sábado, 24 de novembro de 2012

Uma destruição massiva: a geopolítica da fome (20)


A ONU incluiu o direito à alimentação entre os Direitos Humanos (cf. artigo 25). É na perspectiva da luta por esse direito, um dos mais violados, que publico aqui uma série de breves textos sobre o escândalo da fome e o direito humano à alimentação. São informações e reflexões que simplesmente traduzo e resumo do recente livro Destruction massive. Géopolitique de la faim, de Jean Ziegler, relator especial da ONU para o direito à alimentação, de 2000 a 2008.
O livro foi publicado em outubro de 2011, pela editora Seuil (Paris).

A vitória e a premiação dos predadores.
Pensando nas crianças da Ásia, o PAM desenvolveu uma ração com os nutrientes que uma criança em crescimento necessita diariamente. O custo é de U$D 0,25! Com U$D 50,00 é possível alimentar uma criança na escola durante um ano!

Antes de 2009, o PAM fornecia alimento escolar a uma média de 22 milhões de estudantes em 70 países, com um custo total de 460 milhões de dólares. Além disso, distribuía 3,3 milhões de refeições que as crianças levavam às suas casas, e alimentava 730 mil crianças que frequentavam escolas maternais.

Mas no final de 2008 os subsídios dos países da Europa para a ajuda alimentar urgente cairam à metade. O orçamento do PAM caiu de 6 para 3,2 bilhões de dólares. O PAM teve que praticamente suspender as refeições escolares em todo o mundo. Somente em Bangladesh, mais de 1 milhão de crianças ficaram sem esta refeição diária.

Por quê? A explicação é terrivelmente simples. Em outubro de 2008, 17 chefes de Estado da Europa se reuniram em Paris e, através de N. Sarkozy e A. Merkel comunicaram ao mundo que acabavam de liberar 1,7 trilhão de dólares para sustentar os créditos bancários e aumentar a capacidade financeira dos bancos de 3 a 5%... Decidiram diminuir o empenho no combate à fome e aumentar a fatia doada aos bancos...

Em julho de 2011 a ONU tornou público que 12,4 milhões de pessoas estavam aemaçadas pela fome no nordeste da África, e 1,2 milhões de crianças estavam em grave risco de vida somente no sul da Somália. O PAM solicitou 1,6 bilhão de dólares, e recebeu apenas 30%. E, dos 7 bilhões de dólares necessários para levar adiante seus programas em 2011, até dezembro de 2010 só estavam garantidos 2,7 bilhões...

É verdade que Sarkozy e Merkel não foram eleitos para combater a fome no mundo, mas para colocar em ordem e sustentar a economia da França e da Alemanha. E que os cadáveres das crianças mortas pela fome produzida por suas políticas não jazem na avenida Champs-Elysées ou na Kurfürstendamm, mas bem longe, no Sul do mundo...

“Os verdadeiros responsáveis por essa situação são os especuladores – administradores dos Hedge Funds, distintos grandes banqueiros e outros predadores do capital financeiro globalizado – que, por obsessão de lucro e vantagens pessoais, e também por cinismo, arruinaram o sistema financeiro mundial e ‘queimaram’ centenas de bilhões de euros. Estes predadores deveriam ser levados ao tribunal e julgados por crimes contra a humanidade” (p. 219).

Mas o poder deles é tal, e a fragilidade dos Estados é tamanha, que eles não arriscam absolutamente nada. Ao contrário! Depois de 2009, retomaram com a maior cara-depau e como se nada tivesse acontecido, suas práticas criminosas. (cf. p. 213-220).

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