segunda-feira, 4 de março de 2013

Dia Internacional da Mulher: Alfonsina Storni


Quero celebrar o Dia Internacional da Mulher e homenagear esta graciosa metade da humanidade com uma espécie de panteão no qual recordo, dia após dia, o nome, a história e a grandeza humana de algumas mulheres pouco reconhecidas pela história e pelas colunas sociais. São simples e breves flashes de vidas muito mais belas e complexas, uma espécie de retalhos da vida, tomados emprestados da inspirada pena do escritor uruguaio Eduardo Galeano. E começo pedindo emprestado os versos de Ivone Boechat: “Um aroma suave / exalou das mãos do Criador, / quando seus olhos / contemplaram / a solidão do homem no Jardim! / Foi assim: / o Senhor desenhou / o ser gracioso, meigo e forte, / que Sua imaginação perfeita produziu. / Um novo milagre: / fez-se carne, / fez-se bela, / fez-se amor, / fez-se na verdade como Ele quer! / O homem colheu a flor, / beijou-a, com ternura, / chamando-a, simplesmente, / Mulher!”

Alfonsina Storni

Na mulher que pensa, os ovários secam. Nasceu a mulher para produzir leite e lágrimas, não idéias; e não para viver a vida e sim para espiá-la por trás da persiana. Mil vezes explicaram isso a ela e Alfonsina Storni (29.05.1892 – 25.10.1938) não acreditou nunca. Seus versos mais difundidos protestam contra o macho enjaulador.
Quando chegou a Buenos Aires vinda do interior, Alfonsina trazia uns velhos sapatos de saltos tortos e no ventre um filho sem pai legal. Nesta cidade trabalhou no que apareceu; e roubava formulários do telégrafo para escrever suas tristezas. Enquanto polia as palavras, verso a verso, noite a noite, cruzava os dedos e beijava as cartas do baralho que anunciavam viagens, heranças e amores.
O tempo passou, quase um quarto de século, e nada lhe foi dado pela sorte. Mas lutando com mão firme, Alfonsina foi capaz de abrir caminho no mundo masculino. Sua cara de camundongo travesso nunca falta nas fotos que reúnem os escritores argentinos mais ilustres.
Em 1935, no verão, soube que tinha câncer. Desde então escreve poemas que falam do abraço do mar e da casa que a espera lá no fundo, na avenida das madrepérolas. (Eduardo Galeano, O século do vento. Memória do fogo, vol. 3, L&PM Pocket vol. 909, 2010, p. 150-151)

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