terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Icones da missão: José


José, o esposo: amor sem palavras

Ora, o nascimento de Jesus Cristo foi assim: Estando Maria, sua mãe, desposada com José, antes de se ajuntarem, achou-se ter concebido do Espírito Santo. Então José, seu marido, como era justo, e a não queria infamar, intentou deixá-la secretamente. E, projetando ele isto, eis que em sonho lhe apareceu um anjo do Senhor, dizendo:
“José, filho de Davi, não temas receber a Maria, tua mulher, porque o que nela está gerado é do Espírito Santo; e dará à luz um filho e chamarás o seu nome JESUS; porque ele salvará o seu povo dos seus pecados.”
Tudo isto aconteceu para que se cumprisse o que foi dito da parte do Senhor, pelo profeta, que diz; eis que a virgem conceberá, e dará à luz um filho, e chamá-lo-ão pelo nome de EMANUEL, que traduzido significa ‘Deus conosco’.
E José, despertando do sono, fez como o anjo do Senhor lhe ordenara, e recebeu a sua mulher. E não a conheceu até que deu à luz seu filho, o primogênito; e pôs-lhe por nome Jesus.

Tu desejavas apenas uma vida ordinária: uma mocinha para esposar, escolhida entre as tantas da vila, uma casa, um trabalho com o qual manter ela e os filhos que viriam. Exatamente como estava subentendido no teu nome: José de fato significa ‘o Senhor acrescenta’.

A antiga origem nobre era apenas uma memória distante. Davi, todos sabem, veio mil anos antes, e os seus descendentes eram incontáveis. Entretanto, tu eras apenas um homem do povo, com a dingidade da tua justiça e do bem que querias a Maria.

Esta era a tua pequena-grande história, como a nossa: sem pretensões, como as pequenas lajes de um pavimento, que devem ser iguais entre si; ou como os tijolos de uma parede, que devem ser semelhantes. Tu deixavas aos outros ser belas pedras do mosaico, ou preciosos diamantes.

Tudo era normal, até aquele dia amargo e estranho no qual ela apareceu grávida. A história estava cheia de fatos semelhantes. Desencontro, ciúme, repúdio. Mas tu procuravas um jeito de ser justo e misericordioso para com ela. Preferias desaparecer sem deixar notícias, mas não expô-la ao desprezo público. Tinhas aprendido a deixar ao amor a última palavra.

Mas depois tudo mudou, e a tua história entrou entrou na história de um Deus que se fazia bebê passando exatamente por Maria, a tua esposa. Te vemos como que congeelado naquele momento, pois para ti doravante todos os instantes foram assim. Alguém arruinou teus planos e razões e te fez aprender a obediência.

É nesse ponto que nós queremos entrar na tua escola, José. Nós, filhos/as da liberdade, buscamos à saciedade o poder de dicidir, sempre e em tudo. ‘Farei isso e aquilo... Irei aqui e lá... Mais adiante pensarei nisso...’ Mesmo fazendo o bem, mantemos firmes o timão da nossa vida. Se vai bem, morremos como heróis solitários/as, depois de termos erguido um monumento a nós mesmos/as e de haver contado aos mortais comuns as nossas memórias.

José, homem sem palavra, tu não eras assim. José dos planos arruinados, tu eras diferente. José, que não pudeste contar tua história, tu és verdadeiramente grande. Tu, pai do filho de Deus, fostes realmente filho do Pai. Tu acreditaste. Tu viveste a inédita aventura e nos deixaste a mensagem do silêncio.

Te descreveram e pintaram velho, como se isso fosse suficiente para viver aquilo que viveste. Não se tratava de velhice ou de um amor cuja chama já estava apagada, mas de fé. De obediência. De total entrega ao Sonho de Deus que havia invadido o teu sonho.

Tu, límpido ouvinte da Palavra, intercede por nós, entupidos/as de palavras, palavras nossas. Afogados/as em raciocínios, em pensamentos nossos. Receosos/as de ceder a direção da nossa vida àquele a quem ela realmente pertence. Nós, heróis solitários/as de um bem decidido unicamente por nós.

Tu nos sugeres uma moratória às palavras. Uma moratória aos projetos. Uma moratória aos raciocínios. Dá-nos um pouco de sonho, a fim de que, com as mãos livres do timão, possamos escutar no silêncio uma voz do alto e, depois de nos acordar, ela encontre em nós sóbria e silenciosa realização.

(Tererina Caffi, In cammino con il Vangelo, EMI, Bologna, 2008, p. 42-45)


Acolhendo a sugestão da Rita Andreata, aqui vai o link da bela canção da Rita Lee, na qual canta o ‘romance’ ou o mistério de José: http://www.youtube.com/watch?v=w428umHa53Q&feature=fvst

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