sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Ícones da missão: Maria de Betânia


Maria de Betânia: a mulher do desperdício

Seis dias antes da Páscoa, Jesus foi para Betânia, onde morava Lázaro, que ele havia essuscitado dos mortos. Aí ofereceram um jantar para Jesus. Marta servia e Lázaro era um dos que estavam à mesa com Jesus. Então Maria levou quase meio litro de perfume de nardo puro e muito caro. Ungiu com ele os pés de Jesus e os enxugou com seus cabelos. A casa inteira se encheu com o perfume.

Judas Iscariotes, um dos discípulos, aquele que ia trair esus, disse: "Por que esse perfume não foi vendido por trezentas moedas de prata, para dar aos pobres?" Judas disse isso não porque se preocupava com os pobres, mas porque era um ladrão. Ele tomava conta da bolsa comum e roubava do que era depositado nela. Jesus, porém, disse: "Deixe-a. Ela guardou esse perfume para me ungir no dia do meu sepultamento. No meio de vocês sempre haverá pobres; enquanto eu não estarei sempre com vocês."

Muitos judeus ficavam sabendo que Jesus estava aí em Betânia. Então foram aí não só por ausa de Jesus, mas também para verem Lázaro, que Jesus havia ressuscitado dos mortos.  Então os chefes dos sacerdotes decidiram matar também Lázaro,  porque, por causa dele, muitos udeus deixavam seus chefes e acreditavam em Jesus.(Jo 11,1-11)

Tu, Maria, devias ser a irmã mais nova. Marta aparece sempre antes de ti, sempre preocupada, mais concreta, mais senhora das situações. O próprio nome de Marta diz isso: significa literalmente patroa da casa. Quando a maior faz tudo o que julga oportuno, o que sobra para a mais nova?

Nós olhamos impressionados para aquela cena, aquela tua atenção a uma coisa não necessária, não exigida, não prevista. Olhando friamente, precisavas bastante coragem para enfrentar os comentários maliciosos. Falou Judas, mas não se podia esperar que os demais não o seguissem. Marta não te havia dito nada?

Naquele momento, como uma inesperada irrupção vulcânica – por qual profundo intuito ou luz do alto não sabemos – tu tiraste da bolsa o precioso perfume e o derramaste sem medida sobre os pés de Jesus. Com um perfume tão caro e confiável, tu uniste amor e fidelidade a Deus feito carne, ele também cheio de graça e de fidelidade.

Aquela tua atitude foi conhecida pelos crentes medievais, que na sua simplicidade, espalharam a história do perfume precioso que representam algumas belas e preciosas catedrais. Sabem o que isso significa a monja e o monge que derramam aos pés de Cristo o perfume da própria vida. Sabem-no também as nossas vovós, dobradas sob o peso do trabalho, dos filhos e netos, que antes do amanhecer já estavam na igreja oferecendo a Deus a última hora de uma noite mal dormida.

Tu, Maria, nos colocas numa encruzilhada. Nós nos apropriamos do mundo e até pensamos às vezes que Jesus Cristo está praticamente sobrando. Às vezes afirmamos que bastaria garantir uma justa distribuição de bens, elaborar leis justas, exportar nossa democracia, fazer cumprir as leis, e o mundo entraria nos trilhos...

O mundo está cheio de coisas esbanjadas e de gente que calcula aquilo que se poderia fazer com o que é desperdiçado. Mas estamos marcando passo do ano 2015, limite estabelecido pela FAO para realizar as metas do milênio está próximo. Nele deveríamos vencer a fome no mundo, mas multidões ainda vivem sob a fome. Tiramos o tempo que didicávamos a Deus mas mesmo assim não temos tempo para quem está próximo.

Talvez a estrada seja outra. Talvez tenhamos necessidade da tua iluminada e corajosa certeza de que não é o dinheiro que salva o mundo. O que salva o mundo são aqueles pés que seriam pregados na cruz, aquela vida que seria inteiramente doada. Estes nos curam do mal profundo de viver por nós mesmos.

“Deixem que ela faça”, diz Jesus. Deixemos que ajam aqueles/as que amam a Deus de todo o coração. Diante da casa deles/as nenhum pobre sairá sem uma resposta, sem um gesto. Deixemos que atuem aqueles/as que amam a Deus com todas as forças, porque sempre haverá um/a pronto a socorrer quem está caído. Deixem que façam algo aqueles/as que amam a Deus com toda a alma, porque estarão prontos a morrer pelo menor dos seus filhos. Deixem a iniciativa por conta daqueles/as que honram um Deus feito carne, porque saberão honrar a carne de cada um dos pobres que encontrarem nos seus caminhos.

Maria, tu nos ensinas que é tempo de deixar de pensar que viver para Deus é um desperdício e que Deus é um peso e um atrapalho para o nosso mundo. Dá-nos teu olhar fecundado pela confiança total, a plena entrega, o pleno e não calculado desperdício de nós mesmos por Cristo. Talvez então possamos darmo-nos conta que o perfume invadirá toda a casa, não o nosso perfume, mas o dele. E o mundo respirará um novo ar.
 (Teresina Caffi, In cammino con il Vangelo. Icone della missione, EMI, Bologna, 2008, p. 98-101)

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