terça-feira, 5 de março de 2013

Do Pedro do Araguaia ao Pedro de Roma


“Deixa a Cúria, Pedro”

Deixa a Cúria, Pedro,
Desmonta o sinedrio e as muralhas,

ordene que todos os pergaminhos impecáveis sejam alterados
pelas palavras de vida, temor.

Vamos ao jardim das plantações de banana,
revestidos e de noite, a qualquer risco,

que ali o Mestre sua o sangue dos pobres.

A túnica/roupa é essa humilde carne desfigurada,
tantos gritos de crianças sem resposta,

e memória bordada dos mortos anônimos.

Legião de mercenários assediam a fronteira da aurora nascente
e César os abençoa a partir da sua arrogância.

Na bacia arrumada, Pilatos se lava, legalista e covarde.
O povo é apenas um “resto”,
um resto de esperança.

Não O deixe só entre os guardas e príncipes.
É hora de suar com a Sua agonia,

É hora de beber o cálice dos pobres
e erguer a Cruz, nua de certezas,
e quebrar a construção – lei e selo – do túmulo romano,
e amanhecer
a Páscoa.

Diga-lhes, diga-nos a todos
que segue em vigor inabalável,
a gruta de Belém,
as bem-aventuranças
e o julgamento do amor em alimento.

Não te conturbes mais!
Como você O ama,
ame a nós,
simplesmente,
de igual a igual, irmão.

Dá-nos, com seus sorrisos, suas novas lágrimas,
o peixe da alegria,
o pão da palavra,
as rosas das brasa,
a clareza do horizonte livre,
o mar da Galileia, ecumenicamente, aberto para o mundo.

Dom Pedro Casaldáliga
Bispo Emérito de São Félix do Araguaia

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