sábado, 10 de novembro de 2012

Uma destruição massiva: a geopolítica da fome (17)


A ONU incluiu o direito à alimentação entre os Direitos Humanos (cf. artigo 25). É na perspectiva da luta por esse direito, um dos mais violados, que publico aqui uma série de breves textos sobre o escândalo da fome e o direito humano à alimentação. São informações e reflexões que simplesmente traduzo e resumo do recente livro Destruction massive. Géopolitique de la faim, de Jean Ziegler, relator especial da ONU para o direito à alimentação, de 2000 a 2008.
O livro foi publicado em outubro de 2011, pela editora Seuil (Paris).

O livre mercado é assassino!
Gana foi o segundo país da África subsahariana a ousar a independência, em 1957. Kwane Nkrumah, profeta da unificação pan-africana foi seu primeiro presidente, eleito em 1960. As tribos que compõem o povo de Gana são valentes e defendem visceralmente sua soberanía. Mas também Gana teve que se dobrar diante do FMI e das empresas multinacionais. E seu destino foi muito semelhante ao da Zâmbia.

Em 1970, aproximadamente 800.000 produtores locais produziam todo o arroz consumido em Gana. Mas em 1980 o FMI deu seu primeiro golpe: a tarifa sobre a importação de arroz foi reduzida em 80%; o Estado foi forçado a suprimir todos os subsídios oferecidos aos agricultores para a compra de sementes, fertilizantes e pesticidas. O ministério que regulamentava o comério agrícola foi suprimido e as empresas privadas controlam autonomamente as exportações. Hoje Gana importa mais de 70% do arroz que consome!

Gana é uma democracia aguerrida, e seus deputados são de um nacionalismo combatente. Para promover o renascimento da rizicultura nacional o Parlamento Nacional aprovou em 2003 a taxação de 25% sobre as importações de arroz. O FMI reagiu com vigor e obrigou o Executivo de Gana a anular a lei. Resultado: em 2010 Gana gastou mais de 24 bilhões de dólares com a importação de alimentos.

Em 2011, a especulação nas Bolsas de Valores fez com que o preço dos alimentos básicos fossem às estrelas. Consequentemente, os países da África puderam importar apenas uma pequena parte dos alimentos que necessitavam. “Por toda parte e sempre, a violência e a arbitrariedade do mercado livre de toda regra e controle social mata. Mata através da miséria e da fome.” (p. 184; cf. p. 183-184).

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