quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Vida Religiosa na Africa


A vivência da castidade celibatária no continente Africano


Participei na manhã de hoje (13.11.2012) da reunião semestral da direção da Sagrada Congregação para a Evangelização dos Povos (SCEP) com o Conselho dos 18 (grupo de 10 Superioras e 8 Superiores Gerais). É uma instância de diálogo e reflexão criada pela SCEP como forma de escutar a Vida Religiosa, que em muitos lugares é a principal agente da evangelização.

Neste ano, a agenda foi definida a partir da exortação pós-sinodal  Africae Munus, do Papa Bento XVI (19.11.2011). Na reunião de maio passado o tema foi a compreensão e a vivência do voto de pobreza e, hoje, a visão e a vivência do voto de castidade. Lamento que se reflita sobre os votos em particular sem aprofundar o sentido da vida religiosa como tal, pois assim os votos carecem de um eixo que lhes empreste significado.

A reflexão foi provocada inicialmente por três breves conferências sobre a questão (um superior e uma ex-superiora geral africanos e um assessor da SCEP), batante interessantes. As duas primeiras conferências procuraram pontualizar o sentido e as dificuldades da castidade celibatária no horizonte cultural africano, e a terceira pontualizou mais os problemas que aparecem. Depois disso, passamos a um tempo de reação em grupos linguísticos, mesmo sem uma proposta clara de focalização.

Concluído o breve relato dos dois grupos, o prefeito ca SCEP, Cardeal Filoni, para surpresa de todos/as, concluiu a manhã de reflexão falando da sua preocupação em relação aos inúmeros problemas e escândalos na vivência da castidade pelos religiosos e religiosas na África. Finalmente, propôs a elaboração e o envio de uma circular à vida religiosa na África, chamando a atenção sobre estas questões. E pediu a opinião dos/as Superiores/as presentes sobre esta iniciativa.

O que me chama a atenção é que a reflexão da manhã, tanto dos/as relatores/as como dos grupos, não foi focalizada nos problemas ou nos escândalos. Além disso, a abordagem que Africae Munus faz da vida religiosa na África é francamente positiva, e não faz referência a grandes dificuldades. O Papa diz que a vida religiosa se tornou na África  um notável testemunho profético, e é como uma jóia que ornamenta e enriquece a vida da Igreja; seus membros são exemplos de reconciliação, justiça e paz; os religiosos e religiosas são uma preciosa ajuda na vida eclesial e missionária (cf. § 117-118).

Preocupam-me a este respeito dois aspectos. O primeiro é a competência da SCEP para este tipo de intervenção em relação à vida religiosa, uma vez que temos um dicastério específico que se ocupa dos/as religiosos/as (a Sagrada Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica). E pode-se perguntar ainda se é necessária e oportuna uma medida dessas, haja visto as tensões e problemas provocados pela dita investigação sobre a vida religiosa feminina nos EUA e a sucessiva ‘intervenção’ da sagrada Congregação para a Doutrina da Fé numa das Uniões de Superioras dos EUA.

O segundo aspecto preocupante é o modo de proceder. O que significa enviar aos Superiores/as maiores da África uma circular chamando a atenção para problemas na vivência da castidade celibatária sem abordar a vida religiosa africana como um todo, e sem dialogar com as autoridades diretamente responsáveis, como os/as Superiores/as Maiores e suas Conferências? Enfim, o problema não está mais no comportamento de alguns padres e bispos que propriamente nas religiosas?
Itacir Brassiani msf

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