terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Jornada Mundial pela Paz 2013


A Paz é uma aspiração comum a toda a humanidade


É muito significativo começar um ano novo civil com um dia dedicado à promoção da Paz. Mesmo tendo seu jeito próprio de festejar o início de um novo ano – dedicando-o a Maria, Mãe de Deus – a Igreja Católica se engaja nesta iniciativa e, há 46 anos, oferece também, Jornada Mundial pela Paz (JMP), uma breve reflexão. O tema proposto pelo Papa para a JMP de 2013 é inspirado no Sermão da Montanha: “Felizes os que promovem a Paz” (Mt 5,9), colocando em foco tanto a pessoa que promove a Paz como as circunstâncias ou os componentes culturais e econômicos deste precioso valor humano.

A Paz entre avanços e recuos

Bento XVI lembra que, apesar do paraíso terrestre prometido pelos promotores da globalização econômica, a história recente e o momento atual da humanidade traz as marcas de conflitos sangrentos e de ameaças de guerra. Mas existem também as tensões provocadas pelas desigualdades entre ricos e pobres, pelo capitalismo financeiro sem regras de controle, pelo predomínio de uma cultura individualista e egoísta, além das diversas formas de terrorismo e de criminalidade internacional.

Por outro lado, lembra o Papa, as inúmeras iniciativas que enobrecem o mundo testemunham que a vocação natural da humanidade é a Paz. “Em cada pessoa, o desejo de Paz é uma aspiração essencial e coincide, de certo modo, com o anelo por uma vida humana plena, feliz e bem sucedida.” O mais natural e essencial da pessoa humana não é ser para o outro um lobo, mas um companheiro. A solidariedade humana está acima dos valores nacionais e dos interesses institucionais, inclusive das religiões.

Uma aspiração radicalmente humana

Sendo aspiração comum e essencial ao gênero humano, a Paz não se realiza senão com a ativa contribuição de cada pessoa. Ela implica também a construção de uma convivência humana baseada na verdade, na liberdade, no amor e na justiça. E depende do reconhecimento teórico e prático de que a humanidade é uma única família. Quando desaparece esta convicção fundamental, abre-se a porta a todo tipo de indiferença, dominação e violência.

Assim, podemos afirmar que a promoção da Paz é uma prioridade que deve ser colocada acima de todo e qualquer interesse institucional, inclusive das religiões. Nesta perspectiva, quando o anúncio de Jesus Cristo comporta o risco de criar divisões e tensões entre os povos, sem renunciar à fé que temos nela, precisamos enfatizar o testemunho de acolhida e de compaixão sem fronteiras que aprendemos dele. Ou não é verdade que Jesus Cristo deu a vida para que todos os seres humanos sejam reconhecidos como filhos e filhas de Deus?

Por que não começar por aquilo que une?

Infelizmente as instituições religiosas que se apresentam e atuam em nome de Jesus nem sempre levam isso a sério. A própria reflexão proposta pelo Papa Bento XVI corre o risco de fomentar divisões em vez de juntar forças pela paz. Ele tem razão quando ensina que a realização do bem comum e da Paz percorre o caminho do respeito à vida humana considerada na multiplicidade dos seus aspectos, mas sucumbe aos estreitos limites do moralismo quando enfatiza sobremaneira a vida intrauterina e o seu desfecho natural.

É verdade que o aborto, culturalmente e politicamente promovido como direito e a eutanásia anunciada como se fosse o evangelho do bem viver são expressões violentas de um estilo de vida totalmente ensimesmado e sem qualquer atenção aos outros e aos mais frágeis. Mas é possível sim promover a Paz começando por outras iniciativas compartilhadas mais universalmente, para, mais tarde e à base de um diálogo no qual todos falam e todos escutam, chegar a estas questões sobre as quais ainda vigem controvérsias.

Como é seu costume, Bento XVI não deixa também de se referir ao tema do casamento homoafetivo, um refrão dissonante que aparece na maioria das suas intervenções. Para o Papa, esta é uma forma radicalmente diversa de união que prejudica, desestabiliza e obscurece o caráter peculiar e a insubstituível função social do matrimônio. Afirmando que a união matrimonial exclusiva entre um homem e uma mulher está inscrita na natureza humana – faz parte do direito natural, anterior a qualquer sistema religioso – Bento XVI se esquece que quem está definindo o que é ‘natural’ é a moral católica... E aqui, em nome da promoção da Paz, a mensagem acaba provocando desnecessárias tensões e divcergências.

Itacir Brassiani msf

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