segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Milho & Batata


Teu passado te condena

O milho, planta sagrada dos maias, foi batizado com vários nomes na Europa. Os nomes inventavam geografias: foi chamado de grão turco, grão árabe, grão do Egito e grão da Índia. Estes erros não contribuíram em nada para salvá-lo da desconfiança nem do desprezo. Quando se soube de onde vinha, não foi benvindo. Foi destinado aos porcos. O milho rendia mais que o trigo e crescia mais rápido, aguentava a seca e dava bom alimento, mas não era digno das bocas cristãs.

A batata também foi fruto proibido na Europa. Como o milho, foi condenada por causa da sua origem americana. Para piorar, a batata era uma raiz criada no fundo da terra, onde o inferno tem suas cavernas. Os médicos diziam que ela provocava lepra e sífilis. Na Irlanda se acreditava que se uma mulher grávida comesse batata de noite, de manhã paria um monstro. Até o final do século XVIII a batata estava destinada aos presos, aos loucos e aos moribundos. Depois, essa raiz maldita salvou os europeus da fome. Mas nem assim as pessoas deixaram de se perguntar: “Se a batata e o milho não são coisas do diabo, por que a Bíblia não os menciona?”

(Eduardo Galeano, Espelhos, L&PM, 2008, p. 127)

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