quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Fatos & Personagens: Abdul Kassem Ismael


A memória andante

No dia 3 de janeiro do ano 47 antes de Cristo ardeu em chamas a biblioteca mais famosa da antiguidade.

As legiões romanas invadiram o Egito, e durante uma das batalhas de Júlio César contra o irmão de Cleópatra o fogo devorou a maior parte dos milhares e milhares de rolos de papiro da Biblioteca de Alexandria.

Um par de milênios depois, as legiões norte-americanas invadiram o Iraque e, durante a cruzada de George W. Bush contra o inimigo que ele mesmo inventou, virou cinza a maior parte dos milhares e milhares de livros da Biblioteca de Bagdá.

Na história da humanidade inteira, houve um e só um refúgio de livros seguro e à prova de guerras e incêndios: a biblioteca andante, uma idéia do grão-vizir da Pérsia, Abdul Kassem Ismael, no final do século X.

Homem prevenido, esse viajante incansável levava sua biblioteca consigo. Quatrocentos camelos carregavam cento e dezessete mil livros, numa caravana de dois quilômetros de comprimento. Os camelos também serviam de catálogo das obras: cada grupo de camelos carregava os títulos que começavam com uma das trinta e duas letras do alfabeto persa.

(Eduardo Galeano, Os filhos dos dias, L&PM, 2012, p. 17)

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