Hoje é o dia da música, e esta data está ligada à memória de Santa
Cecília, mártir cristã do séculos II-III. Ela foi assassinada, ao lado do marido
Valeriano e do cunhado Tibúrcio por ordens do prefeito de Roma, Túrcio
Almanachio.
O que se sabe de Cecília é que pertencia à nobre família dos Cecili. Era
reconhecida pelas substanciosas ajudas econômicas que prestava à nascente
Igreja e aos seus pastores. Foi uma mulher corajosa, que ousou dar refúgio na sua
própria casa para alguns cristãos perseguidos. Tendo sido prometida como esposa
a Valeriano, que era pagão, Cecília convenceu ele e o cunhado a se tornarem
cristãos.
Sua relação com a música vem de uma tradição segundo a qual, na festa do
seu casamento, enquanto o povo fesjefava tocando e cantando músicas populares,
Cecília cantava e louvava silenciosamente a Deus e lhe pedia a graça da
castidade, tanto para ela como para o marido.
Eduardo Galeano registra de um modo muito seu o significado do dia da
música.
De acordo com o que contam os
memoriosos, em outros tempos o sol foi dono da música, até que o vento a
roubou. A partir de então, para consolar o sol, os pássaros oferecem a ele
concertos no começo e no fim de cada dia.
Mas os alados cantores não conseguem
competir com os gemidos e rugidos dos motores que governam as grandes cidades. Pouco
ou nada se houve do canto dos pássaros. Em vão eles arrebentam o peito querendo
se fazer ouvir, e o esforço para soar cada vez mais alto arruína seus trinados.
E as fêmeas já não reconhecem seus
machos. Eles as chamam, virtuosos tenores, irresistíveis barítonos, mas no
barulho urbano não dá para perceber quem é quem, e elas acabam aceitando o
abrigo de asas estranhas.
(Eduardo Galeano, Os
filhos dos dias, L&PM, 2012, p. 368)
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