Na manhã de 14 de novembro de 1889, Nellie
Bly começou sua viagem.
Júlio Verne não achava que aquela
mulherzinha linda conseguisse dar a volta ao mundo, ela, sozinha, em menos de
oitenta dias.
Mas Nellie abraçou o planeta em setenta
e dois dias, enquanto ia publicando, reportagem após reportagem, o que via e
vivia.
Aquele não era o primeiro desafio da
jovem jornalista, nem foi o último.
Para escrever sobre o México, se
mexicanizou tanto que o governo do México, assustado a expulsou. Para escrever
sobre as fábricas, trabalhou como operária. Para escrever sobre as prisões, se
fez prender por roubo. Para escrever sobre manicômios, simulou loucura, e atuou
tão bem que os médicos a declararam louca de pedra; e assim conseguiu denunciar
os tratamentos psiquiátricos que padeceu, capazes de enlouquecer qualquer um.
Quando Nellie tinha vinte anos, em
Pittsburgh, o jornalismo era coisa de homens.
Naquela época, ela cometeu a insolência
de publicar suas primeiras reportagens.
Trinta anos depois publicou as últimas,
desviando das balas na linha de fogo da Primeira Guerra Mundial.
(Eduardo Galeano, Os filhos dos dias, L&PM, 2012,
p. 360)
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