A vivência
da castidade celibatária no continente Africano
Participei na manhã de hoje
(13.11.2012) da reunião semestral da direção da Sagrada Congregação para a Evangelização dos Povos (SCEP) com o Conselho
dos 18 (grupo de 10 Superioras e 8 Superiores Gerais). É uma instância
de diálogo e reflexão criada pela SCEP como forma de escutar a Vida Religiosa, que
em muitos lugares é a principal agente da evangelização.
Neste ano, a agenda foi
definida a partir da exortação pós-sinodal
Africae Munus, do Papa Bento
XVI (19.11.2011). Na reunião de maio passado o tema foi a compreensão e a
vivência do voto de pobreza e, hoje,
a visão e a vivência do voto de castidade.
Lamento que se reflita sobre os votos em particular sem aprofundar o sentido da
vida religiosa como tal, pois assim os votos carecem de um eixo que lhes
empreste significado.
A reflexão foi provocada inicialmente
por três breves conferências sobre a questão (um superior e uma ex-superiora
geral africanos e um assessor da SCEP), batante interessantes. As duas
primeiras conferências procuraram pontualizar o sentido e as dificuldades da
castidade celibatária no horizonte cultural africano, e a terceira pontualizou
mais os problemas que aparecem. Depois disso, passamos a um tempo de reação em
grupos linguísticos, mesmo sem uma proposta clara de focalização.
Concluído o breve relato dos
dois grupos, o prefeito ca SCEP, Cardeal Filoni, para surpresa de todos/as,
concluiu a manhã de reflexão falando da sua preocupação em relação aos inúmeros
problemas e escândalos na vivência da castidade pelos religiosos e religiosas
na África. Finalmente,
propôs a elaboração e o envio de uma circular à vida religiosa na África, chamando a atenção sobre estas questões.
E pediu a opinião dos/as Superiores/as presentes sobre esta iniciativa.
O que me chama a atenção é que
a reflexão da manhã, tanto dos/as relatores/as como dos grupos, não foi
focalizada nos problemas ou nos escândalos. Além disso, a abordagem que Africae Munus faz da vida religiosa na África é francamente positiva, e não faz
referência a grandes dificuldades. O Papa diz que a vida religiosa se tornou na
África um notável testemunho profético, e é como uma
jóia que ornamenta e enriquece a vida da Igreja; seus membros são exemplos de
reconciliação, justiça e paz; os religiosos e religiosas são uma preciosa ajuda
na vida eclesial e missionária (cf. §
117-118).
Preocupam-me a este respeito
dois aspectos. O primeiro é a competência
da SCEP para este tipo de intervenção em relação à vida religiosa, uma vez
que temos um dicastério específico que se ocupa dos/as religiosos/as (a Sagrada Congregação para os Institutos de
Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica). E pode-se perguntar
ainda se é necessária e oportuna uma medida dessas, haja visto as tensões e
problemas provocados pela dita investigação sobre a vida religiosa feminina nos
EUA e a sucessiva ‘intervenção’ da sagrada Congregação para a Doutrina da Fé
numa das Uniões de Superioras dos EUA.
O segundo aspecto preocupante
é o modo de proceder. O que significa
enviar aos Superiores/as maiores da África
uma circular chamando a atenção para problemas na vivência da castidade
celibatária sem abordar a vida religiosa africana como um todo, e sem dialogar
com as autoridades diretamente responsáveis, como os/as Superiores/as Maiores e
suas Conferências? Enfim, o problema não está mais no comportamento de alguns padres
e bispos que propriamente nas religiosas?
Itacir Brassiani msf
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