domingo, 30 de dezembro de 2012

Ícones da missão: Simeão


Simeão: uma vida inteira à espera


Havia em Jerusalém um homem cujo nome era Simeão. Este homem era justo e temente a Deus, esperando a consolaçäo de Israel; e o Espírito Santo estava sobre ele. E fora-lhe revelado, pelo Espírito Santo, que ele näo morreria antes de ter visto o Cristo do Senhor. E pelo Espírito foi ao templo e, quando os pais trouxeram o menino Jesus, para com ele procederem segundo o uso da lei.
Ele, então, o tomou em seus braços, e louvou a Deus, e disse:
‘Agora, Senhor, despedes em paz o teu servo, Segundo a tua palavra, pois já os meus olhos viram a tua salvação que tu preparaste perante a face de todos os povos; luz para iluminar as nações e glória de teu povo Israel.’
E José, e sua mãe, se maravilharam das coisas que dele se diziam.E Simeão os abençoou, e disse a Maria, sua mãe: ‘Eis que este é posto para queda e elevação de muitos em Israel, e para sinal de contradição. E uma espada traspassará também a tua própria alma; para que se manifestem os pensamentos de muitos corações.’ (Lucas 2,25-35)

Simeão, junto com Ana, és símbolo do idoso no Novo Testamento. Tu havias visto tanta coisa: a terra sendo conquistada pelos romanos e as humilhações; o templo reconstruído por Herodes sem antes reconstruir o coração; o desaparecimento dos profetas e a emergência de tantos pregadores; tantas lágrimas do povo pobre e a arrogância dos poderosos...

Nada de novo sob o sol. Ou melhor, era noite. Mas tu, memória viva da escritura santa, conhecedor de Deus graças ao seu Espírito, prescrutavas a noite com a certeza de que a aurora despontaria. Tinhas a convicção de que teus olhos c ansados a veriam antes de se fecharem no sono da morte. Ademais, teu próprio nome dizia isso: “Deus atendeu”.

Somente tu sabes e podes dizer como ardia teu coração naquela manhã. Com disposição e agilidade, mais do que a força das tuas pernas cansadas permitiam, saíste de casa e foste ao templo. Finalmente havia chegado!

Quem? Um rei acompanhado de sua corte e seu exército? Um milagreiro capaz de despertar a fé até dos mais céticos? Um encantador de multidões aclamado por todos ou um nacionalista incendiado de amor pela pátria e de furor?

Não! Um bebê, filho de gente pobre. Naquela manhã não havia nada de extraordinário no templo. Apenas uma cena absolutamente cotidiana. Um primogênito estava sendo apresentado e resgatado com uma oferta de gente pobre. De fato, pertencia a Deus, como todas as primícias.

Um casal orgulhoso do filho que trazia e, ao mesmo tempo, retraído diante da solenidade do templo. Muita gente viu aquele casal com a criança nos braços, mas somente tu, Simeão, tiveste olhos para ver profundamente. Eras um homem de silêncio e, por isso, teu olhar conseguiu ir além das aparências e teus pensamentos não permaneceram nos lugares-comuns.

No fim da vida, do alto do monte, Moisés avistou a terra prometida. Tu acolheste entre os braços a Promessa de Deus! E tinhas a impressão que os teus eram os braços de todas as gerações que te antecederam, da gente do teu tempo e de todas as gerações que ainda viriam. Eras também os nossos braços que acolhiam o Esperado.

Admiro esta tua vida inteiramente dedicada à espera. Uma vida que não se inquieta com a aproximação da morte. Gosto deste teu modo de esperar: não para ti mesmo, mas para as gerações que vêm. Te admiro mesmo! Tu entregas ao futuro não o orgulho da tua vida fiel e justa mas um bebê, salvador teu e de todos/as. Quem era aquela criatura mais jovem que tu, o Esperado pelos povos?

Vê que todos estamos sentados: habituados à noite, não esperamos mais nada. E imaginamos salvarmo-nos por própria conta, cabeças-duras e bêbados de onipotência! Como gostaríamos de permanecer jovens como tu, com um olhar que prescruta o horizonte, capazes de ver uma salvação que é permanentemente dada e que está sempre vindo!...

O Servo, entrevisto por Isaías, dizia sobre Deus: “Fez de  mim uma seta pontiaguda e em sua aljava me escondeu” (Is 49,2). Simeão, que Deus te atenda e te responda! Pede a ele que possamos ser como tu: flecha com uma só ponta. Que todos os nossos desejos, nossas energias, recursos e decisões sejam convergentes e nos façam uma flecha para o arco de Deus.

E não importa se Deus nos mete no arco retesado ou na aljava. Não importa se tivermos a impressão de sermos usados ou colocados no banco de reserva, na espera. Não importa nem mesmo aquele banco de reserva extremo que é a morte, porque sabemos que estamos nas suas costas, nas suas mãos.

(Teresina Caffi, In cammino con il Vangelo, EMI, Bologna, 2008, p. 38-41)

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