Quando as águas do Rio de Janeiro
arderam
Em 1910, no dia 27 de novembro, acabou a
rebelião da marujada brasileira. Os sublevados haviam ameaçado, disparando seus
canhões tiros de advertência, a cidade do Rio de Janeiro.
“Basta de chibata, ou vamos fazer a
cidade virar pó”, gritavam eles. A bordo dos seus navios de guerra, as
chibatadas eram hábito, e com frequência os castigados morriam.
E depois de cinco dias o motim triunfou,
e as chibatas foram jogadas no fundo das águas, e os párias do mar desfilaram,
aclamados, pelas ruas do Rio.
Um tempo depois, o chefe da insurreição,
João Cândido, filho de escravos, almirante por decisão dos sublevados, tornou a
ser marinheiro raso.
E um tempo depois, foi expulso. E um
tempo depois, foi preso. E um tempo depois, foi trancado num manicômio. Ele tem
seu monumento, diz uma canção, nas pedras pisadas do cais.
(Eduardo Galeano, Os filhos dos dias, L&PM, 2012,
p. 373)
Ouça esta legenda na voz da saudosa Elis Regina: https://www.youtube.com/watch?v=n6-i_XQsxCE
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