Como era muito míope, não teve outro
jeito a não ser inventar lentes que fundaram a ótica moderna e um telescópio
que descobriu uma estrela nova.
E como era muito olhador, olhando um
floco de neve na palma da sua mão viu que a alma do gelo era uma estrela de
seis pontas, seis como seis são os lados dos favos das abelhas em suas
colméias, e com os olhos de sua razão viu que a forma hexagonal sabe usar o
espaço da melhor maneira.
E na varanda de sua casa viu que não era
circular a viagem de suas plantinhas na busca da luz, e deduziu que tampouco
era circular a viagem dos planetas ao redor do sol, e seu telescópio se pôs a
medir as elipses que descrevem.
Vendo, viveu. Quando deixou de ver,
morreu, no dia 16 de novembro de 1630. A lápide de Johannes Kepler diz: “Medi os
céus. Agora, meço as sombras.”
(Eduardo Galeano, Os filhos dos dias, L&PM, 2012,
p. 362)
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