sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Ícones da missão: a Samaritana


A Samaritana: a surpresa de um encontro

Chegou, então, a uma cidade da Samaria chamada Sicar, perto do campo que Jacó tinha dado ao seu filho José.  Aí ficava a fonte de Jacó. Cansado da viagem, Jesus sentou-se junto à fonte. Era quase meio-dia. Então chegou uma mulher da Samaria para tirar água. Jesus lhe pediu: "Dê-me de beber."
A samaritana perguntou: "Como é que tu, sendo judeu, pedes de beber a mim, que sou samaritana?" 10 Jesus respondeu: "Se você conhecesse o dom de Deus, e quem lhe está pedindo de beber, você é que lhe pediria. E ele daria a você água viva." A mulher disse a Jesus: "Senhor, não tens um balde, e o poço é fundo. De onde vais tirar a água viva?  Certamente não pretendes ser maior do que o nosso pai Jacó, que nos deu este poço, e do qual ele bebeu junto com seus filhos e animais!"
Jesus respondeu: "Quem bebe desta água vai ter sede de novo. Mas aquele que beber a água que eu vou dar, esse nunca mais terá sede. E a água que eu lhe darei, vai se tornar dentro dele uma fonte de água que jorra para a vida eterna." A mulher disse a Jesus: "Senhor, dá-me dessa água, para que eu não tenha mais sede, nem precise vir aqui para tirar."
Jesus disse à samaritana: "Vá chamar o seu marido e volte aqui." A mulher respondeu: "Eu não tenho marido." Jesus disse: "Você tem razão ao dizer que não tem marido. De fato, você teve cinco maridos. E o homem que você tem agora, não é seu marido. Nisso você falou a verdade." A mulher então disse a Jesus: "Senhor, vejo que és profeta! Os nossos pais adoraram a Deus nesta montanha. E vocês judeus dizem que é em Jerusalém o lugar onde se deve adorar."
Jesus disse: "Mulher, acredite em mim. Está chegando a hora, em que não adorarão o Pai, nem sobre esta montanha nem em Jerusalém. Vocês adoram o que não conhecem, nós adoramos o que conhecemos, porque a salvação vem dos judeus. Mas está chegando a hora, e é agora, em que os verdadeiros adoradores vão adorar o Pai em espírito e verdade. Porque são estes os adoradores que o Pai procura...
Então a mulher deixou o balde, foi para a cidade e disse para as pessoas: "Venham ver um homem que me disse tudo o que eu fiz. Será que ele não é o Messias?" (João 4,5-42)

Para ter havido cinco maridos, esperávamos encontrar você mais ladina, desiludida e endurecida. Você sabia das coisas: os amores se acendem mas também se apagam; as promessas são feitas mas depois são suspensas. Você parece mais cansada que desencantada. Mas naquele dia você se deixou encantar como uma adolescente e, depois, correu tão despreocupadamente, igualzinho às suas irmãs mais novas, que ainda acreditam... em coisas eternas.

O que impressiona é aquele seu esmigalhar-se, passo a passo, e não por uma habitual aventura, aquela que arrasta um homem a uma mulher, e vice-versa. Ele lhe pediu água, e desvelou sua sede. Ele ofereceu fontes das suas mãos vazias. Cansado, ele ofereceu a você uma vida eterna. E mesmo não a conhecendo, ele disse quem você era. Você procurava o templo, e ele lhe falou de um outro templo, não de pedra, um templo desejado pelo Pai...

O Pai... Você tinha seus pais: eles lhe haviam dado aquele poço. O poço d’água; o poço do ensinamento deles; o poço da sua identidade. Com o balde, você conseguia tirar água, e isso lhe parecia o suficiente.
Nós contemplamos surpresos como aquele homem hebreu, sedento, tornou-se para você um profeta, o messias, aquele que respondia não apenas às suas perguntas, mas também à sua espera. Naquele dia, você abandonou o balde. Você já havia bebido, já havia encontrado a fonte! Como o cego de Jericó, como Simão, você abandonou tudo, e saiu correndo.

É exatamente isso que invejamos em você. Porque nós não abandonamos nada, nem corremos. Permanecemos grudados no nosso poço. Até admitimos que é possível beber também num outro poço, mas... Jovens ou velhos, arrastamo-nos sob mesmo passo incerto. Não que a nossa água seja ruim, mas estamos sempre andando para trás e repetindo as mesmas coisas. Quanto à outra água, quanto ao dom de Deus, tratamos como se fosse um ‘mais’, como uma espécie de brindezinho do vendedor do mercado.

Não, não nos soltamos na aventura. Não nos deixamos esmigalhar por ele, como você. Não nos deixamos surpreender, como você. Diligentemente, tiramos tudo do nosso poço: em casa, na vida social, talvez um pequeno gesto de solidariedade... As contas somos nos que fazemos, e somos nós que tomamos as decisões. Para dizer a verdade, uma outra fonte não os serve para nada. Somos suficientemente bons, e preparados para curar o mundo.

Desconhecida habitante de Sicar, dá-nos um pouco da sua juventude, da sua inacreditável inocência. Faz tempo que alguém está sentado à beira do nosso poço. Não queremos que, quando os discípulos voltarem, siga a viagem.

(Teresina Caffi, In cammino con il Vangelo. Icone della missione, EMI, Bologna, 2008, p. 102-105)

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