terça-feira, 5 de março de 2013

Dia Internacional da Mulher: Marianela García Vilas


Quero celebrar o Dia Internacional da Mulher e homenagear esta graciosa metade da humanidade com uma espécie de panteão no qual recordo, dia após dia, o nome, a história e a grandeza humana de algumas mulheres pouco reconhecidas pela história e pelas colunas sociais. São simples e breves flashes de vidas muito mais belas e complexas, uma espécie de retalhos da vida, tomados emprestados da inspirada pena do escritor uruguaio Eduardo Galeano. E começo pedindo emprestado os versos de Ivone Boechat:
“Um aroma suave / exalou das mãos do Criador, / quando seus olhos / contemplaram / a solidão do homem no Jardim! / Foi assim: / o Senhor desenhou / o ser gracioso, meigo e forte, / que Sua imaginação perfeita produziu. / Um novo milagre: / fez-se carne, / fez-se bela, / fez-se amor, / fez-se na verdade como Ele quer! / O homem colheu a flor, / beijou-a, com ternura, / chamando-a, simplesmente, / Mulher!”

Marianela García Vilas

Toda manhã, todo amanhecer, faziam fila. Eram parentes, amigos ou amores dos desaparecidos del El Salvador. Procuravam notícias ou vinham trazê-las. Não tinham outro lugar onde perguntar ou dar depoimento. A porta da Comissão de Direitos Humanos estava sempre aberta. E também se podia entrar pelo buraco da última bomba na parede.
Desde que a guerrilha cresceu nos campos salvadorenhos, o exército já não usava cadeias. A Comissão denunciava ao mundo: “Julho: aparecem decapitados quinze meninos menores de catorze anos que tinham sido detidos sob a acusação de terrorismo. Agosto: treze mil e quinhentos civis assassinados ou desaparecidos desde o começo do ano...”
Dos trabalhadores da Comissão, Magdalena Enríquez, a que mais ria, foi a primeira a cair. Os soldados a atiraram, descarnada, na beira do mar. Depois foi a vez de Ramón Valladares, crivado no barro do caminho. Sobrava Marianela García Vilas (07.08.1948 – 13.03.1983). “Erva ruim não morre nunca”, dizia ela.
Liquidaram-na perto da aldeia de La Bermuda, nas terras queimadas de Cuscatlán. Ela andava com sua máquina fotográfica e seu gravador, reunindo provas para denunciar que o exército joga fósforo branco contra os camponeses rebeldes. (Eduardo Galeano, O século do vento. Memória do fogo, vol. 3, L&PM Pocket vol. 909, 2010, p. 352)

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