quinta-feira, 29 de novembro de 2012

1° Domingo do Advento


Sua misericórdia se estende de geração em geração!
(Jer 33,14-16; Sl 24/25; 1Ts 3,12-4,2; Lc 21,25-28.34-36)
O Advento é um tempo marcado pela pela abertura, pela esperança e pela vigilância. Somos convidados/as a compreender o núcleo central da esperança do povo de Israel e das comunidades cristãs. São quatro semanas que nos ajudam a reviver os milênios de expectativa messiânica do povo hebreu e os nove meses de espera ativa da Família de Nazaré. É um tempo em que convergimos nossos esforços no reconhecimento e na acolhida daquele que vem na fragilidade humana e nas brechas da história. É um período caracterizado pela esperança inquieta e quase delirante do advento de uma humanidade livre e solidária. Experimentemos viver estas quatro semanas iluminados pelo cântico profético que Maria dançou na casa de Isabel. De preparação do Natal ela entende, e muito. Nesta primeira semana, procuremos limpar e ajustar o nosso olhar, na esperança de ver a misericórdia de Deus se manifestando nos pequenos e grandes acontecimentos da nossa vida.
“Que vossos corações não fiquem pesados por causa das preocupações da vida.”
O comércio tem pressa e não espera o Advento para insultar nossos ouvidos e seduzir nosso olhor com suas mercadorias, quase convencendo-nos de que é preciso preparar o natal garantindo uma boa quota de mercadorias. Ele insiste que aquilo que adquirimos no natal passado há muito tempo já está superado, e que precisamos estar em dia. Nossa casa está repleta de coisas, mas temos a sensação de que nos falta algo essencial, que não podemos deixar de comprar.
Uma pesquisa realizada há alguns anos na Europa concluiu que uma família de classe média possui mais ou menos 10.000 objetos. E revelou que, na Itália, existem 75  automóveis e 122 celulares para cada 100 pessoas! A verdade é que as pessoas passaram a viver em função das coisas que compram, seja trabalhando em vista de reunir o dinheiro necessário para adquiri-las, seja investindo tempo e dinheiro para mantê-las limpas e e em funcionamento. Que sentido tem uma vida assim?
No Evangelho de hoje, embora num contexto um pouco diferente, Jesus nos adverte: “Tomem cuidado para que os corações de vocês não fiquem insensíveis por causa da gula, da embriaguez e das preocupações da vida...” A verdadeira preparação para o Natal não se faz adquirindo mais coisas e acrescentando atividades, mas reduzindo as posses, despojando-se do supérfluo, simplificando a vida,  reconhecendo e priorizando o essencial. É assim que agraderemos a Deus e cresceremos como pessoas.
“Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas.”
A Palavra de Deus não tem o objetivo de criar pânico. O que ela quer é despertar uma lúcida esperança e nos convidar à vigilância. Sol, lua, estrelas e mar são símbolos dos poderes que se querem divinos, estáveis e inquiestonáveis. E quando tais poderes são enfrentados e abalados, muitas pessoas são assaltadas pela ansiedade e dominadas pelo pavor. Frequentemente, a crítica é vista como insulto, e o abalo das instituições como fim da ordem e da civlização.
A mesma sensação se estende às outras dimensões da vida. Para muitas pessoas, ter que baixar o nível de consumo ou diminuir a extensão das posses parece uma catástrofe que rouba ou abala o sentido da vida. A própria Igreja católica perde o sono e a serenidade diante do avanço das demais denominações cristãs, pois parecem estar questionando a verdade da qual sente-se proprietária absoluta. Tais experiências têm sabor de perda e de fim, e é difícil vislumbrar nelas um começo novo e promissor.
Jesus chama a atenção para a novidade alvissareira que se esconde e se revela no ventre destas experiências. “Então eles verão o filho do homem vindo sobre uma nuvem, com poder e grande glória.” É o novo Homem e a nova Mulher que começam a ser gerados no ventre das pessoas e movimentos que se esvaziam dos entulhos culturais e religiosos engolidos à força. É a Humanidade nova e verdadeira que nasce dos escombros de um mundo desigual e do vazio fecundo criado pela diminuição do consumo.
“Levantai-vos e erguei a cabeça, porque a vossa libertação está próxima!”
Jesus nos convida e ver com lucidez e esperar com confiança. “Quando estas coisas começarem a acontecer, levantem-se e ergam a cabeça, porque a libertação de vocês está próxima.” “Estas coisas” são a instabilidade dos grandes poderes e o consequente medo de muitas pessoas, mas é principalmente o renascimento da humanidade verdadeira, sustentada na aparente inconsistência das nuvens e não na estabilidade do sol e da lua; aleitada no seio da compaixão e não na mamadeira das leis; assegurada pelas mãos que se estendem para construir e não pelas armas que arrasam.
Mas este nascimento não é evidente, nem se impõe à nossa percepção. Jeremias diz que direito e a justiça são como um broto no meio de grandes árvores. Novos Homens e Mulheres não costumam ganhar espaço no panteão dos meios de comunicação. Enquanto os olhos treinados para aplaudir poderes e grandezas continuam voltados a Jerusalém, não podem notar nada de novo em Belém. Então, o Advento é um necessário tempo de vigilância, pois Deus nos visita em fraldas, vem ao mundo como broto em terra seca. Para vê-lo e reconhecê-lo, precisamos purificar e ajustar o nosso olhar!
 “Mostra-me, Senhor, teus caminhos, ensina-me tuas veredas.”
Olhar amplo e vigilância são atitudes necessárias para que esse misterioso Dia não nos surpreenda correndo atrás de comidas e de bebidas – de perus e de espumantes! – e preocupados/as com nossa conta que, corroída pelo insaciável desejo de consumir, está em vermelho. Este tempo vai sendo Hoje, e o lugar está nas promissoras u-topias/não-lugares cotidianas. O Dia é cada dia e o lugar é um pouco por todo lado. Não esperemos nada de imponente e ostensivo.
E atenção com a tentação dos calendários! Eles devoram nossa alma. O que é desesperador não é perceber que o dia 25 se aproxima e ainda não adquirimos os bens que parecem ser o sumo bem, mas dar-se conta de que o Natal passou e nada de novo e profundo aconteceu conosco. Vivamos o Advento esquecendo o calendário fixo, abandonando a ansiedade de multiplicar novenas e pedidos. Antes, afaguemos a terra para conhecer seus desejos e, reconhecendo a propícia estação, fecunddêmo-la com o melhor de nós mesmos/as. Afinal, a misericórdia de Deus chega até à nossa geração.
“Confio em ti, meu Deus...”
O tempo de Advento nos convida também a rezar “todo tempo”. Trata-se de encontrar meios para  manter e cultivar esta vital abertura ao Deus que veio, que vem e que virá. Sem esta abertura acabamos enclausurados em nós mesmos/as, avessoas a qualquer esperança e refratários a toda mudança. Sem esta janela para o amanhã, acabaremos cegos/as às novidades emergentes e reféns do ontem, partes daquilo que já era, membros inertes de um corpo morto.
A verdadeira oração não consiste em apresentar a Deus uma lista de necessidades e caprichos, mas fazer-nos presentes diante de Deus para conhecer seu mistério e acolher sua vontade. Enquanto abertura e confiança em Deus, a oração suscita e sustenta a força que necessitamos para escapar da tentação do consumo irracional e das relações impessoais. Ela nos mantém de pé diante do Filho do Homem que vem sobre a vulnerabilidade das nuvens, envolto na fragilidade dos bebês.
 “Progridam sempre mais no modo de proceder.”
Paulo nos pede carinhosamente que continuemos crescendo e progredindo em humanidade, que cresçamos no amor mútuo com todas as pessoas. É assim que agradaremos a Deus e permaneceremos firmes e irrepreensíveis. O que agrada a Deus não é consumo, nem triunfo ou o sucesso, mas o crescimento no serviço aos outros. Este é o caminho que Deus ensina aos pobres e mostra aos justos, respondendo à súplica do salmista. É assim que sua misericórdia se estende de geração em geração.
Uma vez mais: a verdadeira preparação para o Natal do Senhor, assim como para nosso crescimento como pessoas, consiste em simplificar a vida e dar prioridade ao que é essencial, em criar espaços vazios para acolher o que está para nascer ou para chegar, e não em muliplicar preces e devoções, em comprar coisas que acabam criando um vazio que nos enche de tédio.
Deus amável, pai e mãe de todas as misericórdias: iniciamos nossa caminhada do Advento pedindo que purifiques e direciones nosso olhar, a fim de que vejamos os múltiplos sinais da tua visita e da tua presença libertadoras. Que teu Espírito nos guie na verdade e nos faça crescer na santidade e na justiça, como ocorreu Charles de Foucault no deserto norteafricano (+01/12/1916) e São Francisco Xavier em sua missão apaixonada sem retorno no Oriente. (+03/12/1552). Assim seja! Amém!
Pe. Itacir Brassiani msf

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