sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Vivos & Mortos


Dia de Finados

No México, os vivos convidam os mortos, na noite de hoje de todo ano, e os mortos comem e bebem e dançam e ficam em dia com as intrigas e as novidades da vizinhança.

Mas no final da noite, quando os sinos e a primeira luz da alvorada lhes dizem adeus, alguns mortos se fazem de vivos e se escondem nas ramagens ou entre as tumbas do campo-santo. Então as pessoas os espantam a vassouradas: “Vão embora de uma vez, deixem a gente em paz, não queremos ver vocês até o ano que vem...

É que os defuntos são desse tipo de visita que gosta de ir ficando.

No Haiti (e também em Madagascar), uma antiga tradição proíbe levar o ataúde em linha reta até o cemitério. O cortejo segue em zigue-zague e dando muitas voltas, por aqui, por ali e outra vez por aqui, para despistar o defunto, e para que ele não consiga mais encontrar o caminho de volta para casa.

No Haiti, como em todo lugar, os mortos são muitíssimo mais que os vivos. A maioria vivente se defende do jeito que dá.

(Eduardo Galeano, Os filhos dos dias, L&PM, 2012, p. 348)

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