terça-feira, 19 de fevereiro de 2013


Serpentinas, confetes e cinzas
Já faz uma semana que a fatídica quarta-feira chegou com suas cinzas e roubou o colorido alegre e festivo do Carnaval, especialmente nos trópicos brasileiros. Parece até uma vingança ou maldição dos deuses, ou um mau gosto das religiões: tudo aquilo que é bom e bonito faz mal ou deve durar pouco…
Eu gosto do Carnaval. É um tempo de prazer e autenticidade. Um tempo de experimentar e anunciar o sentido da vida e de todas as coisas. Tempo de libertar a fantasia e fantasiar a liberdade. Máscaras verdadeiras são aquelas que todos somos obrigados a usar nos outros 361 dias do ano. Máscaras de competência, inferioridade, superioridade e hierarquia. Mentiras de verdade não são aquelas representadas nas alegorias e salões, mas aquelas que afirmam que o trabalho enobrece, a submissão engrandece e o bem comum é uma ilusão. Bendito este tempo sacramental em que as fantasias e danças revelam uma verdade que humaniza, congrega e liberta!
É claro que não ignoro a ambigüidade desta festa que se tornou também indústria e comércio que escravizam. Mas o Carnaval não faz outra coisa que mostrar publica e descaradamente a ambigüidade da vida, da moral e das instituições. Por isso é que o Carnaval verdadeiro não termina na Quarta-feira de Cinzas. As Cinzas mostram simplesmente uma outra alegoria da vida. Nem tudo é cor, melodia e movimento. A vida também é dor, silêncio e pó a mercê do vento…
Com as Cinzas da quarta-feira somos convidados a mudar a vida e não a roupa, a mover a sociedade e não só a alegoria, a fazer do agora o tempo mais importante da vida. É um convite para tomar consciência da mentira embutida nas aparências e publicidades e a “entrar no silêncio obscuro do nosso quarto”.
Mas isso não significa que as Cinzas introduzem um tempo que é o reverso da alegria. A Quaresma cristã é a etapa decisiva de preparação de um Carnaval expressivo, envolvente e solidariamente humano: a festa da Vida que vence a morte, da fragilidade que não se deixa abater, dos pobres que se libertam, dos descartados que são reconhecidos em sua dignidade. A Quaresma é já o ensaio geral do desfile da Verdade. Um ensaio que já tem o gostinho da festa, embora esteja sob o signo do trabalho duro de preparação.
Neste ano 2013, no Brasil, o tempo quaresmal como que ensaia e afirma passos novos e encantadores. E o principal deles é a abertura sincera e acolhedora ao mundo das juventudes, preparando a Jornada Mundial na qual elas serão as protagonistas. A verdade é a Igreja católica do Brasil e cada uma das comunidades ou paróquias que a compõem necessita da outra para se converter, crescer e testemunhar a unidade e a paz, verdades essenciais na vida de Jesus Cristo. E existem máscaras a serem tiradas...
Neste autêntico e duradouro Carnaval não quero estar simplesmente na arquibancada assistindo. Quero ocupar meu lugar de protagonista, ao lado de tanta gente de coração bonito, e dançar embalado pela beleza desta Verdade até que desperte o Novo Dia.
Itacir Brassiani msf

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