Vivências missionárias em Manaus

Quando se trata de missão, importam pouco os grandes acontecimentos e as doutrinas bem elaboradas. Sabemos muito bem que não é isso que constitui a missão. Antes, ela é pacientemente tecida de mil pequenos gestos, unidos pelo invisível fio de um amor que se faz presença discreta e compassiva e serviço despojado. É isso que que transparece em mais esta partilha de vivências missionárias, enviada de Manaus pelas Irmãs Joaninha e Rosângela, da Congregação de Nossa Senhora de Castres.

“Tudo posso naquele que me dá forças...”

Irmãs, Irmãos, amigos e amigas de caminhada!

Quanto mais o tempo  passa,  mais desafios e mais apelos Deus vem nos fazendo através da realidade e dos acontecimentos, positivos e negativos aos quais precisamos dar uma resposta. Ou então, sabendo que estamos estar envoltos ora  em luzes, ora em trevas, buscar uma resposta.  Mas, temos e teremos uma certeza: Deus é fiel e caminha  conosco na realidade onde cada um está inserido, procurando estar ao lado dos que mais necessitam.

Terminado o ano litúrgico de 2012, a  esperança bate à  nossa porta como que dizendo:  “Abre as portas deixe entrar o Rei da Glória...” Já finalizando a visita às comunidades, por causa da seca e dos compromissos que aumentam para nossos  padres e missionários, em 2013 retornaremos com uma proposta de formação atendendo aos pedidos da última assembléia: capacitar os agentes e líderes das comunidades ribeirinhas para sua missão, uma vez que os missionários chegam somente uma vez ao mês, e no restante do tempo são eles/as mesmos/as que  animam as pequenas comunidades.

A solenidade de Cristo Rei foi marcada por um número grande de batizados: vinte e três! Nossa igreja paroquial estava lotada! Pe.Cleiton, da Prelazia de Tefé, que presidiu esta  longa celebração mesmo estando resfriado, conseguiu motivar a assembléia.

Cenas do incendio no Igarapé

O mês de novembro terminou com uma grande dor para uma  parcela da população mais carente de Manaus, especialmente o povo do Igarapé Artur Bernardes e da Comunidade São Jorge. Trata-se de um alagado, que durante as cheias deste ano ficou totalmente  dentro d’água e agora está reduzido a carvão e cinzas  por causa de um grande incêndio, ocorrido no dia vinte e oito  de novembro.

Buscamos informações com as Irmãs, leigos e padres Jesuítas que atuam nesta periferia e ficamos consternadas pelo que nos contaram. Fomos lá e tivemos  a oportunidade de ver, sentir e tocar a realidade de perto. O que era  água e aglomerado agora é só carvão, ferro, lama, restos de móveis... Um verdadeiro cenário de terror, com pessoas andando de um lado para outro, como se esperassem encontrar algo, tentando identificar um espaço que antes era seu.

Na parte da tarde participamos de uma assembléia no local do incêndio com o pessoal da CáritasArquidiocesana. Foram feitos alguns encaminhamentos, recolhidas assinaturas dos moradores. Assuguramos em nome da Igreja nosso apoio para que o povo não deixemo local, a fim de garantir os direitos que têm. Há um plano do governo para urbanizar o local dentro do projeto PROSAMMI. O projeto prevê a construção de apartamentos em condomínios  fechados, com previsão de término para março de  2013. Mas sabemos que muita coisa é promessa de campanha política. Daí a importância desta assembléia. Mesmo perdendo suas casas, as pessoas devem ficar por lá para garantir seus direitos. Se resolverem mudar, devem ser ressarcidas ao menos com o correspondente ao valor da sua casa.

Um grupo significativo de moradores participou da assembléia, apesar da terrível situação daquele momento. Outras foram alojados nos ginásios e Igrejas próximas. Para muitas famílias a perda foi total.

Uma coisa  que chamou a atenção de muita gente foi que casa das Irmãs, dos Padres e o Centro Social, locais onde se reuniam para as questões sociais  a defesa da vida do bairro, assim como as casas próximas não foram destruídas pelo fogo. Por que será?  O que isso tem a dizer? Deus está ou não está no meio dos pobres? E mesmo que as casas tenham se queimado, todos os moradores tiveram a vida preservada.

As Irmãs Arizete e Graça, que estavam lá no momento da catástrofe, assim com os noviços jesuítas Artur e Luzimar, continuam sendo presença e dando assistência no local. Outras pessoas do Núcleo de Roraima, que vieram para reunião da equipe ampliada do Projeto Itinerante, também estiveram lá dando uma força. Durante a assembléia  se podia  perceber claramente a presença da vida religiosa... Gotas de água num mar de sofrimento. É a presença solidária onde a vida grita por justiça e diretos.

Isso é o que sobrou das 545 casas incendiadas...

Em meio a todos estes gritos, a esperança teima em chegar, e com ela, o advento bateu à nossa porta. Iniciamos a novena da Imaculada, tempo forte em nossa Congregação e aqui em Manaus também. A Imaculada é padroeira do Estado e da Arquidiocese. Assim  muitos motivos nos uniram nesta novena. A equipe do nosso Governo Geral, como sempre,  nos brindou com uma  linda e profunda reflexão.  Com a participação das Comunidades e grupos da Vila, fizemos a caminhada, cada dia descobrindo e bebendo deste vinho novo que Maria fazia brotar do coração simples e fecundo das pessoas. Desejamos que este vinho, descoberto e servido durante a novena, possa seguir saciando nossa sede.

O dia da festa da Imaculada foi muito lindo por aqui. Pela manhã celebramos numa das nossas comunidade da beira do Rio Amazonas, Nossa Senhora da Conceição. Lá renovamos nossos votos, na simplicidade, com nossa gente. À tarde participamos, juntamente com quarenta mil pessoas, da grande procissão pelas ruas de Manaus. A cada ano, aumenta o número dos devotos da Mãe de Jesus e nossa. O povo amazonense tem uma grande devoção a Nossa Senhora da Conceição. É bonito de ver.

Nossa vida seguiu seu curso com a novena de Natal em família, momento muito significativo para focar nosso olhar naquele que está para  chegar. As famílias vão se preparando para festejar o nascimento de Jesus. São ocasiões de levar o Evangelho e partilhar a vida e os sonhos vividos em famílias.

Dentro deste tempo, de alegre esperança, Ir. Joaninha celebrou, no dia vinte e três de dezembro, seus vinte e cinco anos de votos definitivos. Momento de  ação de graças. Como Maria e Izabel exultam de  alegria, nós também louvamos e agradecemos a Deus pelo dom da vocação de nossa Missionária Azul.

Dia vinte cinco participamos com uma multidão de cem mil pessoas, de  um evento natalino “O glorioso”, no Teatro Amazonas. É um evento que cada ano surpreende. Este ano, cinco mil pessoas compuseram o elenco. O menino recém-nascido é o glorioso que a todos  encanta, emociona e enche de luz.

Terminando nosso Informativo, desejamos a todas/os um abençoado Natal e um Ano Novo iluminado pelas Bênçãos do Deus da Vida. Dizemos Boas festas e Boas vindas a Ir. Terezinha Fachini, que virá somar conosco nesta terra missionária!  Que o Deus Trino possa nos confirmar no amor e ardor missionário.

Recebemos ainda uma boa notícia: a chegada de nosso novo Arcebispo: Dom Sérgio Ricardo Castriani, da Prelazia de Tefé. Nossa Arquidiocese o acolherá oficialmente em 23 de fevereiro. Nossa gratidão ao querido Dom Luiz, que foi um verdadeiro pastor para nossa Arquidiocese durante vinte anos. Que a Imaculada Conceição o recompense por tamanha generosidade.

Obrigada por nos ajudar com a força de sua oração e fraternidade. Suas irmãs da Comunidade Maria mãe dos Pobres, Joaninha e Rosangela.