sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Missão em Moçambique: aspectos de uma realidade complexa (1)


A propósito dos cinco anos da missão de Moçambique

Dia 7 de dezembro de 2007 Pe. Neiri chegou a Mecubúri, para iniciar seus trabalhos pastorais nesta missão. O cenário que o aguardava não era dos mais animadores. Por diversos anos a missão não contava mais com padre residente. Seu Bepe tomava conta da tapera. O bispo, cansado de repetidas trapalhadas e dissabores, decidiu retirar seus padres diocesanos. Ele próprio assumiu as duas paróquias: Nossa Senhora da Assunção de Mecuburi (que também abrange Namina) e Santa Cruz de Muite (e Milhana, sede da antiga missão).

Lideranças de uma comunidade rural
Situação encontrada e primeiros passos

Mecuburi, de vez em quando, recebia a visita de algum padre para celebrar sacramentos. Muite já não tinha tratamento similar, devido à distância (100 km adiante de Mecuburi). Ambas as paróquias, física e pastoralmente, padeciam dos efeitos e sequelas do abandono. Nelas havia muito escombros, ruínas das antigas missões (Mecuburi iniciou em 1957 e Muite, em 1962). Estas missões, nacionalizadas pelo governo moçambicano, foram paulatinamente devolvidas à Igreja, a partir de 1992, muito sucateadas. No caso de Mecuburi ainda resta a missão (centro de formação ou escola) de Namina. A proposição de devolução, definida para o início do presente ano, em face da mudança da administração distrital, ficou esquecida. A informação oficial é a de que extraviaram o processo. Aqui i costume de perder documentos é um hábito bem arraigado.

O trabalho inicial foi recuperar a residência de Mecuburi, instalações hidráulicas, pintura e principiar com remoção de lixo, derrubada de mato... Iluminação só a base lamparina comum a diesel ou querosene.  Menu predileto (opção possível):  abóbora com feijão, tipo catador. Só aos poucos uma acanhada horta permitiu tênue variação de cardápio. Após alguns meses a escolha de iluminação recaiu sobre a vela. A saída era dormir o mais cedo possível.

O entusiasmo inicial levou o Pe. Neiri a visitar muitas comunidades. Eram aproximadamente 220. As condições das vias eram de péssimas para pior.  Tive a oportunidade de conhecer a missão cinco meses após a chegada do colega Neiri.  Uma vasta operação de remoção de escombros nos arredores da residência, na fundação da igreja, abandonada desde 1978, uma pequena horta, alguns frangos, cabritos, pequenos espaços de plantação de cereais, tudo isso já era uma demonstração de um processo de restauração, tênues vestígios de que o sito estava sendo trabalhado. Naquela época visitei também Milhana. Lá o quadro era deprimente: ruínas, lixo, desleixo, povo desconfiado, raras pessoas entendiam a língua portuguesa e o índice de analfabetismo era elevado. Apesar da rara assistência religiosa, as comunidades continuavam celebrando, se reunindo, assumindo diversas tarefas ou ministérios.

Aos poucos, o Pe. Neiri, auxiliado por algumas irmãs (Servas de Nossa Senhora de Fátima), que aqui residiam desde 1973, foi dando alguns passos, desenhando um frágil projeto de formação, em quatro locais distintos: Mecuburi, Namina, Ratane e MIlhana. Tudo muito lento e instável. Muito esforço, mas pouco resultado. Na perspectiva econômica, o desafio era maior ainda: crescentes despesas e acanhadas receitas, tudo mesclado com vícios diversificados. A idéia de que os missionários eram ricos e tinham obrigação de ajudar o povo continuava muito viva. Este era um setor totalmente desarticulado, viciado e corrompido.

Ainda em 2008 Pe. Neiri recebeu a confirmação da vinda de um companheiro, enviado pela Província Brasil Meridional. O Pe. Firmino vinha formar dupla. No ano seguinte, 2009, o juniorista Valdecir Rossa passou a integrar a equipe.

Reformas e recuperações

Centro de Formação em Mecuburi, totalmente restaurado
Desde 2008 estava em debate a criação de uma escola rural. Este já fora um sonho acalentado há mais de 10 anos pela comunidade, promessa da diocese, mas sepultado, em face das dificuldades de encontrar alguém que assumisse o trabalho que a proposta exigia.  O sonho ressuscitado, aos poucos, tomou corpo. Preocupações iniciais: área, construção de dependências necessárias, trâmites burocráticos (trabalho enfadonho e nojento, com o estilo administrativo em vigor), pessoas para trabalhar a iniciativa. Entra em campo o Ir. Edilson.

Numa primeira etapa foi recuperado o antigo centro de formação, que teve sua área construída ampliada. Depois a residência paroquial, carinhosamente apelidada “casa imperial” recebeu alguns cuidados. Esta fora parcialmente destruída por um incêndio, resultado do lançamento de um morteiro, que errou o alvo. Nesta casa (nacionalizada pelo governo) funcionava a secretaria de educação do distrito. A população também dera sua parcela de cooperação: depenou portas, janelas, telhas...

A residência paroquial, de fato, há cinco anos, foi construída pelas irmãs. Elas se mudaram para outra casa, no lado oposto do distrito, a 3 km daqui. Junto da casa delas, a diocese construiu outra casa, que por diversos anos foi a casa paroquial, hoje totalmente sucateada e, por isso, abandonada. Aliás ruínas são paisagens bem constantes por aqui, em Moçambique.  É lastimável o volume de recursos desperdiçado.

O retorno do Pe. Valdecir, ordenado diácono em Nampula (Moçambique) e presbítero em Gramado (RS) em 2010, em virtude de dificuldades de saúde, trouxe para cá o Pe. Pedro Léo Eckert, em março de 2010.  O quarteto continuava o desafio de iniciar o funcionamento da escola e garantir o avanço da pastoral. Em 2012, Pe. Firmino, após 3 anos, retornou ao  Brasil, para trabalhar em Itamarati, AM. Eu cheguei para recompor a equipe.

Elmar Luiz Sauer msf

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