a força de que Deus nos quer dar a graça, comprometemo-nos ao que se segue:
Dom Helder, um dos mentores do Pacto
1)        Procuraremos viver segundo o modo ordinário da nossa população, no que concerne à habitação, à alimentação, aos meios de locomoção e a tudo que daí se segue (cf. Mt 5,3; 6,33s; 8,20);
2)        Para sempre renunciamos à aparência e à realidade da riqueza, especialmente no traje (fazendas ricas, cores berrantes), nas insígnias de matéria preciosa (devem esses signos ser, com efeito, evangélicos). (cf. Mc 6,9; Mt 10,9s; At 3,6). Nem ouro nem prata.
3)        Não possuiremos nem imóveis, nem móveis, nem conta em banco, etc., em nosso próprio nome; e, se for preciso possuir, poremos tudo no nome da diocese, ou das obras sociais ou caritativas (cf. Mt 6,19-21; Lc 12,33s).
4)        Cada vez que for possível, confiaremos a gestão financeira e material em nossa diocese a uma comissão de leigos competentes e cônscios do seu papel apostólico, em mira a sermos menos administradores do que pastores e apóstolos (cf. Mt 10,8; At. 6,1-7).
5)        Recusamos ser chamados, oralmente ou por escrito, com nomes e títulos que signifiquem a grandeza e o poder (Eminência, Excelência, Monsenhor...). Preferimos ser chamados com o nome evangélico de Padre (cf. Mt 20,25-28; 23,6-11; Jo 13,12-15).
6)        No nosso comportamento, nas nossas relações sociais, evitaremos aquilo que pode parecer conferir privilégios, prioridades ou mesmo uma preferência qualquer aos ricos e aos poderosos (ex.: banquetes oferecidos ou aceitos, classes nos serviços religiosos) (cf. Lc 13,12-14; 1Cor 9,14-19).
7)        Do mesmo modo, evitaremos incentivar ou lisonjear a vaidade de quem quer que seja, com vistas a recompensar ou a solicitar dádivas, ou por qualquer outra razão. Convidaremos nossos fiéis a considerarem as suas dádivas como uma participação normal no culto, no apostolado e na ação social (cf. Mt 6,2-4; Lc 15,9-13; 2Cor 12,4).
8)        Daremos tudo o que for necessário de nosso tempo, reflexão, coração, meios, etc., ao serviço apostólico e pastoral das pessoas e dos grupos laboriosos e economicamente fracos e subdesenvolvidos, sem que isso prejudique as outras pessoas e grupos da diocese. Ampararemos os leigos, religiosos, diáconos ou sacerdotes que o Senhor chama a evangelizarem os pobres e os operários compartilhando a vida operária e o trabalho (cf. Lc 4,18s; Mc 6,4; Mt 11,4s; At 18,3s; 20,33-35; 1Cor 4,12 e 9,1-27).
9)        Cônscios das exigências da justiça e da caridade, e das suas relações mútuas, procuraremos transformar as obras de "beneficência" em obras sociais baseadas na caridade e na justiça, que levam em conta todos e todas as exigências, como um humilde serviço dos organismos públicos competentes (cf. Mt 25,31-46; Lc 13,12-14 e 33s).
Catacumba de Domitila, Roma
10)    Poremos tudo em obra para que os responsáveis pelo nosso governo e pelos nossos serviços públicos decidam e ponham em prática as leis, as estruturas e as instituições sociais necessárias à justiça, à igualdade e ao desenvolvimento harmônico e total do homem todo em todos os homens, e, por aí, ao advento de uma outra ordem social, nova, digna dos filhos do homem e dos filhos de Deus (cf. At 2,44s; 4,32-35; 5,4; 2Cor 8 e 9; 1Tim 5, 16).
11)    Achando a colegialidade dos bispos sua realização a mais evangélica na assunção do encargo comum das massas humanas em estado de miséria física, cultural e moral - dois terços da humanidade - comprometemo-nos: a) a participarmos, conforme nossos meios, dos investimentos urgentes dos episcopados das nações pobres; b) a requerermos juntos ao plano dos organismos internacionais, mas testemunhando o Evangelho, como o fez o Papa Paulo VI na ONU, a adoção de estruturas econômicas e culturais que não mais fabriquem nações proletárias num mundo cada vez mais rico, mas sim permitam às massas pobres saírem de sua miséria.
12)    Comprometemo-nos a partilhar, na caridade pastoral, nossa vida com nossos irmãos em Cristo, sacerdotes, religiosos e leigos, para que nosso ministério constitua um verdadeiro serviço; assim: a) esforçar-nos-emos para "revisar nossa vida" com eles; b) suscitaremos colaboradores para serem mais uns animadores segundo o espírito, do que uns chefes segundo o mundo; c) procuraremos ser o mais humanamente presentes, acolhedores...;  d) mostrar-nos-emos abertos a todos, seja qual for a sua religião (cf. Mc 8,34s; At 6,1-7; 1Tim 3,8-10).
13)    Tornados às nossas dioceses respectivas, daremos a conhecer aos nossos diocesanos a nossa resolução, rogando-lhes ajudar-nos por sua compreensão, seu concurso e suas preces.
Ajude-nos Deus a sermos fiéis.

1° Domingo do Advento


Sua misericórdia se estende de geração em geração!
(Jer 33,14-16; Sl 24/25; 1Ts 3,12-4,2; Lc 21,25-28.34-36)
O Advento é um tempo marcado pela pela abertura, pela esperança e pela vigilância. Somos convidados/as a compreender o núcleo central da esperança do povo de Israel e das comunidades cristãs. São quatro semanas que nos ajudam a reviver os milênios de expectativa messiânica do povo hebreu e os nove meses de espera ativa da Família de Nazaré. É um tempo em que convergimos nossos esforços no reconhecimento e na acolhida daquele que vem na fragilidade humana e nas brechas da história. É um período caracterizado pela esperança inquieta e quase delirante do advento de uma humanidade livre e solidária. Experimentemos viver estas quatro semanas iluminados pelo cântico profético que Maria dançou na casa de Isabel. De preparação do Natal ela entende, e muito. Nesta primeira semana, procuremos limpar e ajustar o nosso olhar, na esperança de ver a misericórdia de Deus se manifestando nos pequenos e grandes acontecimentos da nossa vida.
“Que vossos corações não fiquem pesados por causa das preocupações da vida.”
O comércio tem pressa e não espera o Advento para insultar nossos ouvidos e seduzir nosso olhor com suas mercadorias, quase convencendo-nos de que é preciso preparar o natal garantindo uma boa quota de mercadorias. Ele insiste que aquilo que adquirimos no natal passado há muito tempo já está superado, e que precisamos estar em dia. Nossa casa está repleta de coisas, mas temos a sensação de que nos falta algo essencial, que não podemos deixar de comprar.
Uma pesquisa realizada há alguns anos na Europa concluiu que uma família de classe média possui mais ou menos 10.000 objetos. E revelou que, na Itália, existem 75  automóveis e 122 celulares para cada 100 pessoas! A verdade é que as pessoas passaram a viver em função das coisas que compram, seja trabalhando em vista de reunir o dinheiro necessário para adquiri-las, seja investindo tempo e dinheiro para mantê-las limpas e e em funcionamento. Que sentido tem uma vida assim?
No Evangelho de hoje, embora num contexto um pouco diferente, Jesus nos adverte: “Tomem cuidado para que os corações de vocês não fiquem insensíveis por causa da gula, da embriaguez e das preocupações da vida...” A verdadeira preparação para o Natal não se faz adquirindo mais coisas e acrescentando atividades, mas reduzindo as posses, despojando-se do supérfluo, simplificando a vida,  reconhecendo e priorizando o essencial. É assim que agraderemos a Deus e cresceremos como pessoas.
“Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas.”
A Palavra de Deus não tem o objetivo de criar pânico. O que ela quer é despertar uma lúcida esperança e nos convidar à vigilância. Sol, lua, estrelas e mar são símbolos dos poderes que se querem divinos, estáveis e inquiestonáveis. E quando tais poderes são enfrentados e abalados, muitas pessoas são assaltadas pela ansiedade e dominadas pelo pavor. Frequentemente, a crítica é vista como insulto, e o abalo das instituições como fim da ordem e da civlização.
A mesma sensação se estende às outras dimensões da vida. Para muitas pessoas, ter que baixar o nível de consumo ou diminuir a extensão das posses parece uma catástrofe que rouba ou abala o sentido da vida. A própria Igreja católica perde o sono e a serenidade diante do avanço das demais denominações cristãs, pois parecem estar questionando a verdade da qual sente-se proprietária absoluta. Tais experiências têm sabor de perda e de fim, e é difícil vislumbrar nelas um começo novo e promissor.
Jesus chama a atenção para a novidade alvissareira que se esconde e se revela no ventre destas experiências. “Então eles verão o filho do homem vindo sobre uma nuvem, com poder e grande glória.” É o novo Homem e a nova Mulher que começam a ser gerados no ventre das pessoas e movimentos que se esvaziam dos entulhos culturais e religiosos engolidos à força. É a Humanidade nova e verdadeira que nasce dos escombros de um mundo desigual e do vazio fecundo criado pela diminuição do consumo.
“Levantai-vos e erguei a cabeça, porque a vossa libertação está próxima!”
Jesus nos convida e ver com lucidez e esperar com confiança. “Quando estas coisas começarem a acontecer, levantem-se e ergam a cabeça, porque a libertação de vocês está próxima.” “Estas coisas” são a instabilidade dos grandes poderes e o consequente medo de muitas pessoas, mas é principalmente o renascimento da humanidade verdadeira, sustentada na aparente inconsistência das nuvens e não na estabilidade do sol e da lua; aleitada no seio da compaixão e não na mamadeira das leis; assegurada pelas mãos que se estendem para construir e não pelas armas que arrasam.
Mas este nascimento não é evidente, nem se impõe à nossa percepção. Jeremias diz que direito e a justiça são como um broto no meio de grandes árvores. Novos Homens e Mulheres não costumam ganhar espaço no panteão dos meios de comunicação. Enquanto os olhos treinados para aplaudir poderes e grandezas continuam voltados a Jerusalém, não podem notar nada de novo em Belém. Então, o Advento é um necessário tempo de vigilância, pois Deus nos visita em fraldas, vem ao mundo como broto em terra seca. Para vê-lo e reconhecê-lo, precisamos purificar e ajustar o nosso olhar!
 “Mostra-me, Senhor, teus caminhos, ensina-me tuas veredas.”
Olhar amplo e vigilância são atitudes necessárias para que esse misterioso Dia não nos surpreenda correndo atrás de comidas e de bebidas – de perus e de espumantes! – e preocupados/as com nossa conta que, corroída pelo insaciável desejo de consumir, está em vermelho. Este tempo vai sendo Hoje, e o lugar está nas promissoras u-topias/não-lugares cotidianas. O Dia é cada dia e o lugar é um pouco por todo lado. Não esperemos nada de imponente e ostensivo.
E atenção com a tentação dos calendários! Eles devoram nossa alma. O que é desesperador não é perceber que o dia 25 se aproxima e ainda não adquirimos os bens que parecem ser o sumo bem, mas dar-se conta de que o Natal passou e nada de novo e profundo aconteceu conosco. Vivamos o Advento esquecendo o calendário fixo, abandonando a ansiedade de multiplicar novenas e pedidos. Antes, afaguemos a terra para conhecer seus desejos e, reconhecendo a propícia estação, fecunddêmo-la com o melhor de nós mesmos/as. Afinal, a misericórdia de Deus chega até à nossa geração.
“Confio em ti, meu Deus...”
O tempo de Advento nos convida também a rezar “todo tempo”. Trata-se de encontrar meios para  manter e cultivar esta vital abertura ao Deus que veio, que vem e que virá. Sem esta abertura acabamos enclausurados em nós mesmos/as, avessoas a qualquer esperança e refratários a toda mudança. Sem esta janela para o amanhã, acabaremos cegos/as às novidades emergentes e reféns do ontem, partes daquilo que já era, membros inertes de um corpo morto.
A verdadeira oração não consiste em apresentar a Deus uma lista de necessidades e caprichos, mas fazer-nos presentes diante de Deus para conhecer seu mistério e acolher sua vontade. Enquanto abertura e confiança em Deus, a oração suscita e sustenta a força que necessitamos para escapar da tentação do consumo irracional e das relações impessoais. Ela nos mantém de pé diante do Filho do Homem que vem sobre a vulnerabilidade das nuvens, envolto na fragilidade dos bebês.
 “Progridam sempre mais no modo de proceder.”
Paulo nos pede carinhosamente que continuemos crescendo e progredindo em humanidade, que cresçamos no amor mútuo com todas as pessoas. É assim que agradaremos a Deus e permaneceremos firmes e irrepreensíveis. O que agrada a Deus não é consumo, nem triunfo ou o sucesso, mas o crescimento no serviço aos outros. Este é o caminho que Deus ensina aos pobres e mostra aos justos, respondendo à súplica do salmista. É assim que sua misericórdia se estende de geração em geração.
Uma vez mais: a verdadeira preparação para o Natal do Senhor, assim como para nosso crescimento como pessoas, consiste em simplificar a vida e dar prioridade ao que é essencial, em criar espaços vazios para acolher o que está para nascer ou para chegar, e não em muliplicar preces e devoções, em comprar coisas que acabam criando um vazio que nos enche de tédio.
Deus amável, pai e mãe de todas as misericórdias: iniciamos nossa caminhada do Advento pedindo que purifiques e direciones nosso olhar, a fim de que vejamos os múltiplos sinais da tua visita e da tua presença libertadoras. Que teu Espírito nos guie na verdade e nos faça crescer na santidade e na justiça, como ocorreu Charles de Foucault no deserto norteafricano (+01/12/1916) e São Francisco Xavier em sua missão apaixonada sem retorno no Oriente. (+03/12/1552). Assim seja! Amém!
Pe. Itacir Brassiani msf

Fatos & Personagens: terrorismo de estado


Campeonato mundial do terror
Imagem do massacre de Katyn 

No desprezo pela vida humana, Hitler era imbatível; mas teve competidores.

No ano de 2010, o governo russo reconheceu oficialmente que foi Stalin o autor da matança de 14.500 prisioneiros polacos em Katyn, Kharkov e Miednoje.

Os polacos tinham sido fuzilados na nuca na primavera de 1940, e o crime havia sido sempre atribuído à Alemanha nazista.

Em 1945, quando já era mais que evidente a vitória dos aliados, a cidade alemã de Dresden e as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki foram arrasadas até a última pedra.

As fontes oficiais das nações vitoriosas disseram que elas eram alvos militares, mas os milhares e milhares de mortos foram todos civis, e entre as ruínas não apareceu nem mesmo um estilingue de caçar passarinhos.

(Eduardo Galeano, Os filhos dos dias, L&PM, 2012, p. 375)