domingo, 9 de dezembro de 2012

Nova envangelização: alguns erros e perigos


Erros e riscos que rondam a nova evangelização

Acabo de ler um artigo de Dom Thomas Menemparampil sdb, arcebispo emérito de Guwahati, Índia (‘Tutti ti cercano... [Mc 1,37]’, Omnis Terra, anno XXX, n° 132, p. 185-195). Trata-se de um longo agradável artigo sobre a nova envangelização. O autor enfatiza que a ação evangelizadora precisa conhecer a ‘psique coletiva’ dos povos e valorizar a sua especificidade cultural. Gostaria de comentar aqui apenas alguns aspectos desta reflexão, especialmente os erros (§ 10) e os perigos (§ 15) que, segundo o arcebispo, rondam o projeto da nova evangelização.

Em relação à necessidade imperiosa de reconhecer os diversos percursos espirituais que levam encontro com Deus, Dom Thomas fala inicialmente de algumas apreciações reducionistas do fenômeno religioso e cultural: uma abordagem puramente intelectual e filosófica, que geralmente despreza as práticas de piedade; uma abordagem sócio-cultural, que enfatiza acriticamente a piedade popular; um enfoque sócio-histórico, que valoriza fortemente o engajamento social das religiões; uma apreciação espiritualista, que focaliza quase que exclusivamente os aspectos místicos e contemplativos das diversas religiões.

Mas a Igreja e seus evangelizadores/as frequentemente incorrem também em alguns erros que prejudicam muito a evangelização. O primeiro erro é a absolutização da experiência cristã de um período histórico, de uma região ou de uma linha de pensamento, apresentando-a como se fosse a única experiência válida. É claro que a tentação de hoje é assumir a síntese européia, branca, masculina, pré-moderna e eclesiástica como única e válida. O segundo erro é a irrelevância: a tendência desesperada ou preguiçosa de responder a perguntas de outros tempos e que hoje quase ninguém mais levanta, de dar respostas prontas e solenes a questões que não interessam a ninguém. O terceiro erro é continuar discutindo prioritariamente as questões últimas (morte, purgatório, juízo, ressurreição, etc.), quando o mundo atual procura respostas e soluções para as questões penúltimas, de ordem vital ou prática.

No final, o arcebispo diz que, para que levemos a sério o discurso sobre a nova evangelização, é preciso tomar consciência de alguns perigos e evitá-los. E o primeiro perigo, quase um hábito eclesiástico, é que a nova evangelização não chegue a ser um programa ou um projeto e acabe sendo simples retórica: palavras belas, elogiosas e vazias. O segundo perigo é o de transformar a Igreja num mercado de artigos e serviços religiosos, com uma publicidade atraente, programas entuasiasmantes, eventos massivos – bem ao estilo da sociedade consumista e da cultura do espetáculo – mas sem profundidade espiritual e sem aderência à dura realidade das pessoas. O terceiro risco é restringir a necessária reforma da Igreja aos aspectos funcionais, pragmáticos e superficiais (administração, comunicação, etc.), evitando as questões mais substanciais como a autenticidade, a integridade, a coerência; a participação democrática dos leigos/as; o reconhecimento da igualdade entre homens e mulheres; a coragem profética, etc.  Um quarto perigo, segundo o arcebispo Dom Menemparampil, é que sejamos reféns do simples desejo de novidade, que nos levaria a enfatizar as atividades que têm mais visibilidade e prestígio (conferências, seminários, cursos, simpósios, etc.) e a marginalizar as iniciativas pastorais que realmente contam e mudam a realidade, mas que exigem presença e compromisso com o povo e perseverança no diálogo e no serviço.

Penso que os erros e os perigos para os quais Dom Menemparampil chama na atenção são muito reais e tentadores. É preciso que nossos centros de formação e nossas instâncias de reflexão e ccordenação missionárias e pastorais estejam muito vilantes e não evitem a reflexão, a avaliação e a projeção. E todos/as precisamos fazer a nossa parte para evitar que a missão e a evangelização sejam reduzidas a uma simples verborréia ou a uma pastoral de manutenção, que se contentam em dançar ao redor do fogo e celebrá-lo, sem mudar ou inovar absolutamente nada.

Itacir Brassiani msf ã

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